12 de janeiro de 2009

Tromba d'água em Paraty

Eu estava lá
Giovana Damaceno

Acordo no meio da noite com um ruído de confusão, das grandes. Olho pela tela da barraca e vejo o motivo. Estou ilhada. As pessoas andam com água pelos joelhos e somente a minha barraca e a do vizinho não foram atingidas.

Paraty foi surpeendida por uma tromba d’água na madrugada de sábado, dia 10, e o camping da Jabaquara, onde eu estava confortavelmente hospedada em minha barraca, alagou.

Mas, até então, não sabia de nada. Pensava que o motivo de tanta água junta era a chuva forte da noite anterior. Afinal, no camping, onde me hospedo há anos, acumula água até com mangueira ligada na torneira.

Embora tivesse acompanhado praticamente todo o movimento durante a madrugada, permaneci dentro da minha barraca. Saltei do colchonete às 6 horas, com o dia amanhecendo e fui conferir o tamanho do estrago. Todas as barracas encharcadas, roupas, colchonetes, utensílios de cozinha, tudo molhado naquela água que é bom nem chegar perto. E meus companheiros de camping, claro, arrasados vendo seu sábado amanhecer destruído. E menos de uma hora depois, não havia mais ninguém ali, além do meu vizinho do lado.

Porém, só fui ter noção da realidade quando resolvi sair para procurar um jeito de ir ao banheiro e tomar um café. Não era possível sair da Jabaquara para chegar ao centro da cidade. O rio Perequê-Açu subiu oito metros e alagou 12 bairros, arrasando o que havia à sua margem. A ponte foi interditada, pois sofreu abalo com a força da enxurrada. E o que se via era água por todos os lados. Para aumentar o tamanho do estrago, a adutora que passa pelo rio rompeu, deixando boa parte do município sem água.

No trecho do rio que passa pela cidade, vi traineiras e lanchas destruídas. Praticamente todos os hotéis e pousadas que dão fundos para o rio tiveram grandes prejuízos, com perda da contenção da margem, que levou decks, quadras, jardins. Vendo tudo isso, o que me restou fazer foi voltar à Jabaquara e pensar com calma, já que minha casa temporária estava a salvo.

O café-da-manhã foi um pão com queijo e um suco, comprados numa mercearia. Ao passar no caixa, a dona do estabelecimento me contou que só havia visto algo semelhante há exatos 24 anos, quando nasceu o filho dela, que estava aniversariando naquele sábado. “Os bombeiros foram chamados para me tirar de casa”, contou.

Uma energia que não se entende. Paraty alagou. Ficou sem água. Sete casas desabaram no bairro do Condado. O prefeito decretou estado de emergência. Mas a cidade não parou; não para nunca. O turismo continuou ativo, os restaurantes cheios, a noite super movimentada, com o evento Paraty Cultural acontecendo na quadra do Centro Histórico, com um show do músico Ronaldo Ratão, que fez muita gente cantar e dançar.

Como se a cidade fosse dividida em duas, como se os turistas não ligassem Paraty à própria Paraty, como se até a administração municipal não associasse a Paraty cidade à Paraty turística. Estranho, mas é assim que vejo, pois quase nada mudou, apesar do enorme estrago. Continuo na tentativa de compreender isso. Assim que tiver uma resposta eu conto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parece tão distante de nós essa história de alagamento... p/ você ver, nem mesmo as próprias pessoas da cidade notam a seriedade do fenômeno, se não sofrerem graves danos!

Não sei... quando você tiver uma resposta Giovana, você me conta!