Às vezes penso que os assuntos se repetem e por isso a
dificuldade em encontrar temas para as crônicas é cada vez maior. Estava neste
exato raciocínio dia desses, quando ouvi, numa história contada numa roda, a
seguinte afirmação: “Mas eu já faço isso há doze anos e ninguém nunca reclamou!”.
Quanto de significado encontrei no desabafo desta criatura, que o fez de forma exclamadíssima,
é importante frisar.
A pessoa faz a mesma coisa há doze anos, sem mudar nenhum
detalhe, sem acrescentar nada novo, sem extrair o que não serve mais. Se não
promove nada no próprio trabalho, como será na vida pessoal? Pode ser que,
insatisfeita com sua profissão, deixe como está, enquanto cuida melhor de sua
rotina fora do escritório. Porém, custa-me a acreditar que um indivíduo não
inove de um lado seja dinâmico e criativo no outro. O temperamento é um só; a
personalidade também.
Doze anos é tempo demais. Daria pra mudar a conduta ‘trocentas’
vezes, se o objetivo fosse realmente ver algum resultado em suas ações. E dá
certa tristeza ao imaginar que possivelmente ela arraste este bonde há doze
anos apenas para cumprir a tabela, fazer por fazer, entregar a tarefa e pronto.
E, voltando à questão acima, fico até atordoada em pensar no que faz de sua
vida fora do horário comercial, se segunda à sexta: tudo minuciosamente,
sistematicamente no mesmo lugar, do mesmo jeito, na mesma hora, com as mesmas
pessoas, falando as mesmas coisas, ouvindo as mesmas músicas, indo aos mesmos lugares,
emitindo as mesmas opiniões, a casa da mesma cor, a decoração intocada, a mesma
comida, o mesmo estilo de roupa, o mesmo cabelo, os mesmos defeitos, as mesmas
limitações, o mesmo marido, ops.
Indo mais adiante, se esta pessoa faz a mesma tarefa, do
mesmo jeitinho, há doze anos, como seriam os chefes anteriores, aos quais se
refere quando diz “nunca ninguém reclamou”? Iguais a ela? Indiferentes? Ou o trabalho
dela seria inócuo, a ponto de os chefes sequer se darem ao trabalho de criticar?
“Deixa como está. Ninguém liga pra isso”. Neste caso, não foi demitida por quê?
Agora, com um supervisor novo, está sendo cobrada, exigida, chamada à atenção
para a necessidade de avançar, fazer diferente, criar. O problema é que não sabe
como promover mudanças, o que sabe é retomar sua posição de inércia ao
assegurar que não precisa alterar nada, “porque ninguém nunca reclamou”. Chega
a dar dó.
E mais perguntas pipocam na minha cabeça: o público a
quem dirigia sua atividade também nunca reclamou ou simplesmente ignorou, já
que não via nada de atrativo no que ela fazia? E as avaliações de resultados
jamais demonstraram que suas ações eram vazias?
Há pessoas para as quais mudar é sofrimento, algo penoso.
Tão amedrontador que parece ocorrer certo bloqueio. Não conseguem perceber que precisam,
urgente, trocar de lugar! E a mudança nos conclama a todo momento, hoje,
amanhã, às seis, ao meio-dia, tarde e noite, finais de semana, em qualquer
lugar, em qualquer atividade. Mudar exige esforço para sair de um ambiente
seguro para pisar em outro, desconhecido. E elas seguem cometendo suas reprises;
seus rostos e expressões são reveladores do mais do mesmo que são suas vidas.
O medo de mudar se opõe ao que se poderia justificar como
opção: “Ah, a pessoa escolheu ser assim. Cada um na sua!”. Será? Observando a
história em questão, simplificar desta forma seria no mínimo inadequado, pois a pessoa nem percebe que o que faz já não serve. E isso não é escolha; é cegueira. Agora está
sendo apertada contra a parede para sair da posição de quase nada para alguma
coisa. E então, aí, sim, vai precisar optar.
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