21 de janeiro de 2017

Cebola, não

De que você não gosta de comer? Pense; sempre há algo insuportável ao paladar. Eu, por exemplo, detesto cebola. Não curto outras coisas também, mas de todas, a mais horrorosa é a bendita da cebola.

Por quê?

Como a uva passa no Natal, cebola está em todas. É figurinha carimbada na cozinha, seja crua, cozida, em picles, frita, assada, confitada, refogada. Pode ser picadinha, fatiada, em rodelas ou mesmo inteira. Não há quem cozinhe sem a danada.

Nem eu.

A comida de forno e fogão não sai sem cebola. Nos refogados e cozidos, claro. Não há frango sem cebola, nem feijão, nem arroz. E só. Crua, sem chance. Sinto ânsias só de imaginar meus dentes estalando um pedaço ou mínimo cisquinho dela. Sério: tudo o que já estiver dentro volta, se mastigar cebola crua.

Então, sofro com os exageros, como no caso das uvas passas no Natal. Quem gosta de cozinhar com cebola, não deixa por menos: é cebola na salada de folhas, na farofa, no caldo da moqueca, no macarrão, no sanduíche, na maionese, no salpicão, no caldo verde, no hot dog, na sopa, no pirão!

Estava aguada por comer um pirão de peixe e eis que chega diante de mim uma cumbuca de pirão de cebola. Pedaçudas, gordas, al dente, estalando, fazendo crec. Como reclamar? Só me resta não pedir de novo; não no mesmo lugar.

Poucos se dispõem a compreender o desgosto dos outros com algum ingrediente. Quando quero pedir um prato e esse é servido com cebolas cruas, para que me chegue sem as tais, digo bem séria ao garçom: “Por favor, escreva bem grande aí no seu bloquinho que sou alérgica”. Não sendo assim, passo por fresca.

Já vivi situação desagradável em um almoço comunitário, numa instituição religiosa (onde se espera a complacência dos nossos pares). Ao me servir, senti do alto o aroma inconfundível de muita cebola fresca picada na maionese. Preferi nem tentar, o que suscitou a curiosidade em torno:

“Não vai comer?”
“Não, tem muita cebola e eu não gosto.”

Foi o suficiente para virar tema de deboche e de olhares e narizes torcidos no resto da festa. Por isso, pergunto: do que você não gosta? Pensando no que não comeria de jeito nenhum, seria capaz de respeitar a outra pessoa que odeia o que você, de repente, adora? E a partir daí, poderia pensar, por favor, em não picar dúzias de cebolas em todos os pratos preparados, assim como fazem com as uvas passas na ceia de Natal.

A gente agradece. Sim, a gente. Tem mais um monte por aí.
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