Chorei um monte, aos soluços, como
criança perdida. Encostei o rosto na grade da janela do quarto e, na tentativa
de fazer uma prece, apenas chorei. E um poço de emoções transbordou ali, diante
do vento, do céu e das árvores, que no dia a dia contemplo com minha alegria de
sempre. Mas não agora, não depois de confirmada a informação que me arregalou
os olhos quando li, na rede social: “Pra quem quiser se despedir nesse momento
triste, (...) minha flor que agora habita o paraíso, será sepultada...”.
Pelo nome, ou melhor, pelo sobrenome
reconheci quem era a flor. Minha respiração parou. Nunca a vi, nunca trocamos
uma palavra, nem virtualmente; só sabia de sua existência por meio da irmã, uma
grande amiga. Li e reli várias vezes a mensagem, até tomar ânimo de perguntar à
amiga: “É ela? A sua irmã?”.
Após o doído ‘Sim’, ainda consegui
lhe dizer alguma coisa, oferecer conforto, porém o tempo já havia parado. Parou
meses atrás, logo após saber da doença que tomava parte do seu corpo, aquele
corpo que exibia fluidez ao dançar, o corpo que parecia etéreo nas fotos
visitadas à época na rede social, e que agora é fluido e etéreo em espírito. O
tempo parou naqueles dias em que a irmã, em busca de alento, procurou-me para
dividir sua apreensão e me perguntar se estaria disponível para conversar,
contar de minha experiência, falar de vida, de sonhos, de planos para depois de
tudo.
O tempo ficou parado lá, à espera da
conversa que não aconteceu, sabe-se lá por que. Lembro de minhas preces, dos
meus mais íntimos desejos de melhora, não somente física, mas emocional,
espiritual. Jamais esqueci sua história. Ficou guardada em algum lugar aqui
dentro.
E ontem, no meio da tarde, a notícia.
A surpresa. Sem saber de mais nada desde nem sei mais quando, respeitando o
silêncio que – sei muito bem como é – paciente e familiares buscam nesses
momentos, evitando a enxurrada de perguntas todo-dia-toda-hora, que podem
acabar incomodando, não fazia ideia de que estaria próxima a sua dança da
despedida. E se foi, bailar nas paragens do lado de lá.
Superei o câncer como todos os que me
leem sabem, mas esta doença abre uma chaga emocional que fica aberta, doendo, o
resto da vida. E assistir a outras pessoas sofrendo do mesmo mal e, pior,
sucumbindo a ele, mexe com todas as minhas células. Há ainda o agravante de ter
perdido para ele duas pessoas amadas. Uma delas, adorada. Por isso, posso
afirmar que sei o que minha amiga sente.
Há dores de todo tipo nesse mundo. Impossível
dizer qual a pior, a mais forte. Depende de quem a sofre, de quem a sente. Posso
apenas tentar, como faço aqui, desafogar a alma da dor de agora: a da impotência
diante do imponderável. O que fazer? Procurar aquela força que está sempre escondida
em algum lugar, aceitar, acalmar o coração. A vida que fica precisa seguir
adiante.
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