tag:blogger.com,1999:blog-53884290332465937092024-03-13T08:21:07.050-03:00Giovana DamacenoGiovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.comBlogger667125tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-61210960974125125662017-10-18T00:05:00.000-02:002017-10-18T00:05:19.869-02:00Mulherio das Letras <div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: large;">Um marco histórico cravado em João Pessoa</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-ZEzBNgvvIOE/Wea2fW_INZI/AAAAAAAA29I/brz4Y9se29oIj0seoET8ZYvhW19-F-eQQCLcBGAs/s1600/22449749_1503914183020704_217535621098967433_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="561" data-original-width="485" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-ZEzBNgvvIOE/Wea2fW_INZI/AAAAAAAA29I/brz4Y9se29oIj0seoET8ZYvhW19-F-eQQCLcBGAs/s320/22449749_1503914183020704_217535621098967433_n.jpg" width="276" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Durante quatro dias em João Pessoa tentei, todas as noites,
escrever sobre o nosso encontro. Os dedos permaneciam em prontidão, aguardando
alguma mensagem do cérebro que pudesse ser decodificada e transformada em
palavras, mas nada saía. Os dias por lá terminaram, retornei à casa e o turbilhão
de informações e sentimentos perduram. Descansada no sofá revejo fotos,
acompanho as postagens das novas amigas de infância, sinto saudades de cada
frase dita, cada abraço, risadas, os papos intermináveis sobre as obras de uma
e de outra, a ansiedade por cada evento da programação, a vontade de me
desdobrar em três, quatro ou mais, pra não perder nenhum deles.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sento diante do computador e as palavras permanecem
agarradas. Penso que não queiram ser ditas agora, porque já o foram à exaustão
nos últimos dias. Penso nas pessoas incríveis que conheci pessoalmente e talvez
as palavras não ecoem, por terem ecoado em gestos e sorrisos. No entanto, percebo
é que as palavras não saem porque não as encontro. Busco, remexo, rastreio e fico
sem saber o que dizer de Henriette Effenberger, a quem abordei na porta da Casa
de José Américo para me apresentar e contar que ela tem o mesmo nome de minha
irmã. Falta vocabulário suficiente para falar de Rosângela Vieira Rocha, que
conheci por acaso, na Flip, e que em João Pessoa já nos sentíamos amigas de
longa data. Sinto-me completamente incapaz de descrever o tanto que nossa
mentora Maria Valéria Rezende me sacudiu por dentro, e por tabela, a irmã,
Viviana Rezende, que nos trata com intimidade logo no primeiro contato. Como
definir Stella Maris Rezende, Marilia Kubota, Solange Padilha, Líria Porto, Márcia Maia, Rosana
Chrispim, Cris Nobre, Valeska Asfora, Tati Fraga, Tereza Andrade, Jeanne Araujo, Patricia Porto, Clara Arreguy?
Como retratar o que senti e sinto por Nic Cadeal? Realmente me faltam palavras.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que posso dizer, então? Que iniciamos um movimento
histórico.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O grupo de mulheres escritoras, que com Maria Valéria
arregaçou as mangas para reunir o Mulherio das Letras na Paraíba, cravou um
marco na trajetória da literatura do país. Éramos poucas, diante de um universo
gigantesco de autoras invisíveis Brasil afora, porém éramos muitas, pois apesar
de todos os empecilhos para encarar uma aventura de tal porte, estávamos lá,
dispostas a mudar o rumo dessa prosa que até agora privilegia o universo
masculino, seja nas editoras, nas prateleiras das livrarias, na imprensa em
geral. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como ficou bem combinado desde sempre, a organização do
encontro foi horizontal. Cada uma fez sua parte, para mais, para menos, dentro
das possibilidades. O resultado foi um evento que se estruturou conforme foi
acontecendo. Um exemplo, logo no dia da abertura: Tati Fraga sentou ao meu lado
e de outras companheiras e perguntou quem poderia colaborar na cobertura para a
página do Mulherio. Eu e mais algumas topamos e a partir do primeiro dia pude
ajudar com fotos e notas da programação. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No fim das contas, ouso dizer que todas nós organizamos e
realizamos o Mulherio em João Pessoa. Relatei isso num comentário na rede
social e repito aqui: as autoras montaram suas próprias mesas para venderem
seus livros, nós todas puxamos e carregamos cadeiras e mesas, mulheres que
fizeram suas performances prepararam praticamente sozinhas seus ambientes,
todas trabalhamos de alguma forma na divulgação. Todas fizemos de tudo um
pouco. E é desse modo que acredito na construção de um movimento.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Experiências existem para que se tire delas o melhor, e
desse melhor fazer ainda melhor. Abrimos nós mesmas o nosso nicho e dele
ninguém mais nos tira. Descobrimos que podemos contar umas com as outras, ler
umas às outras, e que somente agindo assim, coletivamente, ganhamos e
garantimos a força necessária para que a literatura escrita por mulheres ocupe
o espaço que é seu por direito. Como bem diz Maria Valéria Rezende, “não temos
de pedir permissão pra ninguém”. É isso.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-32296851710389519252017-09-18T17:56:00.001-03:002017-09-18T17:56:05.348-03:00A hipocrisia fede<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-I6mp3BqvR2k/WcAyo4I_xlI/AAAAAAAA1-4/-fKwzir8i-MtNjD4dlev4Kv9KDALXd3XACLcBGAs/s1600/a96cfb467391fe599016de58feb9ce01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="400" src="https://4.bp.blogspot.com/-I6mp3BqvR2k/WcAyo4I_xlI/AAAAAAAA1-4/-fKwzir8i-MtNjD4dlev4Kv9KDALXd3XACLcBGAs/s400/a96cfb467391fe599016de58feb9ce01.jpg" width="300" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;">Quando era
criança, até pelo menos uns dez anos de idade, minha mãe determinava a hora de
dormir. Quase nunca passava das nove. Não tinha “Ah, mãe!”. Era vai deitar, tá
na hora, leite e cama. Raras vezes podia esticar um pouco, quando tinha visita em
casa, às vezes aos domingos, mas a rotina era a de encerrar cedo a função. Minha
mãe dizia “Não!” com tamanha segurança, que não deixava clima e nem espaço pra
retrucar; a gente simplesmente obedecia. TV? Só desenho animado, de manhã,
sessão da tarde, se não tivesse dever de casa, e novela das seis ao lado dela.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tal modo de
determinar regras talvez fosse um meio de evitar que visse coisas que ela não
queria que eu soubesse, como sexo, violência, morte, outros valores que não os
dela ou, ainda, algo que ela não quisesse ou não soubesse explicar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Fosse o que
fosse, a escolha sempre foi dela e do meu pai em definir os rumos da educação
dos filhos. Hoje discordo e muito da criação que tive e dos valores que me
foram passados, porém concordo com a firmeza em decidir o que fazer, como fazer
e bancar o que determinavam. Eram pais e assumiram com tudo a responsabilidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
É notável e
cansativa a discussão a respeito atualmente. Pais e mães, sem o menor
constrangimento, expõem para o mundo que entregam a educação dos filhos para programas
de televisão e reclamam nas redes sociais de novelas, filmes e desenhos
animados. Não acompanham, não veem, não limitam, não dizem “não pode”, e a
culpa pelo “errado” que os filhos assistem é da TV. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Também os
protegem de conhecer a vida. Também os escondem dentro de ambientes pseudoseguros.
Pensam que as crianças vão crescer sem saber o que é sexo, drogas e rock in
roll. Eles não só vão saber como vão aprender sozinhos, com colegas da escola
ou nos canais proibidos que acessam quando não há ninguém em casa ou no youtube
pelos seus celulares. Também não
conversam - é mais fácil esconder, não falar, não explicar, não mostrar o que
ocorre na realidade e xingar e esbravejar contra a programação das TVs,
exposições de arte, música, filmes e o escambau.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Com cinco anos
meu filho ouviu de um amigo na escola como um casal fazia filhos. Chegou em
casa e logo perguntou: “Mãe, como é que faz isso? O fulano disse que...” Sentei
com ele e expliquei, na melhor linguagem possível para o entendimento de uma
criança dessa idade. Com o tempo foi entendendo mesmo, com todas as letras. Aos
nove anos me perguntou como os homossexuais faziam sexo. Devidamente explicado,
ali na hora, tim-tim por tim-tim. Soube o que era pra saber e obtive como
resposta apenas um “Ah, tá”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Meninas de
treze, quatorze anos, de classe média, estudantes de colégios particulares caríssimos
estão fazendo aborto. Meninos a partir de onze anos, de mesma classe e escolas
estão sendo apresentados à maconha, ao LSD. Em festas de quinze anos não é
difícil encontrar embalagens do famoso docinho nas lixeiras dos banheiros. Ouvi
há poucos meses, da boca de um ginecologista, olhos nos olhos, o quanto ele ficara
assustado ao atender, numa segunda-feira, uma menina de treze anos, classe
média de bairro de rico, toda machucada por ter disputado com as colegas quem
delas “daria” mais na festa do clube no sábado anterior. A mãe só fez chorar
durante toda a consulta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Enquanto isso,
a hipocrisia está nas redes e nas ruas cuspindo discursos morais completamente
fora de contexto para a realidade que se vive no momento. É justamente o que
parece não se ter em casa que tem levado a situações tão preocupantes, tanto de
crianças sexualizadas e drogadas tão cedo, quanto de pais e mães que, cegos
para a própria realidade familiar, saem por aí agitando a bandeira da moralidade.
No mínimo uma incoerência pra lá de lamentável.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-67003934281198345882017-08-04T23:59:00.000-03:002017-08-05T14:53:53.040-03:00Entre as mulheres da minha vida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-y4VNcu7RHHc/WYU0WWQwAZI/AAAAAAAA1IY/yxH-cMHBanYTkUN7zcJALlcpNjuj56XIgCLcBGAs/s1600/face-1905114_1280.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="822" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-y4VNcu7RHHc/WYU0WWQwAZI/AAAAAAAA1IY/yxH-cMHBanYTkUN7zcJALlcpNjuj56XIgCLcBGAs/s320/face-1905114_1280.png" width="205" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;">Edméa é o nome
dela. Negra, sorrisão, cabelos crespos, sempre presos ou poucas vezes alisados
com henê, soltos na altura dos ombros. Baixinha, magra, muito ativa, andava de
um lado pra outro, resolvendo a vida. A própria, a do marido, das filhas e de
todo mundo que com ela buscasse socorro. Morava na periferia da periferia da
cidade, numa casa própria, porém de infraestrutura precária. Ela e o companheiro
se completavam na rotina de trabalho duro para dar o mínimo de dignidade às
meninas: estudo, roupa, comida, cama, chuveiro quente. Era umbandista. Atendia em
casa, com suas entidades, ao povo necessitado de apoio espiritual, um
trabalhinho pra arrumar emprego, pra curar doença, pra trazer amor de volta. Não
tinha hora nem dia pra levar ajuda a qualquer pessoa que necessitasse.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Edméa não é
mais deste mundo. Partiu nem sei mais há quantos anos. Foi continuar seu
trabalho de caridade na outra dimensão; não saberia ficar à toa nem no paraíso.
