A semana termina promissora. Planos e projetos sendo
tocados, aparentemente tudo dando certo. É preciso firmar a cabeça em cima do
pescoço, não desviar os olhos das tarefas e compromissos assumidos e fazer
acontecer. É preciso manter o nariz altivo, respirar profundamente, olhar
adiante e firmar o passo.
Por que esta introdução do tipo ‘pensamento positivo’?
É que a semana foi punk. Foi dureza fazer a segunda
chegar a sexta e ainda passar o sábado e o domingo quase inteiros trabalhando,
sem aquele tempo que seria necessário para digerir o último sapo que a vida me
enterrou goela abaixo. É dureza amanhecer na segunda com a notícia da perda de
duas pessoas queridas, muito queridas, duas irmãs lindas. Destas pessoas que a
gente pensa que são imortais, tamanho o brilho, a juventude, a capacidade de alegrar
a todos a sua volta. Esta categoria de ser humano nos faz esquecer que a morte
existe. E isso é bom por um tempo.
Foi uma porrada, com o perdão da palavra. Tão forte
quanto uma rasteira, que nos joga no chão de repente e ali ficamos, antes de levantar,
tentando entender o que aconteceu. Abre-se uma ferida enorme, outras já
cicatrizadas voltam a sangrar, o corpo amolece, a cabeça tonteia.
Quanta dor se sente, quanta dor se assiste. Amigos transtornados,
olhos inchados, olhares perdidos, uma mãe enlouquecida, interrogações no ar e a
cena que não sai da memória: ver as meninas pela última vez e chorar por saber
impossível encontrar novamente pelas ruas aqueles dois sorrisões solares.
“Gente do céu! O que estamos valorizando nesta vida, meu Deus?”,
disse uma amiga ao entrar e ver tamanho sofrimento nos rostos de todos os
presentes e nossas amigas ali, apesar de não mais. A pergunta está registrada
na mente: o que é importante de verdade? O que estamos fazendo? O que eu estou
fazendo que realmente valha a pena?
Como diz outra amiga, “a semana levou uma vida inteira
pra passar”. O choro me acompanhou em todos os dias, em silêncio, pelos cantos,
sozinha.
Costumo afirmar que sou uma espírita de merda, porque
ainda me relaciono muito mal com este papo de morte, porque ainda me custa
muito aceitar certos desígnios divinos, apesar de compreendê-los por meio da
Doutrina Espírita. É justamente o que provoca a revolta nos que ficam: por quê?
Por que assim? Por que de forma tão estúpida? Por que agora? Por que fazer uma
mãe sofrer tanto com a perda de suas únicas filhas? Por quê?
Num papo com minha mãe, que viu dois filhos partirem num
mesmo ano, ela disse: “Fiquei sem querer falar com Deus por uns dias. É meio
ilógico na minha cabeça. Como orar justamente Àquele que praticamente me
arrancou o coração?”.
E fica tudo por isso mesmo, porque é preciso seguir em
frente. Ficam a experiência da perda e a reflexão de que a vida é mesmo rara e
precária, como escrevi na rede social na segunda-feira. E que este Deus que a
gente acredita, mas não entende, possa nos confortar.
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