Leio numa postagem na rede social uma oferta de emprego para
repórter, em um jornal no interior do Estado. Contrata-se profissional ou
estudante de 7º ou 8º período. Na hora pensei “E o salário, é o mesmo nos dois
casos? A um jornalista experiente está sendo oferecida a mesma remuneração que
será paga a um estudante?”. A gritaria foi inevitável nos comentários, a
responsável pelo post tentou se justificar, mas não convenceu, só que, no fim
das contas, apesar da indignação geral, lá estava ela de volta, agradecendo
pelas dezenas de currículos recebidos.
As pessoas precisam dos empregos. Paguem o que pagarem, não
dispensam a oportunidade. Não há espaço para debates éticos, coerência ou
concorrência desleal. Aliás, imagino que muitos sequer aprenderam de que se
trata tudo isso. É assim que a banda anda tocando faz tempo.
Sem entrar no mérito da necessidade de sustento, penso na
deseducação da sociedade, cujo cidadão chega a se permitir tais ações de
desrespeito - consigo e com os outros -, por desconhecer interesse coletivo e o
quanto isso acaba respingando nele lá na frente. Nossa cultura estimula o
individualismo e tal comportamento está cada vez mais naturalizado. Quem se
preocupa e se ocupa do bem-estar coletivo é um otário.
E dessa forma, enquanto profissionais de qualquer categoria
se sujeitam a ser contratados pelo mínimo do mínimo, com seu salário equiparado
ao de um estudante, sem levar em conta currículo, anos de experiência e
qualificações, seguimos em queda livre no que tange à valorização do trabalho.
Aliás, parece que isso é desejo de poucos, principalmente de contratantes, que apertam o gargalo, forçando
a aceitação de qualquer coisa em troca da minha mão de obra e, principalmente,
do meu conhecimento. E cada vez mais deixam-se de contratar assessores de imprensa,
por exemplo, porque dá pra aproveitar o “rapazinho do RH que escreve direitinho”.
Quase em todas as vezes que sou sondada para ministrar
palestras ou oficinas, surpreendo o contratante no primeiro contato, ao
comunicar que minha atividade é remunerada, como se precisasse avisar. E na
maioria das vezes nem perguntam, como se estivessem me propondo um favor. São
vinte e cinco anos de carreira, com milhares de horas dedicadas a leitura e
estudo. Com exceção das palestras que faço sobre a minha experiência com o
câncer de mama, e as propostas que já nascem beneficentes, tudo é trabalho. O
problema - motivo deste texto - é o jornalista-escritor-poeta-palestrista-oficineiro
que faz qualquer coisa por qualquer trocado, até por trocado nenhum. E então,
quem estuda uma vida inteira para ter um conteúdo de qualidade a oferecer vale
o quê mesmo? E qual o interesse do “profissional” em ministrar palestra ou
oficina gratuitamente num evento patrocinado, de iniciativa privada? Vai saber…
Como disse, mais adiante será ele próprio o prejudicado pelo costume do qual
fez ou faz parte. Ou o cliente. E não sei o que é pior.
Meses atrás fui contratada para revisar um livro que já
havia sido revisado por outra pessoa, mas o autor não ficara satisfeito. Pedira
a um amigo da família que quebrasse o galho, pois esse tipo de serviço costuma
sair caro; pensava que qualquer pessoa pudesse “dar uma olhadinha”, e tal. Pois
é, caro sairia para ele, o autor, caso publicasse a obra.
De graça, não dá. O profissional cobra porque é qualificado
para a atividade, pagou pela qualificação e se responsabiliza pelo trabalho que
executa. Como aquele diálogo que circula na internet:
“Você ta me cobrando 50 reais por um serviço que faz em
cinco minutos?”
“Não. Estou te cobrando só 50,00 pra fazer em cinco minutos
uma atividade que levei anos para me qualificar pra fazer.”
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Um comentário:
Isso é algo que está se tornando comum nas bandas de cá. Tem que ser mesmo combatido!
Eu ainda levanto aqui outra questão: no post fica claro que tanto faz se é formado ou estudante, se tem experiência ou é inexperiente, se é criativo ou mecânico... Não discordando de você, mas complementando, acho que se está valorizando o trabalho e desvalorizando o profissional (ou tanto faz)
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