Está presente em boas memórias de infância, quando era merendeira da escola
pública e todas as vezes que minha mãe me mandava lá, me recebia com um pote de
arroz doce. Nunca mais comi arroz doce como o dela; nem minha mãe conseguiu
reproduzir a consistência e o sabor. O largo sorriso volta e meia aparece na
mente, como se ela mesma, em pessoa, se materializasse. Sorrio quando revejo na
mente o olhar de menina que acompanhava suas risadas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Uma das
melhores amigas de minha mãe. Era assídua em casa, sentada à mesa da cozinha,
com o copo de café na mão esquerda e o cigarro aceso na direita. Falava sem parar,
enquanto minha mãe cuidava do almoço. Gostava de todos nós e me paparicava, a
única criança da família naquela época. Se preocupava com meus irmãos,
perguntava por todos. E a nós, também socorria espiritualmente. Bastava pedir. Certa
vez torci o tornozelo na escola e após o tratamento médico, continuava sentindo
dores. Edméa benzeu meu pé, religiosamente todas as semanas, até eu afirmar,
com certeza, que não doía mais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O coração não
lhe cabia no peito. Mal tinha pra si, mas vivia de oferecer aos outros, de se
doar. De educação deficiente, não sabia resolver as encrencas em família com
calma e serenidade: brigava, esbravejava, chinelo voava em cima das crianças.
Vizinhança a escutava de longe, quando o pau quebrava na casa da Edméa. Era assim
que sabia fazer e nada disso lhe tirava a quantidade de amor que levava na
alma. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Fazia festa no
dia de Cosme e Damião, preparava um bolo confeitado do tamanho da mesa, doces,
balas, pirulitos e guaraná. Enchia a casa de criança, incorporava a Mariazinha
e ia pro quintal brincar com a gente. Aquilo era engraçado e estranho ao mesmo
tempo, pois não entendia direito aquela transmutação: Edméa de saia rodada,
cabelos presos numa maria-chiquinha, com laços de fita cor-de-rosa, descalça, brincando
de pique, com um pirulito na boca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Muito antes de
chegar a velhice, o coração grande de Edméa não deu conta do agito que era a
vida dela. Ficou fraco e lhe roubou a disposição. Não demorou e Edméa se
despediu da existência. Foi brincar de pique com as crianças do outro mundo. Lembro
do choque da notícia, da minha mãe triste, no entanto não chorei. Parece que
passei a dor adiante. Não fui ao velório, não vi o corpo descer à sepultura.
Ela é Edméa e está aqui, nesse sorrisão que que me aparece com frequência. Sempre
na hora certa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-68053120154231679222017-08-02T23:46:00.000-03:002017-08-02T23:47:49.423-03:00De ontem pra hoje<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-LwMHWUrL0Ns/WYKONYHM5WI/AAAAAAAA1Gk/wypJBjbA83kfaCtawy6UjNb8oZIi9T1vgCLcBGAs/s1600/person-802075_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1068" data-original-width="1600" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-LwMHWUrL0Ns/WYKONYHM5WI/AAAAAAAA1Gk/wypJBjbA83kfaCtawy6UjNb8oZIi9T1vgCLcBGAs/s320/person-802075_1920.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;">Há momentos específicos
em que recordações de infância retornam aos borbotões. Se já não soubesse algo sobre
as rasteiras do inconsciente, diria que me chegam do nada. Só que não. Com a
idade próxima dos cinquenta, é inevitável o retorno no tempo, para devidas
avaliações e revisões, mesmo sem fazer esforço. A cabeça vai lá, cada dia
visita uma situação, traz pro agora, mistura tudo e com o resultado posso tentar
saber o que fazer adiante. Muitas vezes não sai coisa boa. Mergulhar na memória
é ação de alto risco: levanta remorsos, arrependimentos, dores, perdas.
Reafirma a falta de coragem para enfrentamentos tantas vezes necessários.
Mostra numa telinha o que não foi realizado. Aponta as oportunidades que
passaram e sequer foram percebidas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Não era a
intenção o lamento. Cenas de infância têm me retornado com certa frequência, porém
não me motivam a discorrer sobre dias felizes, brincadeiras sem fim, amigos de
rua, brincar descalça na lama depois da chuva. Falo de desejos alimentados
durante a existência e que não se tornam palpáveis. A gente quer ser tanta
coisa, quer ir a tantos lugares, quer fazer de tudo um pouco e as horas voam e
as obrigações são em maior número que a quantidade de dias que a vida proporciona
pra criar, produzir, executar planos e projetos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Lembro agora
da última conversa sobre desejos que tive com minha irmã, dois meses antes dela
morrer. Era como se fosse a mãe amiga, companheira, e desse lugar me cobrou um
posicionamento mais seguro diante do mundo. Longe de ser ela mesma uma rocha,
queria me ver de queixo pra cima, transformando meus desejos em realidade,
pisando firme na terra, dona do meu nariz, independente, autônoma, bem
sucedida, material e emocionalmente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ser mulher não
ajuda. São inúmeros os mandatos impostos, muito peso colocado nas costas à
saída do ventre, antes mesmo de ver a luz. Não pode isso, não pode aquilo, é
feio, é pecado, obrigação com a casa, obrigação com a família, arte não dá
sustança pra ninguém, tem que estudar pra ter emprego (nunca pelo conhecimento!),
não pode rir alto, falar alto, opinar, questionar, não querer, não se obrigar, deve
ser obediente, cordata, se submeter, vai casar, ter filhos, depender e se
sujeitar ao marido e muitas etcéteras. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Antes de
organizar a cabeça pra começar a fazer planos, é preciso brigar contra todos os
encargos e ordenações, o que demanda tempo, paciência (às vezes nenhuma), rompimentos,
solidão, medo, adiamentos, desistências, longas pausas, e muitas vezes parada
definitiva. Quando vê, passou. A saúde não é mais a mesma, o vigor físico ficou
lá atrás, os desejos têm de ser repensados, remanejados, substituídos. E agora?
Qual o sentido disso?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Entendo quem
vive de lembranças. Cumpre os compromissos da vida e passa o resto dos dias
voltando atrás. Minhas próprias lembranças, penso que as bloqueei. Uma névoa
encobre a maioria delas; quando parto em busca, vejo-me em meio à bruma densa. Diviso
fragmentos, nada inteiro, nítido, completo. Dizem que me aproximo da idade em
que a memória começa a criar. Talvez seja boa oportunidade de recriar o roteiro
das cenas para encaixar nas partes soltas e compor narrativas inéditas. Seria
perfeito se de um novo passado pudesse se desenhar um novo futuro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Pelo menos nas
madrugadas, enquanto o corpo repousa, o inconsciente – ou espírito – passeia bastante.
É quando vou onde quero, encontro pessoas que nunca vi, vivo intensamente histórias
originais, entabulo longas conversas, realizo. Mas, sobre minhas noites, já é outra
a prosa. Depois eu conto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-82287012292568027322017-04-03T18:37:00.001-03:002017-04-03T18:37:12.208-03:00Gatos fazem o que querem... ops, nem tanto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-IFoeviu7axo/WOLAcVhTlLI/AAAAAAAAzk4/dqJosjKscFEO9LgXzlzG02mi2737ScbagCLcB/s1600/20170126_132119.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://4.bp.blogspot.com/-IFoeviu7axo/WOLAcVhTlLI/AAAAAAAAzk4/dqJosjKscFEO9LgXzlzG02mi2737ScbagCLcB/s320/20170126_132119.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Toda noite é a mesma coisa: quando ouvem o ruído da
primeira janela sendo fechada, começam a retornar do quintal. Há quem diga que
gato não se educa, pode ser, mas eles se acostumam com a rotina e sabem, por
instinto, que necessitam dos hábitos diários, para garantir a comida, a água, a
cama quente e o cafuné. Quando as janelas se fecham, quem ficar do lado de lá vai
passar perrengue.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Filó é quem mais conhece sobre passar a noite fora. E de
tanto sair correndo ao invés de entrar quando chamada, ficou no quintal
diversas vezes, até entender que janela arriando é sinal de baixar a bola,
caçar o rumo de casa e entrar pra dormir (ou não).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Chico é muito apegado à comida. Tanto, que aprendeu mais
rápido que a Filó. Quando chego na janela, se estiver do lado de fora, põe-se
em alerta no banco da varanda. Chora, mia, faz manha e, como não tem jeito,
cede. Vou descendo a janela devagarzinho, ele roça os bigodes na grade, em
seguida a cabeça, pata após pata e o salto no chão. Mais esperto que a Filó,
sabe dar a volta por cima do telhado ou pelo muro da vizinha e entrar pelos
fundos. Se estiver chovendo, estará em apuros, por isso preferiu se acostumar
com os horários dos humanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Gatos são selvagens, ainda não estão totalmente adaptados
à domesticação. Já dependem da comida dada, porém não perdem a independência e
o temperamento altivo. Fazem o que querem, na hora em que querem e do jeito que
querem. Não adianta insistir em domá-los. Por outro lado, são capazes de se
adequar perfeitamente aos costumes da família.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Flora sente o momento em que vou subir para dormir e fica
de prontidão no primeiro degrau da escada. Ao menor movimento meu, sobe
correndo e me aguarda na porta. Abro, ela vai para debaixo da cama, espera que
seja aberta a porta do banheiro. Salta na pia e com um miado chorado, pede água
da torneira. Parece sede de uma semana. Enquanto tomo banho, ela se satisfaz.
Depois, deita no tapete, assiste ao meu banho e por ali fica até de manhã, quando
também desperta e desce comigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Zoraide é minha Garfield. Come, dorme, faz suas
necessidades, toma sol. Tem preguiça de pular a janela; às vezes fica na porta,
pedindo para entrar ou sair de casa. Aparenta não atentar para o mundo a sua
volta, embora saiba sempre onde estou e anda atrás. Se me sento no sofá na
sala, ela vai pro tapete; se estou na cadeira do quintal, se aproxima e deita
perto; se trabalho à mesa do escritório, ela deita no meu pé. Não gosta de ser
comandada, como a Flora, no entanto reconhece, como os outros, a hora de se
recolher. Basta que se diga “bora!” e ela atravessa sala e copa, passa pelo
buraco da grade da área e encontra a cama.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Durante a noite, os quatro sabem que a comida fica na
área de serviço. De manhã, esperam seus pratos no chão da copa. Quando terminam
de comer, as janelas estão novamente abertas e bora se refestelar no sol!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Comecei a desenhar esse texto, enquanto aguardava a
última entrar. Sim, a Filó, enrola do lado de fora, se fazendo de difícil. Logo
entra desfilando na cozinha, olha na minha cara, mia. Acabei falando de cada
um, porque fazem a minha alegria diária, são brincalhões e, mesmo brincando,
são parte do meu silêncio. Prezam sua independência, autonomia e liberdade, ao
mesmo tempo em que demonstram amor incondicional a quem tem condição de perceber
esse amor e se dispõe a recebê-lo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-72172373055603609152017-02-16T18:03:00.002-02:002017-02-17T20:45:43.047-02:00Tem um homem pelado lá dentro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-vuCDbPDp0Fo/WKYFT364j0I/AAAAAAAAyoI/383DybKAEvIYVorQMJ-yRbOtpt8Syiu6wCLcB/s1600/relax-151841_1280.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="160" src="https://2.bp.blogspot.com/-vuCDbPDp0Fo/WKYFT364j0I/AAAAAAAAyoI/383DybKAEvIYVorQMJ-yRbOtpt8Syiu6wCLcB/s320/relax-151841_1280.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Chego para a minha aula de pilates, junto com a
fisioterapeuta, já colocando o papo em dia, quando o rapaz do lado de lá da
grade alerta:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">- Ih, vocês não vão poder entrar, não!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A chave nem chegou a girar na tranca do portão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- O que houve?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- O cara tá apagado, bebeu muito. E tá pelado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> - Pelado?!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sim. Havia um homem lá dentro, dormindo. Na verdade,
desmaiado de bêbado. É proprietário do imóvel onde funcionava o estúdio. Deve
ter chegado arriado, bufando de calor, entrou direto, sem pensar (de que
jeito?) tomou uma chuveirada e desabou na cama do aparelho de exercícios. Sem
roupas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O moço, constrangido, ainda insistiu. Aguardamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> - Chamei,
cutuquei, mexi nas pernas. Ele não acorda, não.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Como é que a gente faz?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Não faz. Ele não vai sair.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A solução oferecida pela fisioterapeuta foi fazer a
aula de pilates na minha casa, proposta imediatamente aceita. Não faltou nenhum
dos sentimentos normais diante de um cenário tão esdrúxulo: espanto, raiva pela
falta de respeito e pela total desconsideração com a pessoa que utiliza e paga
pelo espaço, frustração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aula feita, passo a repensar sobre o episódio.
