2 de janeiro de 2009

Pinteriano, Stoppardiano

Por FLávio Moura, diretor de programação da FLIP 2009
Em 28 de dezembro de 2008

A morte de Harold Pinter no início da semana motivou os obituários de costume: umas poucas declarações de gente do teatro, um ou outro texto breve de um dramaturgo afinado com o trabalho do autor, aquele cozidão biográfico feito com material de agências internacionais. E estamos conversados.

Apesar do Nobel, apesar do que já foi encenado por aqui, apesar dos papéis que Pinter desempenhou como ator, tudo se passou de forma burocrática: a impressão é que o registro ficou aquém da importância da obra.

Pode ser porque poucos têm paciência para ler peças, que inexistem no mercado editorial brasileiro e mesmo fora do país nunca levaram multidões às livrarias. Pode ser culpa do inglês cheio de manha, que não se traduz com facilidade. Pode ser culpa do fim de ano, que é um problema para a repercussão de qualquer notícia.

Lembrou um pouco a situação de Tom Stoppard, um dos convidados da Flip de 2008. Era a primeira vez dele na América Latina. Os jornais noticiaram a vinda com algum destaque. Na palestra em Paraty, no sábado à noite, tinha gente até no lustre.

Mas nem uma mísera peça foi publicada em português por causa da presença dele. E o próprio Stoppard abriu sua fala na Flip tirando sarro com o fato de ser mais conhecido no Brasil por causa dos roteiros que escreveu para o cinema.

Não à toa, Stoppard foi um grande amigo de Pinter. Eram parceiros desde o início dos anos 1970 – e compartilharam ao longo da vida bem mais do que os tacos de críquete. Há um texto de Kenneth Tynan que descreve em detalhe a amizade dos dois. Saiu em novembro de 1977 na New Yorker e é a fonte para muito do que se escreveu sobre eles depois disso. (Inexplicavelmente, o texto ficou de fora da antologia de perfis escritos por Tynan publicada aqui pela Companhia das Letras em 2004, mas merece uma busca nos arquivos da revista.)

Agora dizem as colunas sociais que uma montagem de Rock’n’Roll, de Stoppard, deve estrear no Brasil em março. Terá Daniel de Oliveira à frente do elenco e produção de primeira. Dificilmente vai mudar esse panorama. Mas se a Flip, ainda que remotamente, tiver alguma coisa a ver com isso, já vai ter valido a pena.
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