17 de setembro de 2012

São coisas tão banais



Sentada no banco do carona no sinal de trânsito, observava a lua cheia, ainda bem amarelada, praticamente em linha reta com meus olhos, subindo. Enquanto olhava a lua, as pessoas passavam na faixa de pedestres. Cada uma com sua expressão, sua pressa, seus problemas, suas agendas cheias, seus passados, suas dúvidas. Ninguém se deu conta de que se virasse para o lado daria de cara com um espetáculo. Desses que vale a pena parar um pouquinho pra admirar. Garanto que relaxa. Mas, poucos ainda miram o céu de lua cheia e agradecem por ter ‘olhos de ver’ tamanha lindeza.

Na delegacia, a família faz Boletim de Ocorrência do golpe que sofreu - o ladrão propõe um assalto consentido, a pessoa que atende à porta acredita no vagabundo, permite que entre e o dito cujo leva o que bem entende. O detetive, calejado de tantas ocorrências iguais, sequer pergunta o tipo físico do vadio, nem que roupa usava, se estava de carro ou a pé. Nada. Não haverá uma investigação. É muito golpe idêntico acontecendo na cidade. E a família sai da delegacia com a sensação de ‘nada aconteceu’.

Cada vez mais eleitores afirmam que votarão nulo ou em branco. A maioria não sabe ou se esquece do quanto se lutou neste país para que tivéssemos o direito de escolher e votar. No caso das mulheres, então, só adquiriram tal direito em 1932. Sem contar os municípios, como o meu, que durante a ditadura militar foram área de segurança nacional, por isso seus prefeitos eram nomeados. Por outro lado, entendo a reação. O que há disponível para escolha por aí é tão ruim, mas tão ruim, que bate certo desânimo mesmo.

E tudo fica banal. A natureza, o crime, a política estão banalizados. Sobreviver, aqui e agora, sem olhar para o lado, sem se importar com o outro. Isso, sim, tornou-se normal. “Acontece com todo mundo, você tem que aceitar que acontece com você também.”. Tão banal, que parece até ridículo escrever a respeito. Porém, ainda assim, por que aceitar que crime é normal, que político picareta é normal? Porque só o próprio umbigo importa, não é mesmo? É. Até que um ladrãozinho de m* entre na sua casa.



Crônica publicada originalmente na minha coluna no jornal Volta Cultural - setembro/2012.
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Um comentário:

Mariana Collares disse...

Gi, querida, que lindo texto. Amei! Faço minhas as tuas palavras. Segue perplexa, pois é um Deus perplexo que faz mover as estrelas. Beijos. Mari.