Conheço o sujeito que dormia no estúdio. Mora nos fundos e está sempre por
perto, perambulando aqui e ali. Um tipo grandão, corpulento, bem alto. Fala
grosso, mas nunca nos destratou. É desleixado, sujo. Além de beber, fuma muito
e por isso cheira mal. Respira tão ofegante, que a gente ouve à distância. Jamais
demonstrou respeito com o local de trabalho dos outros. Entrava e saía quando
bem entendia, com ou sem alunos em atividade. Minha fisioterapeuta já reclamara
sobre essas liberdades. Deu em nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">As pessoas da família parecem imperturbáveis. Que se
dane o cara e também se danem a profissional e seus alunos. O rapaz que nos
atendeu chamou duas vezes e, sem sucesso, simplesmente disse “Ele não vai sair”,
com uma expressão de que estava tudo bem. Ou seja, f-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Voltando ao meu repensar: acabei rindo da situação. Imaginei
aquele tipo grosseirão pelado, dormindo a altos roncos, babando, totalmente à mercê
do álcool correndo nas veias, em plena cama de exercícios. O que me restou foi
dar muita risada pelo inusitado da coisa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Desplante à parte, não voltamos mais. O fim já estava
próximo e, suponho, o caso do homem pelado foi a gota d’água, ou melhor, de
álcool. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-64573452888834315902017-01-22T22:24:00.000-02:002017-01-22T22:24:07.726-02:00Quarenta e duas rosas brancas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-ZkLBhPAVSpw/WIVL_hlOo1I/AAAAAAAAyIQ/eSBksrFwa7wJHTzQXVgxkZdnmP0aK1KigCLcB/s1600/roses-1750801_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-ZkLBhPAVSpw/WIVL_hlOo1I/AAAAAAAAyIQ/eSBksrFwa7wJHTzQXVgxkZdnmP0aK1KigCLcB/s320/roses-1750801_1920.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Assisto
à chuva pela janela e me lembro da mulher que jogou quarenta e duas rosas
brancas para Iemanjá à meia-noite do dia 31 de dezembro. Sob a tempestade, lá
estava, segurando com uma das mãos o guarda-chuva – que não guardava nada –, e na
outra, a sua oferenda. Ajoelhada à beira d’água, fez sua prece, agradecendo por
estar viva, por ter conseguido retornar àquele lugar, depois do ano que passara.
Jurou que voltaria, porém era incerto. Da última vez que estivera ali, despediu-se
com pesar. Olhou para o mar com lágrimas na face: “Eu vou voltar”. Foi quando
fez a promessa à rainha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Quarenta
e duas rosas brancas. Quarenta e dois anos completara dias antes de encerrar o
mês. No começo do ano, sem saber se teria um aniversário novamente, ofereceu o
mesmo número da idade que faria em quantidade de rosas para Iemanjá, para que
pudesse vencer a adversidade que a acometera e regressasse ao seu recanto de
repouso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">A
cada rosa, um agradecimento. Ou um pedido. Sem parar de chorar, sozinha na
chuva forte, gritava suas orações com os braços abertos e os olhos para o alto.
Chorava e sorria. Chorava e soluçava. Demorou. O temporal deu uma trégua, à
medida que os soluços foram se espaçando e o pranto se tornou silêncio. Corpo
molhado, joelhos na areia, deu mais um suspiro de gratidão e se ergueu devagar.
Cumprira o ano, a promessa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Quarenta
e duas rosas. Quarenta e dois anos enfim completados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Poderia
fazer planos, curtir e celebrar a vida, tomar sol, optar pela forma que
gostaria de se conduzir, apreciar sua cerveja, fazer sexo inteira, viajar sem
temor, reaprender a ser dona do próprio corpo. Reaprender tanta coisa...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Anos
se passaram e, em uma conversa recente, acabou por relatar esse episódio
(dentre vários ocorridos naquele ano). E foi tão marcante verbalizar o que
vivenciara no réveillon à beira-mar, que a mente se abriu para outros detalhes dessa
experiência. O tempo não parou e a mente também não. Há muitas questões
enterradas no inconsciente, sendo exumadas de pouco em pouco. Há muito que
fazer com as informações que agora vêm à tona. É preciso que descubra uma forma
de desconstruir os reveses, para viver plenamente – se é que isso é possível. É
preciso descortinar o poder de transformar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Vai
ter um bocado de trabalho pela frente, a mulher. A chuva lá fora me traz à
memória aquela noite de afirmação, de sua expressão determinada, com os olhos no
horizonte escuro de temporal. Ela segue seu rumo, caminhando devagar, com os
pés cravados no chão, fazendo de cada dia um, na complexidade da existência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-47829397191128921862017-01-21T20:39:00.000-02:002017-01-21T20:39:00.382-02:00Cebola, não<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-XMGN7C_UmH0/WIPimlX-PrI/AAAAAAAAyGk/1RaGHywRwG0a6xdDUtN8WsulTUBBSrA7ACLcB/s1600/onion-1068287_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-XMGN7C_UmH0/WIPimlX-PrI/AAAAAAAAyGk/1RaGHywRwG0a6xdDUtN8WsulTUBBSrA7ACLcB/s320/onion-1068287_1920.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">De que você não gosta de comer? Pense; sempre há
algo insuportável ao paladar. Eu, por exemplo, detesto cebola. Não curto outras
coisas também, mas de todas, a mais horrorosa é a bendita da cebola.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Por quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Como a uva passa no Natal, cebola está em todas. É
figurinha carimbada na cozinha, seja crua, cozida, em picles, frita, assada,
confitada, refogada. Pode ser picadinha, fatiada, em rodelas ou mesmo inteira.
Não há quem cozinhe sem a danada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nem eu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A comida de forno e fogão não sai sem cebola. Nos
refogados e cozidos, claro. Não há frango sem cebola, nem feijão, nem arroz. E
só. Crua, sem chance. Sinto ânsias só de imaginar meus dentes estalando um
pedaço ou mínimo cisquinho dela. Sério: tudo o que já estiver dentro volta, se
mastigar cebola crua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Então, sofro com os exageros, como no caso das uvas
passas no Natal. Quem gosta de cozinhar com cebola, não deixa por menos: é
cebola na salada de folhas, na farofa, no caldo da moqueca, no macarrão, no
sanduíche, na maionese, no salpicão, no caldo verde, no hot dog, na sopa, no
pirão!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Estava aguada por comer um pirão de peixe e eis que
chega diante de mim uma cumbuca de pirão de cebola. Pedaçudas, gordas, al
dente, estalando, fazendo crec. </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Como reclamar? Só me resta não pedir de novo; não no
mesmo lugar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Poucos se dispõem a compreender o desgosto dos
outros com algum ingrediente. Quando quero pedir um prato e esse é servido com
cebolas cruas, para que me chegue sem as tais, digo bem séria ao garçom: “Por
favor, escreva bem grande aí no seu bloquinho que sou alérgica”. Não sendo
assim, passo por fresca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já vivi situação desagradável em um almoço
comunitário, numa instituição religiosa (onde se espera a complacência dos
nossos pares). Ao me servir, senti do alto o aroma inconfundível de muita
cebola fresca picada na maionese. Preferi nem tentar, o que suscitou a
curiosidade em torno: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Não vai comer?”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">“Não, tem muita cebola e eu não gosto.”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Foi o suficiente para virar tema de deboche e de
olhares e narizes torcidos no resto da festa. Por isso, pergunto: do que você
não gosta? Pensando no que não comeria de jeito nenhum, seria capaz de
respeitar a outra pessoa que odeia o que você, de repente, adora? E a partir
daí, poderia pensar, por favor, em não picar dúzias de cebolas em todos os
pratos preparados, assim como fazem com as uvas passas na ceia de Natal.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A gente agradece. Sim, a gente. Tem mais um monte
por aí.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-22541724948723553492016-10-19T13:02:00.002-02:002016-10-19T13:04:31.430-02:00Quem viver será<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-2DkVVXBv7yM/WAeKxUq8jaI/AAAAAAAAxFw/hmUCGkJwZg8e0aBGsUOkAHjLQcoOmRBaQCLcB/s1600/14705771_1216410381750959_7222400963940743983_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-2DkVVXBv7yM/WAeKxUq8jaI/AAAAAAAAxFw/hmUCGkJwZg8e0aBGsUOkAHjLQcoOmRBaQCLcB/s320/14705771_1216410381750959_7222400963940743983_n.jpg" width="290" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Fui convidada para compor a comissão julgadora de um
desfile. Não de mulheres e homens lindos, jovens e sarados, candidatas à beleza
disso ou daquilo, mas um desfile de idosos. Aceitei de bom grado. O evento
reuniria internos das instituições da minha cidade, uma ação para elevar a
autoestima, integrá-los, socializá-los. Era perto da minha casa e o convite
veio da Bruna, pessoa que merece meu respeito, pelo trabalho que desenvolve com
essas pessoas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Confesso: não estava preparada para o que iria
assistir. Não pensei, não avaliei, não imaginei nada antes de chegar ao local
do encontro. Apenas cheguei. E da porta do salão, vi descerem das vans a
vontade de ser, de estar, de desejar, de fazer. Caminhando devagar, ajudados
por cuidadores ou apoiados em andadores, lá estavam o futuro de muitos de nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não foi choque, tristeza ou pena. Foi constatação do
que poderá vir a ser pra mim e pra tantos outros. A cada um que subia os
degraus, pensava em alguém que conheço, na sua vez de ficar velho; via-me na
minha vez. E questões de todas as grandezas pululavam na cabeça: como será
comigo? Vou andar de muletas, de andador? Estarei saudável até quando? Perderei
minha lucidez? Serei uma velhinha supimpa ou melancólica? Serei desejante? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A plateia foi se acomodando, enquanto os
concorrentes aguardavam no fundo do salão. Os homens de um lado, silenciosos, e
as mulheres entregues aos cuidados de uma equipe de maquiadoras, manicures e
cabeleireiras. Era nítida a expectativa. Por outro lado estavam confiantes,
prontas para enfrentar os olhos da comissão julgadora. Quem concebe tal
cenário? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando falamos em idosos que vivem em asilos, logo
pensamos em velhos doentes, decrépitos, abandonados pela vida, terminando seus
dias na companhia amarga da solidão a que foram entregues. Digamos que não seja
assim, invariavelmente. Há meios de fazer diferente, não que seja fácil, no
entanto é possível. Fiz uma </span><a href="http://www.giovanadamaceno.com/2014/01/um-papo-pitoresco-em-tarde-de-calor.html"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">palestra
anos atrás no Residencial Vila do Sol</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">, e saí de lá surpresa
e grata pelo que vi e experienciei com os hóspedes (como são chamados). Não são
tratados como velhos inúteis, ao contrário, o objetivo das equipes é fazer com
que se sintam em casa, de verdade. Podiam levar móveis e objetos de valor (uma
senhora levou o piano!), um deles saía sozinho para ir ao mercado, padaria,
farmácia... Havia festas, música, dança. Notei que eles desejavam e desejar é
viver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um amigo se compadeceu daquelas pessoas presentes no
evento. Cá com meus cachos tentei compreender. Estar num asilo nem sempre quer
dizer que está abandonado. Há, sim, muita maldade humana envolvida, contudo há
casos de precariedade tão descomunal, que a única solução para a família é
internar seu idoso, pois somente desse modo pode ser bem assistido. Há ainda pais,
mães, maridos despóticos que ganham em troca esse destino na velhice (ou são
ignorados dentro de casa mesmo. Ou, ainda, exaurem seus companheiros e
companheiras cuidadores e a saúde de todos é comprometida. Assisti a uma cena
que retrata esse tipo de relação e </span><a href="http://www.giovanadamaceno.com/2013/06/sala-de-espera.html"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">relatei
numa crônica</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> um tempo atrás). Não se deve julgar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E então eles desfilaram! Entravam pelo fundo do
salão e percorriam o tapete vermelho, em direção à mesa da comissão julgadora.
