De que você não gosta de comer? Pense; sempre há
algo insuportável ao paladar. Eu, por exemplo, detesto cebola. Não curto outras
coisas também, mas de todas, a mais horrorosa é a bendita da cebola.
Por quê?
Como a uva passa no Natal, cebola está em todas. É
figurinha carimbada na cozinha, seja crua, cozida, em picles, frita, assada,
confitada, refogada. Pode ser picadinha, fatiada, em rodelas ou mesmo inteira.
Não há quem cozinhe sem a danada.
Nem eu.
A comida de forno e fogão não sai sem cebola. Nos
refogados e cozidos, claro. Não há frango sem cebola, nem feijão, nem arroz. E
só. Crua, sem chance. Sinto ânsias só de imaginar meus dentes estalando um
pedaço ou mínimo cisquinho dela. Sério: tudo o que já estiver dentro volta, se
mastigar cebola crua.
Então, sofro com os exageros, como no caso das uvas
passas no Natal. Quem gosta de cozinhar com cebola, não deixa por menos: é
cebola na salada de folhas, na farofa, no caldo da moqueca, no macarrão, no
sanduíche, na maionese, no salpicão, no caldo verde, no hot dog, na sopa, no
pirão!
Estava aguada por comer um pirão de peixe e eis que
chega diante de mim uma cumbuca de pirão de cebola. Pedaçudas, gordas, al
dente, estalando, fazendo crec. Como reclamar? Só me resta não pedir de novo; não no
mesmo lugar.
Poucos se dispõem a compreender o desgosto dos
outros com algum ingrediente. Quando quero pedir um prato e esse é servido com
cebolas cruas, para que me chegue sem as tais, digo bem séria ao garçom: “Por
favor, escreva bem grande aí no seu bloquinho que sou alérgica”. Não sendo
assim, passo por fresca.
Já vivi situação desagradável em um almoço
comunitário, numa instituição religiosa (onde se espera a complacência dos
nossos pares). Ao me servir, senti do alto o aroma inconfundível de muita
cebola fresca picada na maionese. Preferi nem tentar, o que suscitou a
curiosidade em torno:
“Não vai comer?”
“Não, tem muita cebola e eu não gosto.”
Foi o suficiente para virar tema de deboche e de
olhares e narizes torcidos no resto da festa. Por isso, pergunto: do que você
não gosta? Pensando no que não comeria de jeito nenhum, seria capaz de
respeitar a outra pessoa que odeia o que você, de repente, adora? E a partir
daí, poderia pensar, por favor, em não picar dúzias de cebolas em todos os
pratos preparados, assim como fazem com as uvas passas na ceia de Natal.
A gente agradece. Sim, a gente. Tem mais um monte
por aí.
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