Bichos que não gosto

Sim! Há bichos dos quais mantenho distância segura. Não é porque sou defensora e protetora de animais que me exponho a situações de risco, como é o caso das cobras. Ainda bem que elas vivem bem longe e não preciso sequer pensar em como seria uma convivência, digamos, lado a lado. Meus dedos dos pés se contraem só de vê-las nos programas televisivos. Não chamaria a isso de medo, pois vivem lá, né? Não corro riscos. Como não posso dizer que tenho medo de tigres, leões e seus semelhantes, que vivem na selva, embora já tenha gravado uma passagem de reportagem de TV dentro de uma jaula, em companhia de três felinos. Coitadinhos, acho que estavam mais medrosos que eu naquele momento. Hoje sei o quanto sofrem para estarem nos picadeiros.

O problema está em dividir a casa com aqueles bichos, ou melhor, bichinhos peçonhentos, que pelo tamanho poderiam apenas provocar risos, mas que causam repulsa ou certo pavor, porque são horripilantes, argh! Nunca tive medo de nenhum deles, mas também não gosto de aproximação além do limite máximo aceitável. Barata, corro atrás delas até matar; enquanto não acerto o chinelo ou dou-lhe um banho caprichado de inseticida não fico satisfeita. O mesmo ocorre com moscas e mosquitos. Aranhas, se estiverem fora de casa, deixo quietas. Há uma jabuticabeira no meu quintal, onde moram várias. Se as teias não atrapalham a circulação dos humanos, deixo-as quietas.

Meu drama mais recente tem sido as lacraias. Até o nome é horroroso. Pense: fazemos cara feia quando ouvimos a palavra barata simplesmente porque lembramos que ela é asquerosa, mas b-a-r-a-t-a não é um vocábulo que soa mal ao ouvido. Também não incomoda ouvir escorpião ou gafanhoto (esse é bonitinho), mas lacraia é demais. Por que não a chamamos de centopeia, que é mais simpático? Preferiria até mesmo me aventurar na tentativa de chamá-la pelo nome científico – Scolopendra gigantea. Evitaria alguns arrepios.

E não existe bicho asqueroso bonito; não combinaria, claro. Todos são medonhos. A gente nem quer saber se morde, se mata, se dói. É feio, pronto. No caso das lacraias, a picada provoca dor intensa, inchaço. Em acidentes com as de maior porte também podem ocorrer febre, calafrios, tremores e suores, além de uma pequena ferida. Maior porte quer dizer que elas podem passar dos 20 centímetros e, grandonas assim, se alimentam de lagartixas, camundongos e até filhotes de pássaros. Para tudo!

E não é que elas insistem em morar bem pertinho de mim? Por mais que todas as precauções sejam sempre tomadas, ali estão elas, bem abaixo do ralo do box, aguardando o momento certo de botar aquele corpo feioso pra fora e... ahhá! Foi exatamente deste jeito que uma delas, mais jovenzinha, resolveu me dar bom dia. Esperou o momento em que lavo o rosto para dar o ar da graça e quando abri os olhos ela já passava em cima do meu pé. Quem nunca se esqueceu dos gritos pavorosos da série “Pânico” pode imaginar minha reação. Pior é que quando comecei a gritar e a bater com a perna para que caísse, ela grudou no meu dedo. Se dissesse que foi um escândalo não estaria sendo fiel à cena.

E cá estou na internet pesquisando formas de manter este bicho nas profundezas, de onde não deveria sair. Limpar os ralos semanalmente com creolina e água quente é uma das dicas. Não custa tentar. Afinal, não dá para lavar o rosto e os cabelos de olhos bem abertos, focados no ralo. Arde.

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