A última pergunta, do meu amigo Thiago
Ferreira, no bate-papo “Mudando de assunto – o cotidiano no universo da
crônica”, que fiz na I Bienal do Livro de Volta Redonda, mexeu com minhas
caraminholas por alguns dias. Após falarmos sobre tema, linguagem, maiores
referências entre autores, leveza, cotidiano, estava já me levantando, quando ele
atirou: “Giovana, e como você cria os títulos?”.
Não precisei de tempo para raciocinar, afinal, sempre soube
que criar títulos é uma das minhas maiores dificuldades e, ao mesmo tempo, uma
grande exigência. Título deve ser curto, mas deve dizer tudo. Tem de ser
criativo, atrair o leitor, aguçar a curiosidade, mobilizar a vontade de baixar
o olho imediatamente para a linha abaixo, a primeira do texto. Disse tudo isso
ao Thiago e logo depois confessei que chego a passar dias com a crônica pronta,
sem encontrar um título ideal. E na maioria das vezes o que sai não é o que
gostaria.
Parece meio surpreendente a revelação, para leitores ou
amigos, de uma limitação – ou deficiência. Não posso saber o que o Thiago
sentiu ao receber minha resposta; sei é que muitos se decepcionam ao descobrir
que o escritor não é perfeito, como desejariam que fosse. E o episódio na Sala
de Debates da Bienal me fez lembrar uma pessoa que, após ler uma de minhas
crônicas, disse: “Muito bom o texto, mas achei o título fraco. Aliás, pensava
que você fizesse melhor que isso”. É preciso frisar que não pedi opinião,
análise ou avaliação. O que ouvi foi uma afirmação espontânea. Hoje consigo rir
da situação, porque tenho aprendido a conviver com o que posso e a entender que
as pessoas também pensam como podem, como disse Mário Quintana.
Estas expectativas desleais, tão bem cantadas por Vanessa da
Mata, aparecem de todo jeito. Nossos leitores, mesmo sem saber, as têm, pois
querem muito de nós, mais, muito mais do que podemos oferecer. Algo muito
engraçado ocorre quando compram nossos livros. Acostumados a nos lerem e a admirar nossa criatividade, desenvoltura e bom desempenho com as palavras,
esperam (e isso é perfeitamente compreensível) que o autor tenha algo de
especial a dizer, nas dedicatórias. E é visível a decepção quando leem e se
deparam com um carinhoso “Para Zuleide, com um abraço do Zé Roberto.”. A gente tenta
o melhor sorriso, fala um ‘muito obrigada’ sincero, no entanto nada desfaz o
expressão frustrada do leitor, que, ainda com a capa aberta olha para o autor,
para o livro, para o autor, para o livro, meio sem entender por que não foi
agraciado com mais palavras, uma frase legal, puxa, ela escreve tão bem, por
que não disse algo bacana pra mim?
Um amigo, também escritor, chegou a brincar comigo durante a
Bienal, quando comprou meu livro. “Quero só ver o que você vai escrever pra
mim.”. Demos boas risadas, pois sabemos o que ocorre nestas ocasiões. Escreve-se
o que é possível, pois há mais gente aguardando, uns e outros querendo falar, pose
pra fotos, calor, e alguns goles de vinho garganta abaixo fazendo efeito. É humanamente
impossível ser criativo para dedicatórias exclusivas. Outro amigo, recentemente,
só faltou questionar “Só issooo?”, porém se limitou a dizer, com cara de
enfado: “Bem básico, né?”. Como disse, é compreensível. A pessoa lê, acompanha
o trabalho do escritor, vira fã e quer, de alguma forma, se sentir único, quer
que a dedicatória seja dele, só dele. Também sinto isso quando entrego um livro
a um escritor que admiro. São longos segundos ali, diante dele, querendo que me
veja diferente, que olhe pra mim e perceba o quanto esperei por aquele momento.
Entrego o livro ansiosa, quase trêmula, ele sorri, pergunta meu nome e
escreve: “À Giovana, abraço, Zé Roberto.”. Ah, então tá.
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2 comentários:
Adorei. Não sou escritora mas, se fosse, creio que também seria muito difícil, para mim, a escolha de um título. Quanto a dedicatória sempre pensei em como deve ser cansativa uma noite de autógrafos. Haja criatividade. Não dá!
Não somos perfeitos e temos limitações como todos os mortais, apenas possuímos o dom da escrita!
Amiga, gosto de suas crônicas com o sem títulos!!!!
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