Uns tímidos, outros sorridentes, dançando, no andador (!), porém afirmando suas
potências. Queixos erguidos, altivos, se apresentavam aos jurados e retornavam,
ovacionados por amigos na plateia. E nós ali na mesa, meio abobalhados. Saí do
chão várias vezes, a ponto de me perder e não ouvir o nome do próximo a
desfilar. Era uma história inteira que se criava na minha mente, quando viravam
as costas e retomavam o percurso de volta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não me satisfaço com definição alguma para a
velhice, como também não tenho a minha. Encarada como o fim, poderia ser um
recomeço. Por que não? Os desejos reprimidos são liberados (permitidos pela
mesma sociedade que os reprimiu), há uma liberdade indizível e uma sabedoria
que não chegam a alcançar o nível consciente. Mas estão ali: no sorriso, no
brilho e na profundidade do olhar, na gratidão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Esfregam na nossa cara que se chegarmos lá, o barco
será o mesmo para os bonzinhos, os canalhas, os caridosos, os egoístas, os
ricos, os pobres. Escancaram a realidade de que se tenta escapar com estratégias
inúteis. E sorriem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-42865450225908908852016-10-10T10:10:00.000-03:002016-10-19T13:04:56.008-02:00Annita<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-U4b_CH-nQLI/V_rqbq7dMwI/AAAAAAAAw3U/lYAeiqOgaLUnt7RJLmw07t6i-Kxq4tFRwCLcB/s1600/medications-257370_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://3.bp.blogspot.com/-U4b_CH-nQLI/V_rqbq7dMwI/AAAAAAAAw3U/lYAeiqOgaLUnt7RJLmw07t6i-Kxq4tFRwCLcB/s320/medications-257370_1920.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">A nitazoxanida é um anti-helmíntico</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span class="apple-converted-space"><span style="background: white;"> </span></span><span style="background: white;">antiparasitário, de amplo espectro, indicado para amebíases, giardíases, </span><span style="background: white;">helmintíases e ancilostomíase.</span><span style="background: white;"> Nome fantasia:
Annita.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ao observar a prateleira da farmácia,
enquanto o balconista atendia o meu pedido, dei de cara com uma embalagem robusta
cujo nome chamou a atenção. Anotei a substância pra pesquisar depois e descobri,
não sem rir um cadinho, que se tratava de um medicamento pra verme, ou vermífugo.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Que viagem! O nome de uma artista
relacionado a parasitas intestinais, desses que ficam, consomem o indivíduo. Com
o notebook no colo relaxei a cabeça no encosto do sofá e imaginei uma pequena lista
de possibilidades para algumas afecções, como a seguir: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Em caso de prisão de ventre, haveria o Jillmar,
pra soltar. </span><span style="background-color: white; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span><span style="background-color: white; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Nas diarreias, em que o
intestino fica meio apressado, a prescrição médica seria Serjio, embora fosse eficaz
apenas contra um único tipo de agente causador de desarranjos. O desconforto digestivo
- ou estômago enjoado - seria aliviado com CerRa, mas, com cuidado, porque entre
as reações adversas, poderia tornar a cabeça um tanto atrapalhada. Seria importante
ter cautela com o princípio ativo </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Alexxandrilanida
+ Moraesina</i><span style="background-color: white; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">, conhecido como Pecece, por crises intensas de pânico observadas
após a ingestão.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Haveria os fármacos traiçoeiros,
indicados para cura, quando na verdade gerariam sérios problemas, como causar apatias,
sensação de opressão e de sufocamento, sentimentos de perda e de perseguição, depressão,
demência, paralisia e até a morte. Como exemplo, o Aessius N+EV, e centenas de
outros similares, sendo Mixell o pior de todos, principalmente quando associado
a Cuña ED, poderoso potencializador de síndromes fatais, se combinado a drogas
específicas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Como a mente é um universo paralelo e
dela é possível extrair qualquer ideia, construí uma empresa farmacêutica com
condição de derrubar marcas tão perigosas para a saúde, tanto as mortais, como
as que apresentam efeitos colaterais complicadores para o funcionamento do
organismo como um todo. Foram necessários anos de pesquisa; os cientistas
tiveram de começar praticamente do zero, pois a concorrência era dominante do
mercado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já se passaram anos aqui na cachola e
nada. Nadica. Dentre os princípios ativos existentes, capazes de superar marcas
tão fortes, a maioria é inerte; as que mobilizam renovação celular não
apresentam eficácia quando agrupadas; e há ainda as substâncias cuja
aglutinação é impossível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Bora pra cozinha engolir rápido a pilulazinha
pra ansiedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-88353017651139549532016-10-04T21:37:00.001-03:002016-10-19T13:05:39.860-02:00Sem filhote<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-SsektS6viJE/V_RKlee61uI/AAAAAAAAwxE/G6uhVMBsULMJ0PDEYRdWNn5XS26VSPl8QCLcB/s1600/nest-188449_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-SsektS6viJE/V_RKlee61uI/AAAAAAAAwxE/G6uhVMBsULMJ0PDEYRdWNn5XS26VSPl8QCLcB/s320/nest-188449_1920.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Uma amiga me perguntou como está o ninho vazio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(Pra quem não sabe: é quando os filhos vão embora pra
assumir seus próprios encargos neste mundo e a casa fica de um jeito que toda
hora é nó na garganta.)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Minha resposta ficou vaga, confesso. Não sei
explicar claramente o que sinto sobre essa ausência. Não me vejo como a mãe que
a sociedade considera normal, aliás, nem meu filho me vê dentro da caixinha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A educação dele foi libertária, com base em amor,
respeito e liberdade de escolha. Os amigos e as mães dos amigos estranhavam ao
ouvi-lo contar: “minha mãe diz que eu tenho de ir embora, estudar longe e ficar
por lá”. Ele cumpriu o mandato e a mãe ficou satisfeita. Sério. Com choro, mas sem
nem um pingo de dúvida do estímulo certeiro que dei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já vi mulheres dizendo de tudo um tanto sobre seus
ninhos vazios. Da boca pra fora, da boca pra dentro, com estardalhaço,
deprimidas. Já vi filha voltando em definitivo pra casa com pena da mãe que
ligava todas as noites chorando. Já vi mãe que se desfez em lágrimas durante os
cinco anos em que o filho estudou fora. Já vi mãe que largou tudo pra trás e
foi atrás da filha (essa história foi um desastre!). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não há receita para viver. Não há dica milagrosa,
simpatia, nem mágica. No meu caso, foi uma afirmação elementar: não educá-lo
pra ficar agarrado na minha saia <i>ad
eternum</i>. É cruel demais exigir isso. É o que penso. Pragmática que sou, foi
mais fácil planejar e me programar para entregar meu rapaz à própria vida, até
porque, se eu não entregasse, iria assim mesmo. É como funciona a nossa
natureza e quem se recusa a ela, sofre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Circula muito pelas redes sociais uma frase do Rubem
Alves, que diz: <span style="background: white; color: #1d2129;">"Amar é ter
um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a
qualquer momento, ele pode voar."<span class="apple-converted-space">. Vai
voar, sim, pra quão longe desejar ir, sabendo que tem pra onde voltar, em terra
firme, se quiser ou precisar. Jamais deixarei de ser a mãe, e com o respeito
mútuo que cultivamos, viveremos bem um com o outro, ainda que à distância.<o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="background: white; color: #1d2129;"><span class="apple-converted-space"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="apple-converted-space"><span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O ninho está vazio. Perfeito para escrever, estudar,
vagabundear pelas redes sociais; pra me dedicar sem interrupção ao trabalho
minucioso de pesquisa, aprendizado, criação e montagem de terrários; pra tomar
café comigo, tomar cerveja comigo, ir ao cinema no meio da tarde comigo, ler no
sofá durante um dia inteiro sem interrupção. Tudo isso com plena certeza de que
o cara está feliz. Tão simples e tão complicado de absorver, né? Está feliz:
cursando o que escolheu por vontade dele, independente e autônomo como sempre
foi e como batalhei para que fosse.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">O ninho está vazio. E nada me falta.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="apple-converted-space"><span style="background: white; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="apple-converted-space"><span style="background: white; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="apple-converted-space"><span style="background: white; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-83617855203865554622016-06-20T13:43:00.001-03:002016-06-20T18:43:23.250-03:00Novas noites de domingo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-ke8JXRGMTyk/V2gc-4oEyUI/AAAAAAAAuuA/DUnuJHOF_FIE1MW_djx1hKSWUcy4HRQAgCLcB/s1600/clock-331174_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="140" src="https://3.bp.blogspot.com/-ke8JXRGMTyk/V2gc-4oEyUI/AAAAAAAAuuA/DUnuJHOF_FIE1MW_djx1hKSWUcy4HRQAgCLcB/s200/clock-331174_1920.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Fica o cheiro na face, na mão, e o gosto tão conhecido de
beijo e carinho, depois que ele vai embora.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Fica um ar triste, melancólico, o olhar perdido, parado
no tempo, depois que ele vira aquela esquina.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Fica um andar arrastado, a mente parada, o choro travando
a garganta, quando fecho a porta atrás de mim.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Fica a falta do lanche compartilhado, das boas conversas
e das muitas risadas, quando sento à mesa da cozinha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Fica a lembrança da cumplicidade, das trocas de olhares e
dos segredos guardados a dois, quando revejo suas fotos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Fica a vontade de ouvir os passos trôpegos na escada, o
som alto no banheiro, o jeito tão engraçado de me chamar, que ouço mesmo na sua
ausência.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Fica uma saudade imensa de um passado que jamais volta,
que agora é só memória, mas ao mesmo tempo uma felicidade que nem me cabe, pelos
novos tempos de agora; por isso preciso me reinventar a cada minuto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: inherit; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ficam a ansiedade e a angústia, ao passar das horas, a
espera que você ligue de lá e diga: “Cheguei em casa.”</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: inherit;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: inherit;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: inherit;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-76481432427905320302016-06-14T18:52:00.000-03:002016-06-14T18:52:45.870-03:00Ouvir histórias<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-L6gc57u11W8/V2B8ZgbZ8iI/AAAAAAAAucM/UyMnf0-knvcJh2vZPmgTSb8frRUJRudbACLcB/s1600/childhood-1419877_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-L6gc57u11W8/V2B8ZgbZ8iI/AAAAAAAAucM/UyMnf0-knvcJh2vZPmgTSb8frRUJRudbACLcB/s320/childhood-1419877_1920.jpg" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Quem se permite escutar histórias dos outros amealha uma
coleção de contos. Casos reais, de gente de verdade, que sente e sofre, e nós,
aqui de longe, na maioria do tempo não nos damos conta e, pior, nem queremos
saber. O ofício da escrita me põe a ouvir. Quando alguém começa a me dizer
algo, interrompo o que estiver fazendo para prestar a atenção. E me deleito com
todos os detalhes, me angustio junto, me aflijo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">As pessoas necessitam falar; as pessoas são sós. E no meu
exercício solitário de colocar as palavras organizadas em forma de texto são
justamente esses inúmeros ‘alguéns’ que me vêm à mente. Como entes invisíveis,
que na hora H reaparecem pra me inspirar. A crônica não era esta; o tema era
diverso, porém, ao me deparar com a tela em branco pra dar corpo à ideia que
tinha na cabeça, as histórias de tantas almas me rodeiam. Fazem um volteio em mim
e permanecem aqui. Não consigo discorrer sobre outro assunto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">A arte é que imita a vida. Muito do que se vê em cinema e
folhetins nos arrancam as exclamações de sempre: “Isso só acontece em novela!”,
“Só podia ser filme!”. A existência humana é mais complexa que qualquer roteiro
escrito por uma mente brilhante. E não comumente são experiências felizes ou vitoriosas.
