“O amor tem razões que a própria razão desconhece”? Sim, de
fato.
Quantas vezes já não ouvimos alguém dizer que esta mulher ou
aquele cara deixariam de ser gays, caso experimentassem o sexo oposto com
gosto? Parece ridículo dito assim, de forma tão preconceituosa, mas já ouvi
coisa semelhante de gente que falava com amor. Isso mesmo, amor.
Tive uma amiga que se apaixonou por um gay e não foi algo
passageiro ou pouco significativo. Acompanhei de perto a história e sofri com ela
pelo amor profundo não correspondido. Não na medida que ela esperava.
Eles eram amigos desde a adolescência, momento em que ele
foi tomado por sentimentos que não eram naturais no universo masculino. Ela
observou e viveu com ele as descobertas contrárias às expectativas gerais, ou
seja, tornou-se homem, com interesse sexual em homens. Cresceram, fizeram suas
vidas, cada um com suas opções, e num belo dia ela se descobriu apaixonada por
ele. “Acho que sempre foi assim; eu é que nunca me dei conta, afinal, somos
amigos”, disse, quando perguntei um “Como assim?”, espantada com a novidade.
E na certeza de que sentia mesmo amor, esperou que tanto
sentimento “puro, verdadeiro e incondicional” pudesse convencê-lo a mudar de
opção. Sofreu muito por isso. Até hoje tenho minhas dúvidas sobre este amor.
Eram tão amigos, tão próximos, conheciam tão bem um ao outro, que nela pode ter
surgido e crescido um conforto, uma sensação de segurança e acolhimento com o
carinho que ele lhe devotava. Sem contar os motivos que normalmente levam
mulheres a se aproximarem dos gays, afetivamente, segundo especialistas: são
fisicamente atraentes, perfumados, se vestem bem, têm sensibilidade para
entender as questões femininas em profundidade e ainda oferecem opinião a
partir do seu ponto de vista masculino. Perfeição, né?
Não falo aqui das conhecidas por Marias Purpurinas, que
estão nas baladas investindo claramente em cima dos gays, talvez por puro
divertimento ou apenas para testar seu poder de sedução. Segundo a psiquiatra e
sexóloga, Carmita Abdo, “muitas mulheres se sentem poderosas se conseguem seduzir
um homossexual”. Não foi assim com minha amiga; ela amargou um bocado aquele
amor por anos. Viveu muito tempo iludida, na esperança de que em algum momento poderia
fazer o cara mudar de ideia, ou melhor, de orientação. “Quem sabe não é
passageiro? Ele pode estar curtindo uma aventura, pode ser da idade...”. Tão
apaixonada, sequer se dava conta de que o amigo saíra do armário há tempos e
que não estava nem um pouco a fim de voltar atrás.
Conversei com ele uma vez. Não disse nada sobre o amor
platônico de nossa amiga em comum; apenas toquei no assunto. Tínhamos liberdade
e intimidade, o que me permitia perguntar, sem medo, sobre outras
possibilidades sexuais e amorosas. Nem mesmo para uma curtição temporária, como
fazem alguns gays com mulheres, ele estava disponível.
Um dia ela resolveu contar, sem esperar mais nada. Apenas
pensou que precisava ser honesta e confessar o que sentia. A amizade, claro,
virou fumaça, porque ela não queria mais ser somente amiga. Hoje ela está
casada, tem dois filhos, mora a mais de quinhentos quilômetros de Volta
Redonda. Ele permanece como sempre foi. Está casado também e continua por aqui.
Falamo-nos raramente. Passei um dia lembrando esta história, por causa de um
email que recebi dela, depois de muito tempo sem notícias. Os filhos cresceram,
estão independentes, e o marido é um companheirão. Não há como imaginar o que
seria o companheiro gay que um dia ela amou e desejou tanto. Mas, parece feliz,
ou talvez viva a “sorte de um amor tranquilo”.
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3 comentários:
Giovana, você abordou de forma inteligente um assunto muito polêmico.
Mas, que está sempre nas conversas rotineiras nas rodinhas de amigos. Em bares, boates e etc.
Você como sempre, escrevendo maravilhosamente bem. Parabéns!
Obs: Aguardo sua visita no meu novo. Seus comentários, sempre foram valiosos para mim.
blog:http://didimogusmao.blogspot.com.br/
Assunto polêmico esse! Achei bem interessante essa história. Isso acontece mais com as mulheres eu acho. Parabéns!
Acho que essa "paixão" acontece mais entre as mulheres sim. Até mesmo porque, as lésbicas são mais atraentes para os homens héteros e na maioria as vezes, acredito eu, elas aceitem se relacionar com homens e mulheres mais facilmente do que os gays com mulheres.
Ainda bem que ela consegui ir em frente e se deu bem no final!
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