3 de abril de 2017

Gatos fazem o que querem... ops, nem tanto

Toda noite é a mesma coisa: quando ouvem o ruído da primeira janela sendo fechada, começam a retornar do quintal. Há quem diga que gato não se educa, pode ser, mas eles se acostumam com a rotina e sabem, por instinto, que necessitam dos hábitos diários, para garantir a comida, a água, a cama quente e o cafuné. Quando as janelas se fecham, quem ficar do lado de lá vai passar perrengue.

Filó é quem mais conhece sobre passar a noite fora. E de tanto sair correndo ao invés de entrar quando chamada, ficou no quintal diversas vezes, até entender que janela arriando é sinal de baixar a bola, caçar o rumo de casa e entrar pra dormir (ou não).

Chico é muito apegado à comida. Tanto, que aprendeu mais rápido que a Filó. Quando chego na janela, se estiver do lado de fora, põe-se em alerta no banco da varanda. Chora, mia, faz manha e, como não tem jeito, cede. Vou descendo a janela devagarzinho, ele roça os bigodes na grade, em seguida a cabeça, pata após pata e o salto no chão. Mais esperto que a Filó, sabe dar a volta por cima do telhado ou pelo muro da vizinha e entrar pelos fundos. Se estiver chovendo, estará em apuros, por isso preferiu se acostumar com os horários dos humanos.

Gatos são selvagens, ainda não estão totalmente adaptados à domesticação. Já dependem da comida dada, porém não perdem a independência e o temperamento altivo. Fazem o que querem, na hora em que querem e do jeito que querem. Não adianta insistir em domá-los. Por outro lado, são capazes de se adequar perfeitamente aos costumes da família.

Flora sente o momento em que vou subir para dormir e fica de prontidão no primeiro degrau da escada. Ao menor movimento meu, sobe correndo e me aguarda na porta. Abro, ela vai para debaixo da cama, espera que seja aberta a porta do banheiro. Salta na pia e com um miado chorado, pede água da torneira. Parece sede de uma semana. Enquanto tomo banho, ela se satisfaz. Depois, deita no tapete, assiste ao meu banho e por ali fica até de manhã, quando também desperta e desce comigo.

Zoraide é minha Garfield. Come, dorme, faz suas necessidades, toma sol. Tem preguiça de pular a janela; às vezes fica na porta, pedindo para entrar ou sair de casa. Aparenta não atentar para o mundo a sua volta, embora saiba sempre onde estou e anda atrás. Se me sento no sofá na sala, ela vai pro tapete; se estou na cadeira do quintal, se aproxima e deita perto; se trabalho à mesa do escritório, ela deita no meu pé. Não gosta de ser comandada, como a Flora, no entanto reconhece, como os outros, a hora de se recolher. Basta que se diga “bora!” e ela atravessa sala e copa, passa pelo buraco da grade da área e encontra a cama.

Durante a noite, os quatro sabem que a comida fica na área de serviço. De manhã, esperam seus pratos no chão da copa. Quando terminam de comer, as janelas estão novamente abertas e bora se refestelar no sol!

Comecei a desenhar esse texto, enquanto aguardava a última entrar. Sim, a Filó, enrola do lado de fora, se fazendo de difícil. Logo entra desfilando na cozinha, olha na minha cara, mia. Acabei falando de cada um, porque fazem a minha alegria diária, são brincalhões e, mesmo brincando, são parte do meu silêncio. Prezam sua independência, autonomia e liberdade, ao mesmo tempo em que demonstram amor incondicional a quem tem condição de perceber esse amor e se dispõe a recebê-lo. 
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