Quem dorme em lençóis de cetim e travesseiro de plumas também revela
frustrações, infelicidade, traições, perdas, insanidades.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Um relato que ouvi dia desses ficou agarrado na memória,
retorna à tona a todo momento. Uma mulher casada, com dois filhos, era surrada
pelo marido diariamente. Ele chegava em casa embriagado, ameaçava-a de morte e
iniciava a sessão de tortura. Certa vez ela tomou coragem e fugiu com as
crianças. O homem a alcançou, levou-a pra casa aos tapas e jurou matá-la e aos
filhos, caso tentasse escapar de novo. Ela se foi novamente, mas sem os
meninos. Um morreu, pois ainda não havia completado dois meses; o outro foi
criado sozinho pelo pai até a adolescência, solto, entre a rua e os bares, e
depois acolhido por uma senhora que o educou e lhe colocou regras. Anos depois
o homem abraçou uma religião, buscou a mulher de volta e o filho que sobreviveu
não a perdoa por ter sido abandonado. Não pode compreender a mãe. Ou ela
morreria pelas mãos do marido, ou morreriam todos se fugissem juntos. Hoje mãe
e filho são idosos e mal se falam.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Parece ficção, drama da novela das seis, no entanto é uma
das milhares de vidas tristes que há por todos os cantos do planeta, que nos
fogem ao conhecimento. Não temos tempo pra saber, não podemos nos dar ao luxo da
preocupação com a existência alheia. Já temos problemas demais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Penso nas pessoas que vejo nas ruas. Imagino como são em
casa, se têm necessidades, filho doente, mulher ou ex, roteirizo mentalmente a
rotina delas e invariavelmente rabisco umas linhas sobre algumas, projeto suas
práticas religiosas, se estudam ou não, se vão a festas, se bebem, como comem,
como se comportam no banho, como transam, vejo-as mortas. Não por simples
morbidez e, sim, porque toda história tem um fim e esse é o final pra todo
mundo. Enquanto isso, escrevo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: inherit;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: inherit;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: inherit;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-52006598492664357342016-06-06T09:54:00.000-03:002016-06-06T09:54:01.413-03:00VI Bienal Rubem Braga<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-4cea8615lCk/V1S7V7k_I_I/AAAAAAAAuNI/DFkCdpB6Vt4hL-N7PUh99oyvGYBBuIVcQCLcB/s1600/13226835_966296923486050_590128265198657944_n.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-4cea8615lCk/V1S7V7k_I_I/AAAAAAAAuNI/DFkCdpB6Vt4hL-N7PUh99oyvGYBBuIVcQCLcB/s200/13226835_966296923486050_590128265198657944_n.png" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Passava pouco das oito da manhã quando cheguei e logo
percebi que a noite por ali não tivera fim. Entrei lentamente pelo portão, como
havia me programado, para matar a saudade do lugar com calma. Porém, o que
imaginei ver enquanto entrava a passo leve, estava bem longe da realidade: a
água pesada que caíra sobre a cidade na noite anterior só não destruiu por
completo, mas causou danos e obrigou praticamente toda a equipe a virar a
madrugada trabalhando duro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O que avistei quando cheguei foram estandes vazios, salas
e cadeiras sendo enxutas, um movimento de recuperação de tudo o que fosse
possível, para fazer a festa acontecer. Afinal, o mestre estava ali abençoando
novamente o grande encontro literário de Cachoeiro de Itapemirim, e não deixou
que o ânimo esmorecesse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A VI Bienal Rubem Braga teve início na terça, dia 31, e
na noite de quarta foi pega de surpresa por um temporal que arrasou toda a
cidade. Muitos desabrigados e desalojados, ruas cobertas de lama, inúmeras
famílias sem seus pertences, destruídos pelas águas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na Praça de Fátima, a mesa de debates “Os dilemas das
Identidades de Gênero na Construção de Personagens Literários”, com João Paulo
Cuenca, Andrea Del Fuego e Milena Paixão, teve de ser interrompida, e as
perguntas do público que insistiu em ficar foram respondidas no camarim. A mesa
para a qual fui convidada, seria na manhã seguinte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Por que comecei relatando justamente o outro lado desse
evento singular?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para exaltar a galhardia com que a equipe organizadora
não só faz acontecer, como não se deixa abater e dá a volta por cima: mexe aqui,
recoloca ali, limpa, lava, enxuga, transporta, remaneja, respira fundo e põe a
engrenagem pra rodar, com um invariável sorrisão na face.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Logo chegam os ônibus lotados de estudantes para as
atividades do dia e eles podem ser recebidos com a mesma alegria de sempre.
Assim foi o terceiro dia da VI Bienal Rubem Braga, um evento do qual me orgulho
de ter participado pela segunda vez. Realizada pela Secretaria de Cultura do
município, faz merecida homenagem ao cronista nascido por ali, onde corre o rio
Itapemirim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Este ano teve Zezé Motta e Wilson Coelho na mesa de
abertura, e muita gente com muita coisa boa a dizer durante a semana: Sérgio
Vaz, Marcelino Freire, Paulo Lins, José Eduardo Agualusa, Gonçalo M. Tavares, Jorge
Nascimento, Carol Bensimon, Saulo Ribeiro, Sara Passabon, entre tantos outros.
Ao longo de todos os dias as crianças foram presenteadas com contação de
histórias, teatro de fantoches, oficinas, feira de livros, muita música e
performances como a do cão Zig, da Borboleta Amarela e do Entregador de
Palavras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na mesa da quinta-feira estavam comigo Babi Dewet e
Felipe Castilho, escritores que em seus livros falam para o público jovem e se
comunicam com essa galera pela internet. De manhã e à tarde recebemos
estudantes de oitavo e nono anos e de ensino médio para conversar sobre
“Leitura, Literatura e Internet”, e saímos no fim da tarde com a sensação de
ter aprendido não só entre nós, com nossa troca de informações, como com
aqueles garotos e garotas ávidos, de olhos brilhantes, encantados, carregados
de questões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A Bienal terminou ontem, com o show da Bia Bedran, e como
sempre deixa o conhecido desejo de ‘quero mais’. Os incansáveis trabalhadores
da cultura de Cachoeiro de Itapemirim, acolhedores como se nos recebessem em
casa, tornam-se ‘amigos de infância’ nas redes sociais e outros novos amigos
surgem para trocar ideias sobre literatura e não deixar nunca o assunto morrer.
“Minha alma canta” quando vejo o Rio de Janeiro pela janela do avião, mas um
pedacinho do coração fica por lá. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"> </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><span style="line-height: 18.4px;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><span style="line-height: 18.4px;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><span style="line-height: 18.4px;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-68885969296849968602016-05-30T23:44:00.001-03:002016-06-06T00:26:40.475-03:00Minha casa sou eu<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-uq2g-OkePFs/V0z5v679lWI/AAAAAAAAuCc/FowdmR-eHcUA-DH0JZLts-9WGso4NrGrQCLcB/s1600/watercolor-1020509_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="233" src="https://2.bp.blogspot.com/-uq2g-OkePFs/V0z5v679lWI/AAAAAAAAuCc/FowdmR-eHcUA-DH0JZLts-9WGso4NrGrQCLcB/s320/watercolor-1020509_1920.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 16.9pt;">Chegar em casa tem sido um dos melhores
momentos dos meus últimos tempos. Resolvo, passo a passo, todas as pendências na
rua e, ao retornar, já no caminho uma parte de mim se sente de volta. O prazer
cem por cento começa logo que fecho a porta às minhas costas. Viro a
chave e respiro fundo.</span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif;">Reclusão é a palavra da vez:
não escondida, deprê, mau humorada, ranzinza. Sim, buscando serenidade,
realizando as tarefas com calma, inspirando meus ares a cada movimento,
trabalhando sem trégua, mas também sem desespero, abafamento, cobranças.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif;">Minha casa me recebe como um
abraço longo e restaurador. Tem meus cantos prediletos, o meu café, minha mesa
onde escrevo, minha bancada onde crio e construo. Tem a Bernadete, a Zoraide, a
Flora e a Filó, que transformam meu silêncio em troca de carinho e amizade. Tem
diante da janela o meu sofá; dali olho o céu, curto a brisa nas plantas da varanda,
voo longe levada pelo vento da tarde. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif;">Porém, mais importante que cada
canto, objeto ou criatura, é na minha casa, na minha introspecção, que recebo a
mim mesma, dentro desse corpo que me abriga. Eu me recolho a esse lar
recôndito, em que somente me cabe e que só por mim é conhecido. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif;">Desta forma me vejo, me escuto,
me sinto. Entravo diálogos com a carne, ou assisto, a mim e à carne, em debate.
Abro as janelas de mim e descubro a sensação de enxergar o mundo por uma
perspectiva diferente; sim, diferente, porque é sempre nova, nunca se repete. Ouço
as várias vozes que de mim dizem verdades surpreendentes ou às vezes cruéis.
Olho nos olhos dos meus desejos, tento retirar lá do âmago as questões
escamoteadas, tento saber por que me escondo dos meus sentimentos. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif;">Pessoa querida disse que reclusão
faz mal, que é num certo “lá” o lugar em que tudo acontece, e que é tempo
desperdiçado estar em silêncio e só. Muitos bichos hibernam, outros
simplesmente se recolhem por algumas horas, quando o instinto pede uma pausa.
