8 de outubro de 2013

Só para homens

Ao me sentar no táxi e dizer o destino, já tive a primeira impressão do que me esperaria pelos próximos dois dias: “Bem longe, né, senhora? Torce para que a gente não dê de cara com o trânsito parado.”. Ao contrário do que pensamos inicialmente, até que fomos bem; apenas 40 minutos de trajeto. Porém, antes de me entregar sã e salva na recepção do hotel, avisou: “Desculpe falar, dona, mas se puder não botar a cara pra fora à noite, faz muito bem. Isso aqui fica entre três comunidades. Depois que escurece é um Deus me livre!”. Muito animador para quem precisaria ficar por ali o fim de semana inteiro.

Na recepção, ótimo atendimento, porém é tudo muito simples. A recepcionista é educada, mas não explica nada sobre a casa. Eu é que tive de cravejá-la de perguntas. Neste meio tempo, observei o movimento em volta: homens. Só homens. Um chegou, pediu o cardápio e escolheu um bauru. “Vai querer no quarto ou aqui mesmo no restaurante?”. Tudo muito estranho. Chegou outro, pediu a chave. E mais outro, sentado na poltrona, fazendo nada. Logo percebi que estava num hotel cuja clientela principal – ou exclusiva – é masculina. Mais especificamente trabalhadores das obras que acontecem próximas.

Recebi a chave, entrei no elevador e... O apartamento é 401, mas o elevador só vai até o terceiro andar. Como assim? Havia mais este detalhe para ser explicado, mas a educadinha da recepcionista deve ter pensado que hóspede tem poder de adivinhação. É ele quem tem de descobrir, por conta própria, que se deve descer no terceiro piso, procurar por uma escada e ir quase tateando, até chegar ao local chamado por ali de cobertura.

Pelos corredores, mais informações estranhas no ambiente: tapetes vermelhos, colunas revestidas por espelhos, meia luz. A resposta pra tudo isso veio quando abri a porta do apartamento: um motel. Ou ex-motel. Ou um motel que também funciona como hotel. Ou tudo-ao-mesmo-tempo-agora-neste-instante.

As acomodações são enormes para quem apenas pretende dormir e tomar banho, mas bastante satisfatórias, até porque tudo é muito limpo e arrumado. Levei, inclusive, um susto com uma puta varanda acessada por uma porta de vidro. Cadê meu lindo marido numa hora dessas?

Tudo muito legal, tudo muito bem, dormi, acordei atrasada, arrumei tudo correndo, desci o elevador e... Para tudo! Dei de cara com cerca de quinze homens numa recepção minúscula e eles, mais assustados que eu, pararam a conversa, olharam pra mim estarrecidos e nunca mais retomaram o papo. “Bom dia” pra lá, “bom dia” pra cá, café da manhã correndo, rua. E já sentadinha no busão, concluí: “Jisuis, sou a única mulher naqueles quatro andares.”. Foram vinte minutos de viagem rindo sozinha. Que situação!

É . Sou capaz de rir do equívoco que criei ao descobrir um hotel pela internet, acertar tudo pelo telefone e apostar. Apesar das surpresas, o saldo final foi bacana. Com exceção do local, que é tão feio a ponto de nem chegar na tal da varanda, consegui encontrar uma rádio decente naquela botoeira embaixo da cabeceira e dormir feito anjo no frescor do ar condicionado. Só não sei se quero voltar.
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Um comentário:

Urbano Gonçalo de Oliveira disse...

Olá! Ilariante no mínimo não e´?!!
Eu enquanto homem, tento te imaginar por la´!
Coitada!!
Bj, fica bem.