12 de novembro de 2014

Caminho trágico

Chamam de adolescentes, mas, pra mim, são crianças. Aos 12, 13 anos, esses seres acabaram de sair das fraldas. Podem ter 15 ou 16, frequentar festas, beijar na boca, fazer sexo liberadamente, usar drogas, se prostituir, abortar, emocionalmente são crianças. A identidade está no comecinho de sua formação, os hormônios, em efervescência, provocam de tudo um pouco no corpo e no cérebro. Não há a menor chance de exigir equilíbrio, serenidade, raciocínio, projeção de futuro, noção de perigo. Eles são frágeis e, por mais que nos surpreendam com um crescimento físico veloz, precisam de ajuda, precisam ser supervisionados bem de perto.

Só que agora eles resolveram aderir à moda do suicídio.

Em Volta Redonda, no sul-fluminense, recentemente duas dessas crianças, de 15 anos - um menino e uma menina -, foram estimuladas a se matar. E se enforcaram em suas próprias casas, no curto espaço de oito dias. As investigações da polícia apontam para grupos de motivação, na rede social, criados e administrados com esse objetivo. Na verdade, seria um pacto de morte. Para os alunos das escolas onde estudavam, é certo que exista um jogo por trás disso e que outras mortes estariam para acontecer. Após o suicídio dos dois adolescentes, três grupos foram descobertos na cidade - até agora sem confirmação de que tivessem algo a ver com o caso. Um deles era administrado por uma menina de 12 anos.

Todo esse relato é pra lamentar o quanto de abandono sofrem essas crianças, ainda que cresçam em lares com famílias teoricamente harmônicas, sem privações de ordem financeira. Mais triste é constatar o alto nível de ignorância com que se trata assunto tão grave. Primeiro, por parte da própria sociedade, que não é capaz de vencer esse tabu. Do outro lado está a mídia, que sempre evitou a cobertura desse tipo de ocorrência, sob a justificativa de não promover o encorajamento. E há uma parcela considerável dos que se referem ao suicida como irresponsável, maluco, burro, numa intenção clara de desqualificar o indivíduo e sua atitude, isolando-o em sua ‘audácia’, quando o problema na verdade é de saúde pública e merece um debate amplo, para que muitos dos doentes a nossa volta possam ser ajudados e protegidos de si próprios.

Mais que adultos doentes, estamos falando de crianças desnorteadas pela própria condição que a faixa etária impõe, soltos à própria sorte, absolutamente mergulhados em celulares e seus aplicativos, fechados para o mundo, porém abertos a incentivos vários, não observados por pais ausentes, preocupados demais com suas próprias vidas. Ou não preocupados com coisa alguma.

Fico imaginando o tanto de solidão vivem essas crianças, com seus olhares atentos nas telas de seus aparelhos, acreditando em tudo o que veem ou leem, criando e vivendo em um mundo paralelo, no qual podem ser ‘entendidas’, enquanto pais, irmãos, tios, empregadas pensam que ‘assim estão bem; estão quietos e tranquilos’. Lembro a minha própria adolescência, quando não me sentia compreendida pelos meus pais e irmãos mais velhos, e me fechava em devaneios absurdos e desejos extremos nunca levados a cabo. A maior de todas as vontades era a de fugir para um lugar onde pudesse pensar por mim, livremente, ter minhas opiniões. Um lugar no qual não houvesse repressão ou opressão. Essa foi a minha realidade mental. Talvez possa dizer ‘que bom’ para o fato de não haver na época a internet.

Hoje o acesso e a recepção de todo e qualquer tipo de influência externa está ao alcance de um clique. E isso ocorre no momento em que o capital exige cada vez mais as famílias fora de casa. Como disse o delegado de Volta Redonda, Antônio Furtado, sobre a menina de 12 anos, “esses adolescentes necessitam de um acompanhamento psicológico, porque estão num caminho extremamente trágico”. Na minha humilde opinião, não só eles. 
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