Nós, mamíferos, temos muitas semelhanças e não creio que seja bom para a saúde
negá-las. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif;">É na minha reclusão que busco
fazer nascer, a cada dia, uma vida nova, que não se repete tal e qual à de
ontem. É no fundo desse corpo no qual resido, desse meu verdadeiro lar, que descanso
realmente, que me recarrego, que me renovo e encontro a galhardia para
recomeçar inédita.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , sans-serif;">Não é uma brincadeira, não é
fácil. Na verdade é um exercício. É preciso abdicar do que chamo de
insignificâncias, pra ter poder de significar de modos distintos.<span style="font-size: 11.5pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="color: #616161; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 11.5pt;"> </span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 16.9pt;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 11.5pt;"><span style="color: white;">,</span></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 11.5pt;"><span style="color: white;">,</span></span></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
<br />
<div style="background: white; line-height: 16.9pt;">
<br /></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-5953257514253742052016-05-21T15:57:00.002-03:002016-05-21T19:48:34.281-03:00Legados<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-noMMisM4aTc/V0CvKf1xXuI/AAAAAAAAt2w/yjZJ5mt9vlsuR_MhbTxpbkYkS6m0fzCvACLcB/s1600/daisies-388946_1920.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://2.bp.blogspot.com/-noMMisM4aTc/V0CvKf1xXuI/AAAAAAAAt2w/yjZJ5mt9vlsuR_MhbTxpbkYkS6m0fzCvACLcB/s400/daisies-388946_1920.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;">Partiu de surpresa. Apesar da idade avançada, nunca se
espera que alguém querido vá embora para sempre. Saúde em dia, uma cirurgia
simples, sucesso no procedimento, previsão de alta, a pressão baixa, pneumonia,
entra em choque, UTI, “Alô, o médico solicita a presença de alguém da família.”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;">Ainda o sentimento de frustração. E, de repente, o que
dava sentido às vidas daquela família se vai. Deixa pra trás um legado de
simplicidade, fé, religiosidade, liberdade, respeito ao outro (qualquer outro),
educação, alegria de viver. Difícil descobrir sentidos novos a esta altura, no
entanto, é o que se deve fazer agora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;">A morte e o morrer sempre foram um sapo na garganta; decerto,
não só pra mim. Desde sempre esse tema me cristaliza. Não tenho uma relação
minimamente equilibrada com essa certeza, embora creia que haja um “lado de lá”
e o prosseguimento da vida, de uma forma diferente. Acreditar faz muito bem,
até que ela, a morte, resolve passar perto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;">Não à toa os povoados antigos cresciam em torno de onde
eram realizados os rituais fúnebres. Talvez tão marcante quanto o nascimento, a
hora de se despedir de uma vida altera sentimentos e estados de consciência,
cria e revolve dores. Ver inerte um corpo que foi tão próximo por 40, 50, 60
anos é mais que triste. Levanta uma série de questões nunca antes consideradas,
que travam os dias, pois se emaranha com a saudade, a frustração, a angústia, a
impotência. E tudo isso é luto. A hora de dormir é melancólica. A hora de
acordar é confusa. As obrigações e compromissos da rotina exaurem além do que
seria aceitável. A vontade de nada é imperiosa. “Chorar na cama, que é lugar
quente” é o desejo tormentoso a cada hora da jornada que se recusa a passar. A
espera é longa pelo tempo curador de todas as aflições.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;">No quarto dela há uma cômoda e sobre o móvel um modesto
altar. Imagens de sua devoção católica e terços dispostos com zelo. Na parede,
um espelho, e no canto do espelho, uma única foto, a minha, o meu rosto
sorridente junto de suas fontes de força e graça. Nem eu mesma sei o quanto já
chorei de emoção, alegria e gratidão por tanto amor, tanto carinho. A admiração
que tinha por ela e que poucas vezes verbalizei, talvez por timidez, tem sua
recíproca escancarada numa demonstração tão simples. Olhos molhados e nó na
garganta a cada vez que me lembro daquele cenário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;">O que a infalibilidade do destino espera de nós? Ou, o
que devo esperar de mim, diante do inevitável? Posso dizer muito do que se
repete por aí, sobre viver intensamente cada dia, comer melhor, valorizar a
naturalidade, os pés no chão, desprender-me das exigências torpes da vida
material, mandar esse capitalismo às favas e parar de correr atrás de sei lá o
quê. Soa piegas, justo pelo tanto que se bate nesses temas a toda hora. Mas,
olha, pode ser mesmo verdade. Viver mais de 90 anos com plena saúde, feliz,
distribuindo sorrisos, e ir embora sem dever nada a si própria, é pra
pouquíssimos. Penso que já esteja passando da hora de começar a correr atrás da
concretude de uma vida rica de algo que possa deixar e também levar. Como ela
soube fazer muito bem.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-31123494327671845862016-05-19T17:36:00.001-03:002016-05-20T11:07:20.466-03:00Sem preconceito, mas, vai que..<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-HafO4S90oFE/Vz4iyHSDYFI/AAAAAAAAty8/kZjrpVqeXq0dryGDUpLtsRNfwwA8RtYtwCLcB/s1600/Black-Vulture.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="227" src="https://3.bp.blogspot.com/-HafO4S90oFE/Vz4iyHSDYFI/AAAAAAAAty8/kZjrpVqeXq0dryGDUpLtsRNfwwA8RtYtwCLcB/s400/Black-Vulture.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Cheguei para a entrevista atrasada, correndo,
bufando, e a surpresa foi completa quando encontrei o prefeito deitado dentro
do carro, ocupando com o corpo as duas poltronas da frente, a cabeça pendendo
para o lado de fora, de óculos escuros, mirando o céu. Mais calmo impossível e
nós, trinta minutos depois da hora marcada, constrangidos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Bom dia, prefeito, desculpe o adiantado da hora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Problema nenhum. Estava aqui admirando o voo
solitário de um urubu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- (?)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Minha mãe sempre dizia que quando a gente vê um
urubu voando bem alto e sozinho, é sinal de notícia boa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Surpresa de novo. A vida inteira, o que recebemos de
informação sobre essa ave é que se trata de um bicho nojento, asqueroso,
perigoso, que come lixo e carniça. É feio, tem um andar coxo, muito esquisito,
chega a causar certo horror às vezes. Jamais imaginaria a possibilidade de boa
coisa a caminho, mesmo sendo apenas superstição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O encontro com o prefeito aconteceu faz quase vinte
e cinco anos e, desde então, passei a observar melhor os urubus. Tentei reverter
dentro de mim o preconceito, procurando saber mais sobre esse pobre animal,
excluído de qualquer demonstração de apreço, consequente de seus hábitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O que mais gera repugnância no comportamento do
urubu é sua preferência por carnes em estado de putrefação. Quando não encontra
animais mortos, opta pela caça de bichos menores, como alguns roedores, sapos e
lagartos. Porém, exatamente por comer animais mortos, é considerado necessário,
até mesmo indispensável, por garantir o equilíbrio ecológico, livrando o
ambiente de doenças facilmente dissemináveis. Pra piorar a situação do desventurado,
ele não pode cantar, pois não possui órgão vocal específico. Portanto, grasna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Destituída do preconceito, veio a compaixão. Todas
as vezes em que vejo um urubu, tenho ímpeto de parar pra olhar. Pude conhecer
um bem de perto num sítio, onde rolava um churrasco. A proprietária do local
(pasmem!) tinha um urubu de estimação. Caíra no quintal quando filhote, foi
tratado, alimentado e ficou. Claro que a única pessoa na festa que não sentiu
repugnância pelo animal fui eu (confesso um medinho de me aproximar muito).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Recentemente li uma história em que o personagem
narra sua própria morte, atacado por um bando de urubus que invadem o
apartamento. A sequência é horripilante, devido aos pormenores do banquete. É
mais um ponto a favor da ojeriza contra o animal já tão rejeitado – o autor não
poderia, por exemplo, falar em corujas? Elas também comem carne. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">E após tantos anos de reforma interior, treinando
meu mais carinhoso olhar para os urubus, eis que o inesperado acontece. Ao
volante, indo para o trabalho, avisto bem ao longe um solitário em voo alto. “Opa!
Bom sinal! Que boa notícia será?”. Logo que me indaguei, ele foi baixando a
altitude, ao mesmo tempo em que vinha na minha direção. Em questão de segundos
estava à minha frente, forçando as asas para trás, na tentativa de parar e não
conseguiu. Entrou embaixo do pneu dianteiro esquerdo, escutei (ou senti) um “crec”
e ainda pude ver pelo retrovisor o infeliz estraçalhado na pista. Não contive o
remorso: “Eu matei o urubuuuu! Eu matei o urubuuuuuuuu! Meu Deus, eu matei o
urubu.”. Superstição ou não, além de chorar de pena do bicho, não deixei de cismar
com um possível mau presságio; afinal, se o urubu voando alto prenuncia coisa
boa, prefiro nem pensar no que possa significar esse mesmo urubu sendo
assassinado por mim.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-23412728023543863902016-01-13T20:39:00.003-02:002016-01-13T20:40:55.901-02:00Ruídos insones II<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-kYgtbEtG0cQ/VpbSCayI8dI/AAAAAAAArXs/deYrNUqTUh4/s1600/Corbis-42-40661373.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-kYgtbEtG0cQ/VpbSCayI8dI/AAAAAAAArXs/deYrNUqTUh4/s400/Corbis-42-40661373.jpg" width="266" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
O ar condicionado.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O zumbido no meu ouvido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Minha respiração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A gata salta no piso do banheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A descarga do vizinho, a torneira do vizinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O ronco do vizinho!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E meus pensamentos apressados e barulhentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O gato da rua mia no telhado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A coruja pia na árvore em frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O vento agita a árvore em frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A TV ao longe, muito longe, é como um chiado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Uma janela fecha. Ou abre.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O chuveiro pinga e pinga e pinga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E meus pensamentos apressados e barulhentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E minhas dores, e meu passado, e o medo do futuro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Tudo emaranhado em nós, rodando na cabeça,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
conforme me movo na cama, a tentar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
o conforto pra dormir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-26871444156234536742015-12-29T21:29:00.000-02:002015-12-29T22:13:24.457-02:00Não se vive sem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-NFAHGKnSG4c/VoMXB7PK89I/AAAAAAAAq3s/PmiayhazoM8/s1600/Corbis-42-75048587.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-NFAHGKnSG4c/VoMXB7PK89I/AAAAAAAAq3s/PmiayhazoM8/s320/Corbis-42-75048587.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Saudade não é algo que se sente. Tenho pensado a
respeito. Saudade é algo que está em si. Nasce-se com ela, vive-se com ela e
vai-se embora da vida carregando-a junto.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; line-height: 115%;">O tempo todo há uma saudade presente, quase ostensiva, e
às vezes nem parece sentimento; há momentos em que parece mesmo orgânica, que faz
parte do corpo. Chego a imaginar que se ficar sem saudade dentro de mim, estarei
como de luto. Seria o luto de saudade da saudade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; line-height: 115%;">Ou seja, ela não sai, não vai embora, não é retirável,
não morre com a morte, não se mata nunca. A saudade não se mata; é eterna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; line-height: 115%;">Interessante é saber que o sentido ampliado da palavra
saudade só existe pra nós, que a expressamos e a ‘sentimos em Português’.
Originada no Latim, está, sim, em outras línguas, ao contrário do que se
costuma afirmar. Porém, quer dizer mais exatamente a falta do lar, uma vontade
de voltar à casa, uma solidão por isso. Já na Língua Portuguesa saudade que
dizer muito mais: é dor de toda ausência, uma dor que se pode dizer prazerosa.
