Chego para a minha aula de pilates, junto com a
fisioterapeuta, já colocando o papo em dia, quando o rapaz do lado de lá da
grade alerta:
- Ih, vocês não vão poder entrar, não!
A chave nem chegou a girar na tranca do portão.
- O que houve?
- O cara tá apagado, bebeu muito. E tá pelado.
- Pelado?!
Sim. Havia um homem lá dentro, dormindo. Na verdade,
desmaiado de bêbado. É proprietário do imóvel onde funcionava o estúdio. Deve
ter chegado arriado, bufando de calor, entrou direto, sem pensar (de que
jeito?) tomou uma chuveirada e desabou na cama do aparelho de exercícios. Sem
roupas.
O moço, constrangido, ainda insistiu. Aguardamos.
- Chamei,
cutuquei, mexi nas pernas. Ele não acorda, não.
- Como é que a gente faz?
- Não faz. Ele não vai sair.
A solução oferecida pela fisioterapeuta foi fazer a
aula de pilates na minha casa, proposta imediatamente aceita. Não faltou nenhum
dos sentimentos normais diante de um cenário tão esdrúxulo: espanto, raiva pela
falta de respeito e pela total desconsideração com a pessoa que utiliza e paga
pelo espaço, frustração.
Aula feita, passo a repensar sobre o episódio.
Conheço o sujeito que dormia no estúdio. Mora nos fundos e está sempre por
perto, perambulando aqui e ali. Um tipo grandão, corpulento, bem alto. Fala
grosso, mas nunca nos destratou. É desleixado, sujo. Além de beber, fuma muito
e por isso cheira mal. Respira tão ofegante, que a gente ouve à distância. Jamais
demonstrou respeito com o local de trabalho dos outros. Entrava e saía quando
bem entendia, com ou sem alunos em atividade. Minha fisioterapeuta já reclamara
sobre essas liberdades. Deu em nada.
As pessoas da família parecem imperturbáveis. Que se
dane o cara e também se danem a profissional e seus alunos. O rapaz que nos
atendeu chamou duas vezes e, sem sucesso, simplesmente disse “Ele não vai sair”,
com uma expressão de que estava tudo bem. Ou seja, f-se.
Voltando ao meu repensar: acabei rindo da situação. Imaginei
aquele tipo grosseirão pelado, dormindo a altos roncos, babando, totalmente à mercê
do álcool correndo nas veias, em plena cama de exercícios. O que me restou foi
dar muita risada pelo inusitado da coisa.
Desplante à parte, não voltamos mais. O fim já estava
próximo e, suponho, o caso do homem pelado foi a gota d’água, ou melhor, de
álcool.
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