12 de maio de 2013

Não tenho título


A última pergunta, do meu amigo Thiago Ferreira, no bate-papo “Mudando de assunto – o cotidiano no universo da crônica”, que fiz na I Bienal do Livro de Volta Redonda, mexeu com minhas caraminholas por alguns dias. Após falarmos sobre tema, linguagem, maiores referências entre autores, leveza, cotidiano, estava já me levantando, quando ele atirou: “Giovana, e como você cria os títulos?”.

Não precisei de tempo para raciocinar, afinal, sempre soube que criar títulos é uma das minhas maiores dificuldades e, ao mesmo tempo, uma grande exigência. Título deve ser curto, mas deve dizer tudo. Tem de ser criativo, atrair o leitor, aguçar a curiosidade, mobilizar a vontade de baixar o olho imediatamente para a linha abaixo, a primeira do texto. Disse tudo isso ao Thiago e logo depois confessei que chego a passar dias com a crônica pronta, sem encontrar um título ideal. E na maioria das vezes o que sai não é o que gostaria.

Parece meio surpreendente a revelação, para leitores ou amigos, de uma limitação – ou deficiência. Não posso saber o que o Thiago sentiu ao receber minha resposta; sei é que muitos se decepcionam ao descobrir que o escritor não é perfeito, como desejariam que fosse. E o episódio na Sala de Debates da Bienal me fez lembrar uma pessoa que, após ler uma de minhas crônicas, disse: “Muito bom o texto, mas achei o título fraco. Aliás, pensava que você fizesse melhor que isso”. É preciso frisar que não pedi opinião, análise ou avaliação. O que ouvi foi uma afirmação espontânea. Hoje consigo rir da situação, porque tenho aprendido a conviver com o que posso e a entender que as pessoas também pensam como podem, como disse Mário Quintana.

Estas expectativas desleais, tão bem cantadas por Vanessa da Mata, aparecem de todo jeito. Nossos leitores, mesmo sem saber, as têm, pois querem muito de nós, mais, muito mais do que podemos oferecer. Algo muito engraçado ocorre quando compram nossos livros. Acostumados a nos lerem e a admirar nossa criatividade, desenvoltura e bom desempenho com as palavras, esperam (e isso é perfeitamente compreensível) que o autor tenha algo de especial a dizer, nas dedicatórias. E é visível a decepção quando leem e se deparam com um carinhoso “Para Zuleide, com um abraço do Zé Roberto.”. A gente tenta o melhor sorriso, fala um ‘muito obrigada’ sincero, no entanto nada desfaz o expressão frustrada do leitor, que, ainda com a capa aberta olha para o autor, para o livro, para o autor, para o livro, meio sem entender por que não foi agraciado com mais palavras, uma frase legal, puxa, ela escreve tão bem, por que não disse algo bacana pra mim?

Um amigo, também escritor, chegou a brincar comigo durante a Bienal, quando comprou meu livro. “Quero só ver o que você vai escrever pra mim.”. Demos boas risadas, pois sabemos o que ocorre nestas ocasiões. Escreve-se o que é possível, pois há mais gente aguardando, uns e outros querendo falar, pose pra fotos, calor, e alguns goles de vinho garganta abaixo fazendo efeito. É humanamente impossível ser criativo para dedicatórias exclusivas. Outro amigo, recentemente, só faltou questionar “Só issooo?”, porém se limitou a dizer, com cara de enfado: “Bem básico, né?”. Como disse, é compreensível. A pessoa lê, acompanha o trabalho do escritor, vira fã e quer, de alguma forma, se sentir único, quer que a dedicatória seja dele, só dele. Também sinto isso quando entrego um livro a um escritor que admiro. São longos segundos ali, diante dele, querendo que me veja diferente, que olhe pra mim e perceba o quanto esperei por aquele momento. Entrego o livro ansiosa, quase trêmula, ele sorri, pergunta meu nome e escreve: “À Giovana, abraço, Zé Roberto.”. Ah, então tá.
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2 comentários:

Unknown disse...

Adorei. Não sou escritora mas, se fosse, creio que também seria muito difícil, para mim, a escolha de um título. Quanto a dedicatória sempre pensei em como deve ser cansativa uma noite de autógrafos. Haja criatividade. Não dá!

www.elianedelacerda.com disse...

Não somos perfeitos e temos limitações como todos os mortais, apenas possuímos o dom da escrita!
Amiga, gosto de suas crônicas com o sem títulos!!!!