Era o que sentia todo o tempo, naqueles dias em que a
vida não deixa esquecer. Quando acordava e se dava conta da realidade, lá
estava ela, de volta à mente, a torturar sem piedade. E pasmava: “Isso
é inacreditável”.
Não porque não aceitasse, mas, creiam, era mesmo
inacreditável. Assim, de repente, tudo aquilo, um furacão derrubando e
destruindo tudo, deixando apenas um fio da corda para o sustento do corpo, um tênue
fio de esperança, para um recomeço.
Um tênue fio que salvou tudo, um aceno, um alô. Um fiapo de
perspectiva se mostrou como uma imagem divina, um deus, um santo, um ‘sim, você
pode’. E com as mãos trêmulas segurou, num gesto delicado, quase fraco pela própria condição, porém resoluto de que ali estava tudo o que tinha. E teve.
A incredulidade permanece.
Olha no espelho e admira o que ficou - muito de antes está diante de si; outro tanto se foi naquela intempérie. “Você está bonita”, diz àquela
que vê, ao passo em que enxerga outra em seu lugar. Quem está
bonita, afinal? A do espelho ou quem? E mais uma vez se espanta: “Que
inacreditável!”.
Para isso existem o inverno, os longos períodos de chuvas, as
tempestades. É a natureza a interromper os ciclos para a reflexão. É um agrado da
vida, um presente sutil para ser usado com inteligência. Aproveitar o recolhimento
forçado e parar. Pra pensar.
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2 comentários:
Simplesmente, bom!
Muitas vezes esses "invernos" nos são impostos. E aí sim, paramos e vamos analisar os estragos.
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