Em princípio, fiquei sem saber o que responder, pois não me surpreendi
com a decisão da atriz; ela é apenas mais uma que lançou mão do recurso na
tentativa de se prevenir contra o câncer de mama. Este rebuliço todo só
aconteceu porque ela é ela. Outras celebridades internacionais, como Sharon Osbourne,
mulher do Ozzy Osbourne, e as atrizes Christina Applegate e Wanda Sykes não titubearam: ante a possibilidade de
desenvolver o câncer, optaram pela mastectomia preventiva.
Aqui no Brasil, entre as famosas temos a temos a Rita Lee, que em 2010
se submeteu à cirurgia de retirada radical das mamas, após constatação de alto
risco detectada por pesquisa genética. “Minha ginecologista aconselhou a
retirada das mamas, algo que não fez muita diferença, uma vez que as minhas já
eram pequenas. Prefiro ficar sem peitos e tranquila a ficar com eles e
paranoica”, afirmou.
Descobri um nódulo aos 39 anos e, poucos meses depois, já com 40, vim a saber
que na verdade carregava um tumor de quatro centímetros na mama esquerda. Era e
ainda sou muito nova. Meu filho estava com 11 anos. Não poderia dizer hoje se
me submeteria ao mesmo procedimento de Angelina Jolie, mas ao analisar minha
situação na época, penso que não descartaria a possibilidade, caso fosse
alertada sobre o percentual de risco. Assisti a entrevistas de mulheres nas
ruas afirmando que não tomariam uma ‘decisão tão precipitada’. É nítido nestas
mulheres o medo de perder a mama, a feminilidade, sofrer com uma drástica
alteração estética. Compreensível, claro. No meu caso, entretanto, como já vivi
o problema, posso dizer que a perda dói, sim, no fundo da alma, mas estar viva e
saudável é realmente o que importa.
Por tudo isso é preciso, antes de qualquer coisa, muita coragem. É o que
penso de Angelina Jolie. Uma mulher corajosa, mãe de seis filhos, que aos 37
anos preferiu radicalizar a deixar que o câncer radicalizasse com sua vida tão
cedo. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse em entrevista que além de
várias outras consequências da cirurgia, há também o impacto psicológico. Mais um
motivo para reforçar minha opinião quanto à firmeza da decisão da atriz. A mãe
dela teve câncer de mama e morreu de câncer no ovário e a avó também enfrentou
a doença. Eram fortes as evidências do risco genético, estimado em 87% e
reduzido para 5% após a cirurgia, segundo a médica, Kristi Funk, que tratou a atriz.
Nem de longe concordaria com bobagens que ouvi, do tipo: “Será que não está
criando um fato pra chamar a atenção?”. Não creio que mulher alguma se
mutilaria com este objetivo e, pior, com uma equipe de médicos irresponsáveis a
concordar com tamanha maluquice. Câncer é assunto muito sério, o de mama é o
que mais mata mulheres no mundo, e mulheres cada vez mais jovens. La Jolie tem
apenas 37 anos e, pra mim, tem toda razão em reduzir seus riscos, já que esta
oportunidade lhe foi dada.
Por outro lado, é necessário colocar os pés no chão e analisar as
chances da maioria das pacientes quanto ao acesso a este tipo de procedimento. Poucas
têm condição de fazer pesquisa genética e a maior parte nem é informada sobre
isso. A cirurgia é cara, não é oferecida pelo poder público, ou seja, esta
opção ainda é para poucas, pouquíssimas. Portanto, vamos lá, mulherada, assegurar
a prevenção pelos meios difundidos maciçamente: autoexame periódico, mamografia
anual, visitas frequentes ao ginecologista. Com diagnóstico precoce, a cura é
possível. Garanto.
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3 comentários:
Texto perfeito, assim como as colocações! Vamos nos cuidar! Prevenir é sempre o melhor remédio! Com os recursos que temos!
Não tinha atinado para a ideia da mutilação. Estão olhando para a questão estética, mas uma decisão dessas é no mínimo um ato de coragem! Me surpeendi com a chamada no jornal, assim que o fato ocorreu, e pela linguagem empregada, parecia "mais um capricho". Sei de vários casos de mulheres que fazem estereoctomia e que, após isso, passam por questões psicológicas seríssimas! Apoio Jolie e apoio muito mais você, Giovana... que em meio aquilo tudo que passou, ainda mantinha seu bom humor e bom senso. Capricho ou não, Jolie foi corajosa por mutilar sim, suas mamas e reconstruí-las em seguida. Mas que ninguém mutile o bom senso das pessoas, sobretudo o dos jornalistas.
Belo texto! Ela é linda, minha musa!
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