Uma amiga me perguntou como está o ninho vazio.
(Pra quem não sabe: é quando os filhos vão embora pra
assumir seus próprios encargos neste mundo e a casa fica de um jeito que toda
hora é nó na garganta.)
Minha resposta ficou vaga, confesso. Não sei
explicar claramente o que sinto sobre essa ausência. Não me vejo como a mãe que
a sociedade considera normal, aliás, nem meu filho me vê dentro da caixinha.
A educação dele foi libertária, com base em amor,
respeito e liberdade de escolha. Os amigos e as mães dos amigos estranhavam ao
ouvi-lo contar: “minha mãe diz que eu tenho de ir embora, estudar longe e ficar
por lá”. Ele cumpriu o mandato e a mãe ficou satisfeita. Sério. Com choro, mas sem
nem um pingo de dúvida do estímulo certeiro que dei.
Já vi mulheres dizendo de tudo um tanto sobre seus
ninhos vazios. Da boca pra fora, da boca pra dentro, com estardalhaço,
deprimidas. Já vi filha voltando em definitivo pra casa com pena da mãe que
ligava todas as noites chorando. Já vi mãe que se desfez em lágrimas durante os
cinco anos em que o filho estudou fora. Já vi mãe que largou tudo pra trás e
foi atrás da filha (essa história foi um desastre!).
Não há receita para viver. Não há dica milagrosa,
simpatia, nem mágica. No meu caso, foi uma afirmação elementar: não educá-lo
pra ficar agarrado na minha saia ad
eternum. É cruel demais exigir isso. É o que penso. Pragmática que sou, foi
mais fácil planejar e me programar para entregar meu rapaz à própria vida, até
porque, se eu não entregasse, iria assim mesmo. É como funciona a nossa
natureza e quem se recusa a ela, sofre.
Circula muito pelas redes sociais uma frase do Rubem
Alves, que diz: "Amar é ter
um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a
qualquer momento, ele pode voar.". Vai
voar, sim, pra quão longe desejar ir, sabendo que tem pra onde voltar, em terra
firme, se quiser ou precisar. Jamais deixarei de ser a mãe, e com o respeito
mútuo que cultivamos, viveremos bem um com o outro, ainda que à distância.
O ninho está vazio. Perfeito para escrever, estudar,
vagabundear pelas redes sociais; pra me dedicar sem interrupção ao trabalho
minucioso de pesquisa, aprendizado, criação e montagem de terrários; pra tomar
café comigo, tomar cerveja comigo, ir ao cinema no meio da tarde comigo, ler no
sofá durante um dia inteiro sem interrupção. Tudo isso com plena certeza de que
o cara está feliz. Tão simples e tão complicado de absorver, né? Está feliz:
cursando o que escolheu por vontade dele, independente e autônomo como sempre
foi e como batalhei para que fosse.
O ninho está vazio. E nada me falta.
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