Tão prazerosa que foi, é e será para sempre em versos, canções e prosa. E a
rima aqui é proposital.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; line-height: 115%;">Vinicius cantou: “<span style="background: white; color: #333333;">Chega de saudade / A realidade é que sem ela / Não há paz / Não há beleza
/ É só tristeza / É só tristeza e a melancolia / Que não sai de mim.”. E Djavan
também: “E</span>ra tanta saudade / É pra matar / Eu fiquei até doente / Eu
fiquei até doente, menina / Se eu não mato a saudade / É, deixa estar / A
saudade mata a gente.”. Clarice abusou: “Saudade é um pouco como fome. Só passa
quando se come a presença.”. E Fernando Pessoa foi mais longe: “<span style="background: white; color: #333333;">Saudades! Tenho-as até do que me não foi
nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida.”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #333333; font-family: "Arial","sans-serif"; line-height: 115%;">É incurável, pois que está
sempre aqui dentro, a lembrar algo que não terá mais volta. Ou terá, mas de
outra forma ou em outro tempo, quem saberá? A gente sente saudade até de não
sei quê. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;">Uma brisa fresca ao fim da
tarde... saudade; por do sol no outono... saudade; céu estrelado em noite
clara... saudade; música, perfume, comida, filme, andar na rua... saudade;
sonhar dormindo ou acordada... saudade. Um nome que nunca ouvi antes...
saudade.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;"><i>Publicada originalmente na Revista Volta Cultural - Dezembro/2015</i></span> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-42150347139863740162015-12-19T21:12:00.001-02:002015-12-29T21:33:50.169-02:00Dois tempos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-H5zDSkm9Oac/VnXkCnzA_fI/AAAAAAAAqtU/CSTKWaEoRdM/s1600/Corbis-IH069477.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="216" src="http://1.bp.blogspot.com/-H5zDSkm9Oac/VnXkCnzA_fI/AAAAAAAAqtU/CSTKWaEoRdM/s320/Corbis-IH069477.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">- Mãe, sobe aqui, rápido! Você precisa ver isso!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">- Que é? Está me assustando!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">- Sobe, depressa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Ele me mostra, da janela do quarto, o céu roxo que
adoro, prestes a desabar em chuva. É quase possível sentir o peso da água, que
a força da gravidade empurra pra baixo. Esqueço o estava fazendo e paro. Fico estática,
diante do espetáculo que vai transformando a paisagem rapidamente. Admiro o
contraste com as copas das árvores, com os telhados, os muros. E me causa
imenso respeito o silêncio da natureza, a prenunciar a tempestade que se
aproxima. Nem um pio da passarinhada costumeira.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">A ventania traz as folhas da árvore em frente pra
dentro do quintal. Roupas voam na corda e pra fora dela também. Aos primeiros
trovões, ainda ao longe, os bichos de casa pressentem que lá vem problema e caçam
cantos pra se esconder. Ouvem-se vidraças que se fecham na vizinhança e a mãe
que grita à filha: “Essa porta batendo aí!”. E o que há pouco era nuvem
encorpada desaba sobre nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">A casa é quietude. Do sofá, através do vidro que
ainda escorre, vejo gotas remanescentes da chuvarada de há pouco. O tempo para;
já não há mais vento. Agora é calmaria. Não há som ligado, nem TV; os bichos
dormem em volta. Silêncio ruidoso: na rua, passarinhos celebram o cair da
tarde. Brincam nos galhos úmidos, tomam banho nas poças das folhas, fazem
algazarra na água que desce pela canaleta. Passa um carro, passa outro, e se
vai distante o ronco do motor subindo a rua até sumir. Ora uma criança dá sinal
de vida num apartamento, ora um cachorro late ali embaixo. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Vem da cozinha o recomeço após a chuva. O movimento
que já conheço da leiteira no fogão, do acendedor, a tampa. A torneira aberta
lavando a garrafa. A gaveta de talheres, o pote que é aberto e em seguida fechado.
Canecas retiradas do armário. O aroma inconfundível.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">- Mãe, tá rolando um café fresco, vem pra cá!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-36511293487696155882015-09-01T12:31:00.000-03:002015-09-01T12:31:23.210-03:00De graça, não dá<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-r3ri-tbDRB8/VeXEVTb-1pI/AAAAAAAAnYY/9yze_VjML3Y/s1600/Corbis-42-64639450.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="229" src="http://1.bp.blogspot.com/-r3ri-tbDRB8/VeXEVTb-1pI/AAAAAAAAnYY/9yze_VjML3Y/s320/Corbis-42-64639450.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Leio numa postagem na rede social uma oferta de emprego para
repórter, em um jornal no interior do Estado. Contrata-se profissional ou
estudante de 7º ou 8º período. Na hora pensei “E o salário, é o mesmo nos dois
casos? A um jornalista experiente está sendo oferecida a mesma remuneração que
será paga a um estudante?”. A gritaria foi inevitável nos comentários, a
responsável pelo post tentou se justificar, mas não convenceu, só que, no fim
das contas, apesar da indignação geral, lá estava ela de volta, agradecendo
pelas dezenas de currículos recebidos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
As pessoas precisam dos empregos. Paguem o que pagarem, não
dispensam a oportunidade. Não há espaço para debates éticos, coerência ou
concorrência desleal. Aliás, imagino que muitos sequer aprenderam de que se
trata tudo isso. É assim que a banda anda tocando faz tempo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sem entrar no mérito da necessidade de sustento, penso na
deseducação da sociedade, cujo cidadão chega a se permitir tais ações de
desrespeito - consigo e com os outros -, por desconhecer interesse coletivo e o
quanto isso acaba respingando nele lá na frente. Nossa cultura estimula o
individualismo e tal comportamento está cada vez mais naturalizado. Quem se
preocupa e se ocupa do bem-estar coletivo é um otário. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E dessa forma, enquanto profissionais de qualquer categoria
se sujeitam a ser contratados pelo mínimo do mínimo, com seu salário equiparado
ao de um estudante, sem levar em conta currículo, anos de experiência e
qualificações, seguimos em queda livre no que tange à valorização do trabalho.
Aliás, parece que isso é desejo de poucos, principalmente de contratantes, que apertam o gargalo, forçando
a aceitação de qualquer coisa em troca da minha mão de obra e, principalmente,
do meu conhecimento. E cada vez mais deixam-se de contratar assessores de imprensa,
por exemplo, porque dá pra aproveitar o “rapazinho do RH que escreve direitinho”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quase em todas as vezes que sou sondada para ministrar
palestras ou oficinas, surpreendo o contratante no primeiro contato, ao
comunicar que minha atividade é remunerada, como se precisasse avisar. E na
maioria das vezes nem perguntam, como se estivessem me propondo um favor. São
vinte e cinco anos de carreira, com milhares de horas dedicadas a leitura e
estudo. Com exceção das palestras que faço sobre a minha experiência com o
câncer de mama, e as propostas que já nascem beneficentes, tudo é trabalho. O
problema - motivo deste texto - é o jornalista-escritor-poeta-palestrista-oficineiro
que faz qualquer coisa por qualquer trocado, até por trocado nenhum. E então,
quem estuda uma vida inteira para ter um conteúdo de qualidade a oferecer vale
o quê mesmo? E qual o interesse do “profissional” em ministrar palestra ou
oficina gratuitamente num evento patrocinado, de iniciativa privada? Vai saber…
Como disse, mais adiante será ele próprio o prejudicado pelo costume do qual
fez ou faz parte. Ou o cliente. E não sei o que é pior. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Meses atrás fui contratada para revisar um livro que já
havia sido revisado por outra pessoa, mas o autor não ficara satisfeito. Pedira
a um amigo da família que quebrasse o galho, pois esse tipo de serviço costuma
sair caro; pensava que qualquer pessoa pudesse “dar uma olhadinha”, e tal. Pois
é, caro sairia para ele, o autor, caso publicasse a obra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De graça, não dá. O profissional cobra porque é qualificado
para a atividade, pagou pela qualificação e se responsabiliza pelo trabalho que
executa. Como aquele diálogo que circula na internet: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Você ta me cobrando 50 reais por um serviço que faz em
cinco minutos?” <o:p></o:p></i></div>
<div style="margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Não. Estou te cobrando só 50,00 pra fazer em cinco minutos
uma atividade que levei anos para me qualificar pra fazer.”</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-39966992520247275522015-08-24T12:23:00.001-03:002015-08-24T12:23:45.761-03:00Graciana Perpétua<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Zlxjqd30PCk/Vds24SkIOfI/AAAAAAAAnJ8/FiCX0MHA6kA/s1600/Corbis-42-26234694.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="242" src="http://3.bp.blogspot.com/-Zlxjqd30PCk/Vds24SkIOfI/AAAAAAAAnJ8/FiCX0MHA6kA/s320/Corbis-42-26234694.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
O dia não tem nada de especial, não se trata de data
comemorativa, aniversário, nada de significativo no calendário. De repente, uma
aparição surge de um dos cantinhos da memória: uma senhorinha magra e alta no
fundo do quintal, com uma das mãos às costas, na altura da cintura, e a outra
acenando. O coquinho no cabelo branco ralo, os olhos verdes sempre muito vivos
e o sorriso que trago de herança. </div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não quero entender por que, ao mudar de posição no sofá, a
imagem da minha avó me visita sem aviso. Apenas paro a leitura e delicadamente
recosto a cabeça pra não perder a lembrança da mãe de minha mãe, que me ocupa
de repente. Curto a saudade, repasso bons momentos, os exemplos, a alegria, o
temperamento forte e altivo de uma autêntica libriana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estivemos por pouco tempo juntas nesta vida. Os encontros
eram semanais, por um dia ou dois. Às vezes era ela que vinha em casa, passava
um tempo. Nessa convivência rara aprendi muito do que sei sobre viver com
simplicidade, valorizar o que se tem, fazer o que é possível e ser feliz com
tudo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Era religiosa, benzedeira. Mantinha na sala do barraco um
congá. Recebia as crianças das redondezas, trazidas pelos pais, que buscavam no
oculto a solução para os males do corpo e dos ânimos exaltados. Com ramos de
arruda e guiné na mão, rezava e afastava os maus fluidos. Sempre tinha um bom
conselho, uma sugestão, uma dica. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Passei minha infância refém de alergias, me coçava inteira e
ela, sempre muito paciente comigo, ensinava a massagear a pele, sem usar as
unhas, pra não me machucar. No grande quintal de terra, alegrava-se ao me
mostrar as margaridas em floração, ensinou o prazer de cultivar plantas e
hortaliças. Semeou em mim o mesmo gosto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Tinha doze anos quando ela encerrou seu ciclo na Terra. Não
chorei pela morte, pelo término da existência física. Mesmo criança, sem noção
clara do fim, senti pelo pouco tempo que tivemos; queria conversar mais, ver
aquele riso debochado tanto mais, rir das piadas, ganhar abraços, beijos,
afagos e broncas. Sentir o perfume nos cabelos, que só ela tinha, comer o arroz
mais gostoso que já experimentei. Tão especial assim, fez jus à eternidade que
trazia no nome. Estará para sempre na memória, no sangue, na firmeza de
espírito para encarar a vida - seu maior legado em mim - até nos encontrarmos novamente.
