9 de dezembro de 2014

Outra vez Natal

A alegria com esta época durou pouco. Quando comecei a ter noção do que era o Natal para o mundo lá fora e o que representava, realmente, comemorar o nascimento de Jesus, passei a desgostar gradativamente. Caio nessa mesmice ano a ano, mas não me canso de lamentar: não encontro o fundamento da comilança e bebelança em que se tornou o que antes se conhecia como a celebração no nascimento de Jesus.

Criada numa família católica, acostumei-me a acreditar nisso – e ainda creio. Penso que seja esse o motivo de tamanha aversão às festanças promovidas na madrugada de 25 de dezembro. Por mim, se seguisse apenas a minha vontade e os meus sentimentos mais íntimos, passava a noite de Natal em casa, em silêncio, sem agitação, quieta, meditando e agradecendo por tudo o que sou, pelas conquistas pessoais, a harmonia e o amor dentro do meu núcleo familiar, a saúde.

Também me repito com as críticas ao Natal brasileiro, comprado das culturas norte-americana e europeia. Sinto arrepios e calafrios ao entrar nos shoppings e ver a decoração inspirada no inverno polar: ursos brancos, muita neve, pinheiros e aquele Papai Noel vestido de veludo, vermelho de calor, brilhando de tanto suar. Cenário que seria surreal, se não estivesse tão naturalizado por aqui. Espero o dia em que verei um slogan parecido com “Natal tropical no shopping”. Seria o máximo.

No entanto tive filho e se tem um ser nessa vida que nos move a fazer concessões sorrindo de felicidade, é filho. Mesmo mantendo o que penso sobre o Natal de hoje, tento manter a tradição, estimulada pelo meu filho. Montamos árvore, decoramos a casa e a fachada. Instalamos luzes, como aquela estrela que, segundo a Bíblia, mostrou aos Reis Magos onde estava Jesus.

Vejo a casa toda iluminada e penso no que aprendi a acreditar. Uma crença que me faz muito bem. O Natal que resolvi construir pra mim é esse: tem luz ao meu redor, tem sossego, tem paz e serenidade. Não tem mágoa, não tem rancor, portanto não tenho ninguém a perdoar. Nada como o coração leve para, enfim, ver outro sentido nessa data tão importante para os cristãos, deturpada pelas exigências cada vez mais brutais do capitalismo. Exigências que cumpro, por certa elegância, digamos assim.

Estou sentada há horas, escrevendo. De vez em quando levanto o rosto e na direção dos meus olhos está a árvore de Natal. Tão moderninha, comprada pronta, cheia de laços, borboletas e bolas estilosas, me remete à infância, quando minha irmã mais velha saía em busca de um tronco seco adequado para montar a nossa árvore. Ela ‘plantava’ o tronco numa lata grande, cobria todos os galhos com algodão e pendurava as bolinhas, que eram de vidro e a mãe não me deixava chegar perto, pra não quebrar. O clima era outro. “Eu não sei por que a gente cresce...”, dizia muito bem Ataulfo Alves.

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