Demorei muito para entender aquela percepção. Ou melhor,
foram necessários os anos de leitura, estudo e aprendizado com a própria vida
para compreender que não se pode prescindir delas. A partir delas que é ‘fabricada’
a água que se precipita em forma de chuva.
Florestas tropicais como a Amazônia produzem grandes
quantidades de água por meio da evaporação de água na transpiração das folhas e
vegetação em geral, criando nuvens de chuva que levam suprimentos vitais de
água para outras regiões do país. Uma árvore
adulta pode absorver do solo até 250 litros e transpirar até 60 litros de água
por dia. Mais de dois bilhões de pessoas dependem das terras florestadas
para proteger seus suprimentos de água. Regiões desmatadas podem perder
até 90% da água da chuva.
A equação é simples; o entendimento, precário. Autoridades,
profissionais técnicos de diversos segmentos, bandidos que assaltam as matas
diariamente e, claro, os demais criminosos que permitem e fecham os olhos para
a derrubada das florestas, trocam a compreensão de uma premência por interesses
diversos.
Parece tão simplória essa fala. Porém, é dessa forma
bem simples que se deve esclarecer por que precisamos de árvores, por que não tapar
todo o solo com asfalto e cimento, por que defender cada arbusto contra cortes
indiscriminados, por que brigar incansavelmente não só pela Floresta Amazônica,
mas por qualquer concentração de mata, por menor que seja. Onde tem árvore, tem
fabricação de água e de oxigênio.
Numa crônica de 2008, cito texto de Rubem Fonseca, “Pensamentos
Imperfeitos”, no qual ele afirma ser impossível alguém que não goste de
árvores: “Não falo do sujeito, índio ou não, que faz a queimada para plantar mandioca,
soja, cana de açúcar ou lá o que for. Esse vai direto para o inferno, mesmo
jurando para São Pedro que fazia isso para conseguir o leite das crianças. Falo
das pessoas que me cercam, que vivem na minha cidade e não têm qualquer razão
para destruir, desprezar, ou até mesmo ignorar a existência das árvores”.
Recentemente perguntei a uma conhecida por que tinha
derrubado o sombreiro que há tantos anos estava lá, no jardim ao final da rua,
de frente para sua varanda: “As raízes estavam entrando embaixo da casa e
levantando o piso”. Ah, tá. E quem chegou primeiro? Por que não se pensou em um
projeto para manter a árvore no seu lugar, sem prejudicar a edificação? Faltou arquiteto,
boa vontade ou inteligência? E que tal não ter oferecido para venda aquele lote,
porque havia uma árvore ali que deveria ser preservada? Já fiz perguntas semelhantes
em ocasiões diversas. Jamais houve uma resposta convincente, nem do tipo: “é
mais fácil cortar a árvore, que pensar”.
Pensar. É isso o que se está tentando ensinar a muitas
crianças, nas poucas oportunidades em que professores conseguem com que os
pequenos reflitam. É essa garotada, ainda, a melhor multiplicadora de
informação, a que leva para casa a orientação para pais e irmãos. É preciso
ouvi-los! É preciso insistir cada vez mais com essa geração. Pois pode ser ela
que, para sobreviver, terá que usar a inteligência que desperdiçamos para encontrar
a solução que não conseguimos até hoje. E olha que é fácil, muito fácil. No
entanto, está ficando pra depois.
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