“Bença, vó!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Publicada originalmente no Jornal Volta Cultural - Edição de Maio/2015</span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;">.</span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-48782476653853616702015-01-26T09:41:00.000-02:002015-01-26T09:48:08.799-02:00Rotina cruel<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-g_wwDDQ97J8/VL-6W9AATII/AAAAAAAAgjw/Kp_g31ne4Ok/s1600/Corbis-42-22402165.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-g_wwDDQ97J8/VL-6W9AATII/AAAAAAAAgjw/Kp_g31ne4Ok/s1600/Corbis-42-22402165.jpg" height="208" width="320" /></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Acordo cedo.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Antes de o Sol aparecer por trás da goiabeira, abro meus olhos e, preguiçosamente, vejo o dia nascendo a minha volta. Faço isso rápido, pois o espaço é pequeno. Numa espreitadela consigo conferir o que rola por aqui. Quero despertar devagar, no entanto não me deixam. Os vizinhos de frente formam uma família grande; mal saem da cama e estão fazendo barulho. As crianças gritam, reclamam de fome, saem pra brincar, e eu os espio de longe.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Mais um dia igualzinho a todos os outros.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Levanto para o desjejum. Comida farta, porém já meio enjoativa; nunca muda. Como tudo, apesar da mesmice. Não vou deixar para as moscas. Gosto mais das frutas e detono tudo o que vem. Lambuzo os beiços, a cara, as mãos. De barriga cheia, volto a me recostar. De longe, quieto - enquanto posso - assisto a algazarra dos vizinhos.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Minha rotina é solitária.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Estou só, vivo só, apesar do movimento constante por aqui e das visitas diárias. Não tenho namorada, noiva ou esposa, muito menos filhos. Passo meus dias assim, entre deitar e levantar, comer, mirar alguma coisa ao meu redor, ver o céu, acompanhar o Sol passar por cima da goiabeira e cair do outro lado, atrás das patas-de-vaca, onde os sabiás laranjeira fazem coro na madrugada e no fim da tarde. Nos horários certos meu serviçal traz minhas refeições. Sou tratado com carinho e atenção. Tomo banhos regulares, sou medicado se adoeço.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Mas, não sou feliz.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">O alarido do pessoal que para pra me ver me irrita ao limite. Já não bastasse os vizinhos em algazarra, tenho que aturar essa balbúrdia o dia todo. Ninguém me respeita. Gosto de brincar e de me relacionar, porém detesto ser incomodado durante meu sono. E às vezes, como qualquer ser, preciso de recolhimento, de ficar mudo no meu canto, simplesmente ficar ali, atendendo a necessidade do meu corpo.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Na verdade, quase enlouqueço.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Meus surtos são diários. Não tolero esse povo que vem me ver e fica me atirando coisas. Em resposta, grito, berro, bato no peito, corro de um lado para outro, atiro minhas próprias fezes pra ver se causo algum temor, ou repulsa. Ao invés de irem embora, acham graça, e riem, e gritam mais e mais, e me atiram pedras. Volto pro meu canto e daqui não saio, até que finalmente me deixem em paz. Não aguento viver esse estresse diário, contínuo. Será que nunca vai ter fim? Serei condenado a ficar o resto da minha vida exposto a tamanha desconsideração? E jaz faz anos, muitos anos, que me hospedarem nesse lugar esquisito. Está certo que fui salvo das maldades de um pessoal que me obrigava a horrores que nem gosto de lembrar, mas me trazer pra cá também não foi uma boa ideia.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Começa a escurecer.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">O silêncio, aos poucos, torna a reinar. Espero mais um bocado, as crianças do vizinho caem no sono, e posso deitar sossegado para olhar as estrelas. Não é muito bom, não, porque as admiro apenas por um quadrado em cima da minha cabeça. Melhor assim do que quando chove e tenho de permanecer no meu cantinho, lá dentro, ainda mais isolado. Do jeito que estou agora, ouço as folhas das árvores se roçando ao sabor do vento, galos cantando lá longe, a água do riacho.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Adormeço.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Sonho que estou em casa e me confundo, pois aqui, onde vivo, chamam de minha casa. É outro lugar, aberto, de uma grandeza sem fim, e com milhares de árvores, tantas que nunca vi. Eu subo nelas, pego as frutas nos galhos, cochilo à sombra de grandes copas. Tenho família! Uma mulher, filhos, irmãos! Meu coração se enche de alegria, me emociono, quase choro. Pulo, corro, brinco com meus pequenos. Não há limites na imensidão que é a minha casa. Não fico doente, não surto. Minha vida é plena!</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;">Acordo cedo.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-size: 16px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-size: 16px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-size: 16px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><span style="color: white;">.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-size: 16px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-38369012950911479992015-01-19T11:30:00.001-02:002015-01-19T13:41:28.384-02:00Tá na moda. Não, obrigada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-wXubuLO-m6A/VL0GoK9BYII/AAAAAAAAghE/j2xuu5_1uws/s1600/Corbis-42-34723232.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-wXubuLO-m6A/VL0GoK9BYII/AAAAAAAAghE/j2xuu5_1uws/s1600/Corbis-42-34723232.jpg" height="320" width="242" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Não gosto de moda. Pelo simples motivo de que coloca todo
mundo igualzinho, inibe a diversidade de gostos, de preferências e de estilos.
Tolhe vontades e impõe ao indivíduo o uso do que dita a tendência, independente
de lhe cair bem ou não.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na praia, no feriado de Ano Novo, dois modelos de biquíni
marcaram presença. A cada cinco mulheres, quatro usavam os de babadinho no
peito ou tomara-que-caia torcido entre os seios. E se uma mulher chega a uma
loja hoje e pede algo diferente, não tem. “Mas esse é o que está usando!”. E se
eu não quiser usar o que está usando?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ainda sobre o biquíni, não gosto de alças que amarram atrás
do pescoço. Primeiro, porque não aprecio marca de biquíni; segundo, porque me machucam um bocado. Prefiro as alças retas, como as de sutiã, bem finas,
cujas marcas ficam devidamente ocultas. Não tem. Nunca tem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A ditadura do cabelo liso é outro exemplo. E já falei um
tanto sobre ela. Em algum momento alguém sentenciou que cabelo bonito é liso e
pronto. Todas as mulheres decidiram ser iguais. Independente da textura dos
fios, a ordem é alisar. E o que se vê são fios esticados, sem movimento, sem
graça, sem modulação. Muitas delas ainda pintam de preto bem preto e é bom nem
dizer aqui com que se assemelham.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sem contar as meninas. Não consigo, por exemplo, diferenciar
as amigas do meu filho. Salvo a namorada, que tem os cabelos na altura dos
ombros, e outras exceções, todas tem o cabelo comprido e liso e se vestem bem
parecidas. Ninguém mais quer divergir, ousar, ser autêntico, sair do padrão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Minha maior dificuldade em relação ao cabelo foi encontrar
uma profissional que gostasse e soubesse cuidar de cachos. Hoje em dia, basta
entrar num salão para ouvir: “Chegou um produto novo que faz uma progressiva
perfeita”. Não, obrigada, só quero tratar meus cachos. E recebo de volta um
olhar de desprezo, um nariz torcido e um atendimento de má vontade. Certa vez
fui a um salão arrumar as madeixas para um casamento. A cabeleireira mandou
logo lavar para escova, sem me perguntar nada. Quando disse que queria cachos
compostos e bonitos, tive de esperar quase meia hora, até que encontrassem o
difusor esquecido no fundo de uma caixa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Voltando à praia, outra coisa interessante que observei foi
nome de cachorro, ou melhor, de cadela. De uma hora pra outra, parece que todas
as cadelinhas do mundo passaram a se chamar Mel. Num único dia estava em
companhia de três Mel à minha volta no quiosque: uma Duchshund, uma Yorkshire e
uma Vira-lata. Sem contar as outras Mel que conheço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E agora, falando dos homens: a tal da barba virou um furor.
Gente, que engraçado, eles também ficam iguaizinhos, porque não se trata apenas
de deixar crescer e escolher um formato de corte. É usar corte idêntico, todo
mundo junto. O resultado, principalmente em grupo, é hilário.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
</div>
<div class="MsoNormal">
Sem intenção de ferir o gosto ou o desejo de ninguém, quero
apenas dizer que para os meus olhos moda é um negócio que faz mal, porque me
confunde: fiquei zonza na praia ao ouvir tantas vezes numa tarde o nome Mel.
Nesse mesmo passeio, para todos os lados que olhava havia um homem ou uma turma
com a mesma barba - quem é quem? - e já falei aqui do quanto me custa
diferenciar as amigas do meu filho. Além de me desorientar, atiça minha
rebeldia. Desde sempre não me adapto a padrões. Basta ver que é tudo conforme,
obediente a um dito qualquer, para que eu queira diferente. E se a moda é estar
sempre dentro de um padrão, sou fora de moda, com muito gosto.<o:p></o:p></div>
<span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: white;">.</span></span><br />
<span style="font-family: Arial; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: white;">.</span></span>Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5388429033246593709.post-46807676568811820362014-12-09T21:53:00.001-02:002015-01-19T18:12:20.983-02:00Outra vez Natal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-hsrNDd4byJw/VIeLG2bh3PI/AAAAAAAAdAs/q_mWcq5Cufk/s1600/10731189_809152635810071_8345324307531887823_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-hsrNDd4byJw/VIeLG2bh3PI/AAAAAAAAdAs/q_mWcq5Cufk/s1600/10731189_809152635810071_8345324307531887823_n.jpg" height="400" width="245" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">A alegria com esta época durou pouco. Quando comecei
a ter noção do que era o Natal para o mundo lá fora e o que representava,
realmente, comemorar o nascimento de Jesus, passei a desgostar gradativamente.
Caio nessa mesmice ano a ano, mas não me canso de lamentar: não encontro o
fundamento da comilança e bebelança em que se tornou o que antes se conhecia
como a celebração no nascimento de Jesus.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Criada numa família católica, acostumei-me a
acreditar nisso – e ainda creio. Penso que seja esse o motivo de tamanha
aversão às festanças promovidas na madrugada de 25 de dezembro. Por mim, se
seguisse apenas a minha vontade e os meus sentimentos mais íntimos, passava a
noite de Natal em casa, em silêncio, sem agitação, quieta, meditando e
agradecendo por tudo o que sou, pelas conquistas pessoais, a harmonia e o amor
dentro do meu núcleo familiar, a saúde.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Também me repito com as críticas ao Natal
brasileiro, comprado das culturas norte-americana e europeia. Sinto arrepios e
calafrios ao entrar nos shoppings e ver a decoração inspirada no inverno polar:
ursos brancos, muita neve, pinheiros e aquele Papai Noel vestido de veludo,
vermelho de calor, brilhando de tanto suar. Cenário que seria surreal, se não
estivesse tão naturalizado por aqui. Espero o dia em que verei um slogan
parecido com “Natal tropical no shopping”. Seria o máximo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">No entanto tive filho e se tem um ser nessa vida que
nos move a fazer concessões sorrindo de felicidade, é filho. Mesmo mantendo o
que penso sobre o Natal de hoje, tento manter a tradição, estimulada pelo meu
filho. Montamos árvore, decoramos a casa e a fachada. Instalamos luzes, como
aquela estrela que, segundo a Bíblia, mostrou aos Reis Magos onde estava Jesus.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Vejo a casa toda iluminada e penso no que aprendi a
acreditar. Uma crença que me faz muito bem. O Natal que resolvi construir pra
mim é esse: tem luz ao meu redor, tem sossego, tem paz e serenidade. Não tem
mágoa, não tem rancor, portanto não tenho ninguém a perdoar. Nada como o
coração leve para, enfim, ver outro sentido nessa data tão importante para os
cristãos, deturpada pelas exigências cada vez mais brutais do capitalismo.
Exigências que cumpro, por certa elegância, digamos assim.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Estou sentada há horas, escrevendo. De vez em quando
levanto o rosto e na direção dos meus olhos está a árvore de Natal. Tão
moderninha, comprada pronta, cheia de laços, borboletas e bolas estilosas, me
remete à infância, quando minha irmã mais velha saía em busca de um tronco seco
adequado para montar a nossa árvore. Ela ‘plantava’ o tronco numa lata grande,
cobria todos os galhos com algodão e pendurava as bolinhas, que eram de vidro e
a mãe não me deixava chegar perto, pra não quebrar. O clima era outro. “Eu não
sei por que a gente cresce...”, dizia muito bem Ataulfo Alves.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white; font-family: inherit;"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white; font-family: inherit;"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white; font-family: inherit;"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">.</span></span></div>
Giovanahttp://www.blogger.com/profile/13541132833983084068noreply@blogger.com0