Saudade não é algo que se sente. Tenho pensado a
respeito. Saudade é algo que está em si. Nasce-se com ela, vive-se com ela e
vai-se embora da vida carregando-a junto.
O tempo todo há uma saudade presente, quase ostensiva, e
às vezes nem parece sentimento; há momentos em que parece mesmo orgânica, que faz
parte do corpo. Chego a imaginar que se ficar sem saudade dentro de mim, estarei
como de luto. Seria o luto de saudade da saudade.
Ou seja, ela não sai, não vai embora, não é retirável,
não morre com a morte, não se mata nunca. A saudade não se mata; é eterna.
Interessante é saber que o sentido ampliado da palavra
saudade só existe pra nós, que a expressamos e a ‘sentimos em Português’.
Originada no Latim, está, sim, em outras línguas, ao contrário do que se
costuma afirmar. Porém, quer dizer mais exatamente a falta do lar, uma vontade
de voltar à casa, uma solidão por isso. Já na Língua Portuguesa saudade que
dizer muito mais: é dor de toda ausência, uma dor que se pode dizer prazerosa.
Tão prazerosa que foi, é e será para sempre em versos, canções e prosa. E a
rima aqui é proposital.
Vinicius cantou: “Chega de saudade / A realidade é que sem ela / Não há paz / Não há beleza
/ É só tristeza / É só tristeza e a melancolia / Que não sai de mim.”. E Djavan
também: “Era tanta saudade / É pra matar / Eu fiquei até doente / Eu
fiquei até doente, menina / Se eu não mato a saudade / É, deixa estar / A
saudade mata a gente.”. Clarice abusou: “Saudade é um pouco como fome. Só passa
quando se come a presença.”. E Fernando Pessoa foi mais longe: “Saudades! Tenho-as até do que me não foi
nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida.”.
É incurável, pois que está
sempre aqui dentro, a lembrar algo que não terá mais volta. Ou terá, mas de
outra forma ou em outro tempo, quem saberá? A gente sente saudade até de não
sei quê.
Uma brisa fresca ao fim da
tarde... saudade; por do sol no outono... saudade; céu estrelado em noite
clara... saudade; música, perfume, comida, filme, andar na rua... saudade;
sonhar dormindo ou acordada... saudade. Um nome que nunca ouvi antes...
saudade.
Publicada originalmente na Revista Volta Cultural - Dezembro/2015
Publicada originalmente na Revista Volta Cultural - Dezembro/2015
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