Não sou indiferente a preconceitos, por exemplo. Odeio todos, de todos os tipos, inclusive os que ainda se agarram a mim e dos quais ainda – disse ainda, de novo – não consegui me libertar. Posso ser indiferente a racistas, pois não merecem minha atenção, a menos que necessitem de um passa-fora, tipo peteleco que se dá em inseto incômodo, em casos menos significativos – piadinhas sem graça –, ou uma denúncia em alto e bom som quando a ofensa é gravíssima.
Sou permanentemente intolerante com a intolerância.
Não sou indiferente à falta de educação. Seja no trânsito, em restaurantes, supermercados, filas. Tenho horror a quem joga lixo no chão e fala exageradamente alto em qualquer lugar.
Não sou indiferente à crueldade cometida diariamente contra animais indefesos, vítimas de crimes cometidos pelos próprios guardiões. Não sou indiferente ao sofrimento imposto aos touros em rodeios. Não sou indiferente aos cães abandonados por seus donos por motivos vários. Não sou indiferente à falta de política pública decente que ponha fim a esta vergonha.
Não sou indiferente à mentira, à omissão, à injustiça.
Não sou indiferente à ignorância imposta por uma educação capenga.
Prefiro ser indiferente aos arrogantes e prepotentes. Sou impaciente com a deselegância dos que pensam ser os donos do mundo, da situação ou da verdade. Aos que se autodenominam sábios e não têm ideia do que dizem, pois os sábios não se dizem sábios. A esses, viro as costas solenemente, com toda a indiferença que consigo reunir.
Sou indiferente aos discursos aprendidos lá naquele “mundo que formou a nossa percepção e que já não existe” [Sorj]. Sou indiferente a pré-ocupações desnecessárias. Sou indiferente a vidas que não me pertencem, temas que não me digam respeito, palavras versadas entre as paredes alheias, sexo dos outros, homossexualidade de quem quer que seja.
Sou indiferente a opiniões que não complementam ou preencham o que preciso para entender do meu próprio viver e para melhorar as minhas relações humanas. Sou indiferente às pequenas importâncias inventadas em mentes ignaras. Sou indiferente a falatórios sem fim, pessoalmente, por telefone, ou por meio virtual, em que se repetem intenções grotescas, discursos inúteis em desperdício lamentável de tempo.
Não sou indiferente ao que realmente faz sentido neste mundo, que é viver bem, de jeito leve, sem pensar no que os outros vão pensar, compreendendo que “cada um pensa como pode”[Quintana]. Eu penso assim.
Publicado originalmente em Revista Benfazeja
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