18 de novembro de 2013

Interpretação de texto? O que é isso?

Interessante a observação diária do comportamento de ‘comentadores’ nas redes sociais e na internet em geral. É desanimadora a constatação de uma ignorância generalizada, à qual se chega com a simples observação de que ninguém (ou muito poucos, se quiser ser otimista) sabe interpretar um texto. Se houver a mínima expectativa de que uma obra escrita seja devidamente apreciada, ou mesmo, se espera-se o conhecimento e a compreensão do gênero, melhor desistir.


Exemplos recentes me trouxeram à discussão, mais uma vez. O primeiro deles, a crônica Carinhoso em Pienza, do Luiz Fernando Veríssimo, em que afirma: “O assunto do cronista é sempre o próprio cronista. Ou seu próprio umbigo e suas circunstâncias.”. Sim! Crônicas são textos pessoalíssimos, sem nenhum compromisso com a formalidade que se espera de um artigo especializado, por exemplo. Embora a afirmação de Veríssmo tenha sido em outro contexto (falava de uma viagem que ele e o próprio umbigo fizeram àToscana, na Itália, e da quantidade de brasileiros que se esbarrava por lá), é significativa porque ratifica uma das principais características da crônica. O autor tem total liberdade para dizer o que quiser, como quiser. O texto é opinativo, por isso, pode concordar com o que melhor lhe aprouver ou discordar de tudo o que não lhe cai bem. Não tem obrigação de ser politicamente correto ou incorreto. No meu caso em especial, tenho compromisso com a informação, mas em todos os casos, a crônica é e sempre será um texto de opinião. E quem não concorda, não precisa perder seu tempo precioso na tentativa de fazer o autor a mudar o rumo da prosa. Também não adianta meter o pau. Opinião é opinião e pronto. É meio assim: discorda? F-se!


O outro exemplo vem do Antônio Prata e também é uma crônica. Para mim, Prata é, na atualidade brasileira, o melhor dos melhores em ironia, ou melhor, em ironia fina. Digo fina porque se trata de um texto em que o leitor precisa ser conhecedor do gênero para entender a brincadeira, digamos assim. Este meu predileto foi metralhado em comentários à sua crônica Guinada à direita e o motivo de tal reação é único: ignorância. Para quem lê sempre - por gosto, por hábito, por prazer em estudar o que está lendo - já nas primeiras linhas é possível identificar o quão inverossímeis seriam aquelas palavras, não fossem criadas para o que resultou numa encantadora e bem humorada sátira. Para os outros - a categoria dos que nunca aprenderam interpretação de texto - sobrou a execração do autor ou os parabéns pela repentina lucidez (!).


E ainda há os outros tantos que sequer leem - ou mal passam os olhos em um título - e já saem fazendo considerações diversas, numa enxurrada de nadica de nada com coisa nenhuma que, quando não causam espanto, podem ser consideradas peças de humor raro. Já houve ocasião em que reli o texto para tentar entender o sentido de um comentário e, claro, concluí que o intelectualoide de plantão é que não lera bulhufas. Sempre assim.


Ai, que preguiça!
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Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Geovana... você não merece que fique ali escrito "0 comentários"... Seus textos e referências são muito interessantes, realistas, e divertidos... sempre me lembro de vc qdo quero ler alguma coisa aqui da nossa região.
Ah... e pra ler comentários de leitores, meu Deus... haja saco!!
Até
Marcelo