30 de outubro de 2012

Do primeiro livro à libertação


Lembro o dia em que ganhei meu primeiro livro na escola, numa cerimônia simbólica, dentro das comemorações da Semana Nacional do Livro. Estava na primeira série B, que depois virou CA e hoje é primeiro ano do Ensino Fundamental. Àquela altura já sabíamos ler e recebíamos das mãos da Tia Maria nosso primeiro livro didático. Do alto dos meus seis anos passei a semana inteira me preparando para momentos tão especiais, em que recitaria um poema e representaria os colegas da classe.

Guardo o livro até hoje. É uma brochura com lições de Língua Portuguesa, pequenos textos de autores do top de Monteiro Lobato, exercícios de iniciação à gramática para tenros estudantes. Está velhinho, surradinho, mas ocupa lugar de destaque entre minhas mais preciosas obras. Também guardei durante muito tempo uma coleção completa dos “Contos das 1001 Noites”, outra dos “Contos de Grimm” e “A árvore dos desejos”, de William Faulkner. Este último ganhei do meu irmão de presente de aniversário, ainda bem menina.

Fui iniciada na leitura muito cedo. Aos quatro anos, este mesmo irmão já me ensinava a juntar as sílabas para ler as manchetes dos jornais, o que me levou à escola antes da hora. Sempre fui adiantada um ano, em relação aos colegas da minha idade. Todos na minha família tinham o hábito diário de ler o que fosse: livros, revistas, histórias em quadrinhos, fotonovelas (muito comuns na época). Comigo não foi diferente. Aprendi rápido que a leitura me tira do lugar onde estou e me leva para ali, bem dentro daquelas letras. Aprendi também que sem ler não se escreve. Aprendi que sem ler não se aprende.

Esta semana comemoramos o Dia Nacional do Livro. Inúmeras foram as manifestações na internet, desde reportagens nos portais de notícias a posts e mais posts nas redes sociais, cada um manifestando sua preocupação com o tema ou simplesmente postando para causar, como dizem. Gostaria de perguntar a cada um deles que livro está lendo esta semana.

Sim! Esta semana, porque quem gosta de ler devora um livro, avidamente, em poucos dias. E mal fecha um, já está com outro na fila.

Também fiz meu post sobre o Dia do Livro. Disse que é uma data comemorativa que precisa de mais motivos para ser comemorada. Não vou citar dados estatísticos de quem lê ou não no Brasil. Isso já é muito deprimente. Não preciso de tais informações para saber que o nível é muito baixo, a começar pelas mesmas redes sociais, nas quais a gente vê zilhões de bobagens sendo compartilhadas diariamente. Textos de uma, duas ou três linhas, com erros primários em cada uma delas. Incorreções que não existiriam se as pessoas lessem.

E quanta desinformação, quanta incoerência, seja nos e-mails, nas redes, nas conversas, nas salas de aulas – cometidas até mesmo por professores (pasme!) que também não leem. É cada coisa que ouço de jovens que estão nas escolas, que até me dá urticária. Tudo por falta de leitura, este negócio que gera uma preguiça danada em quem já não gosta de pensar, mas que é a única fonte incontestável de conhecimento, desde que o mundo é mundo – ou desde que se escrevem livros e isso faz um tempão.

Quando dei aulas de Técnicas de Reportagem no curso de Jornalismo, logo no primeiro dia escrevi bem grande no quadro, antes dos alunos chegarem: “Quem não lê, não escreve. Para escrever, o jornalista precisa, pelo menos, ler um jornal por dia, uma revista por semana e um livro por mês.”. Pelo menos, o mínimo, o básico. Porque é claro que um jornalista que se preze deve ler mais e muito mais que isso. E recentemente, quando ofereci uma Oficina de Produção de Textos aos estagiários de jornalismo no local onde trabalho, bati nesta tecla até eu mesma me cansar. Ler, ler, ler e ler mais e mais e mais. “Está vendo este erro aqui que todo mundo comete? Corrige-se lendo. Quem tem o hábito da leitura conhece tanto a Língua que acaba sabendo como se escreve, automaticamente.”.  Para esses ainda acrescentei que são imprescindíveis as leituras sobre Sociologia, Filosofia, Antropologia, Ciência Política, Psicologia, para citar apenas os necessários. “Você, jornalista, escreve sobre o ser humano e sua condição na sociedade. Como entender sobre este ser humano, se não sabe nada sobre ele?”.

Dou tanta importância à leitura que nessa segunda, Dia Nacional do Livro, não pude me furtar a uma viagem ao passado para reviver na memória aquele evento na escola. Meu nervosismo, minha expectativa, minha responsabilidade, minhas primeiras remadas nos mares em que navegaria no futuro e nem mesmo sabia disso. Como também não tinha a menor ideia do quanto é libertador sair do limbo da ignorância. Que tenhamos mais motivos para comemorar esta data nos próximos anos.
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Um comentário:

Luciano Neto disse...

Leitura pra mim é anestesia.