Sentada no banco do carona no sinal de trânsito,
observava a lua cheia, ainda bem amarelada, praticamente em linha reta com meus
olhos, subindo. Enquanto olhava a lua, as pessoas passav am na faixa de pedestres. Cada uma com sua
expressão, sua pressa, seus problemas, suas agendas cheias, seus passados, suas
dúvidas. Ninguém se deu conta de que se virasse para o lado daria de cara com um
espetáculo. Desses que vale a pena parar um pouquinho pra admirar. Garanto que
relaxa. Mas, poucos ainda miram o céu de lua cheia e agradecem por ter ‘olhos de
ver’ tamanha lindeza.
Na delegacia, a família faz Boletim de Ocorrência do
golpe que sofreu - o ladrão propõe um assalto consentido, a pessoa que atende à
porta acredita no vagabundo, permite que entre e o dito cujo leva o que bem
entende. O detetive, calejado de tantas ocorrências iguais, sequer pergunta o
tipo físico do vadio, nem que roupa usav a, se estava de carro ou a pé. Nada. Não haverá
uma investigação. É muito golpe idêntico acontecendo na cidade. E a família sai
da delegacia com a sensação de ‘nada aconteceu’.
Cada vez mais eleitores afirmam que votarão nulo ou
em branco. A
maioria não sabe ou se esquece do quanto se lutou neste país para que
tivéssemos o direito de escolher e votar. No caso das mulheres, então, só
adquiriram tal direito em 1932. Sem contar os municípios, como o meu, que
durante a ditadura militar foram área de segurança nacional, por isso seus
prefeitos eram nomeados. Por outro lado, entendo a reação. O que há disponível
para escolha por aí é tão ruim, mas tão ruim, que bate certo desânimo
mesmo.
E tudo fica banal. A natureza, o crime, a política estão
banalizados. Sobreviver, aqui e agora, sem olhar para o lado, sem se importar
com o outro. Isso, sim, tornou-se normal. “Acontece com todo mundo, você tem que
aceitar que acontece com você também.”. Tão banal, que parece até ridículo
escrever a respeito. Porém, ainda assim, por que aceitar que crime é normal, que
político picareta é normal? Porque só o próprio umbigo importa, não é mesmo? É. Até
que um ladrãozinho de m* entre na sua casa.
Crônica publicada originalmente na minha coluna no jornal Volta Cultural - setembro/2012.
Crônica publicada originalmente na minha coluna no jornal Volta Cultural - setembro/2012.
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Um comentário:
Gi, querida, que lindo texto. Amei! Faço minhas as tuas palavras. Segue perplexa, pois é um Deus perplexo que faz mover as estrelas. Beijos. Mari.
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