8 de abril de 2011

Não quis saber, não quis ver, não quis ler

Muitos posts pipocavam no twitter e eu mal acabara de chegar ao trabalho. Abri um portal de notícias para me inteirar do que estava acontecendo e estarreci. Não preciso repetir o que estava lá, feio, chocante. Passei rapidamente os olhos nos títulos da meia dúzia de matérias produzidas até aquele momento e fiquei mole. Não quis pensar. Fechei o portal. Pelo menos por algumas horas me entreguei ao luxo de ficar alienada.

Míriam Leitão disse hoje em sua coluna no O Globo que deveria falar dos assuntos corriqueiros da política econômica, mas não conseguiu. Do lado de cá, me vejo na obrigação de dizer algo sobre aquilo, mas preferiria mudar mesmo de assunto. Mas, bem curtinho, expresso a você meu sentimento.

Ainda ouço e leio aqui e ali manifestações de repúdio ao fato, como se fosse mais um ato de violência, pela violência. Mas é importante lembrar que não foi bem assim. Estamos falando de sociopatia e não de um bandido qualquer. Estamos falando de alguém pacato, quieto, e que de repente decide resolver sua infelicidade, trauma, desconforto, com um assassinato coletivo. De crianças. Dentro de uma escola. Há significados ocultos em tudo isso.

É hora de estender o luto à reflexão. O que estamos fazendo por nós e pelas pessoas à nossa volta? Como estamos educando nossos filhos? Que valores estamos aprendendo e passando aos outros? O que temos exigindo do Estado em termos de educação, de saúde? A que nível de abandono social permitimos que nossos semelhantes cheguem? Será que nosso umbigo é mesmo tão importante a ponto de não voltarmos nossos olhos para fora? O mundo não pode mais esperar que eu não saiba, não veja, não leia.

Nada justifica o crime. Mas quem cometeu o crime era um doente social. É inegável que tal pessoa necessitava de atenção especial, acompanhamento psiquiátrico, psicológico, familiar. Chegou ao seu limite, que jamais vamos poder entender (se é que isso seria possível) e sua atitude extremada atingiu o objetivo: chamar a atenção ao seu sofrimento.

É hora, sim, de chorar pelas crianças que ficaram sem futuro, como disse Miriam Leitão. É hora de parar nossa correria por alguns minutos e fazer uma prece pelos pais e irmãos que ficaram, para que tenham conforto. É hora de pensar no algo mais que podemos fazer pelos que estão no nosso entorno. Sociopatas não moram lá longe; eles estão aqui, bem pertinho, e podem estar precisando de ajuda, por eles mesmos, e para que outras tantas mães não tenham que passar por tanta dor.
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7 comentários:

Fabiola disse...

Confesso que precisei ler o título da notícia algumas vezes para acreditar que tudo isso aconteceu aqui no Brasil. Minha primeira reação, acho que de todos, foi de perplexidade e até ler este post não havia conseguido olhar por outro ângulo toda essa tragédia. Parabéns pelo texto.

calino disse...

Acho que a Míriam Leitão e a Giovana já disseram tudo o que se poderia dizer sobre esse triste acontecimento. E essa infeliz pessoa, o criminoso, sem dúvida alguma era um sociopata, um esquizofrênico.
Permitam-me citar o Dalai Lama:
"Nada é mais imnportante que o calor do coração. Ele nos nutre desde o nosso nascimento. É importante nos conscientizarmos desse valor. Só o afeto humano pode promover uma sociedade feliz e um munbdo pacífico".
Calino

CS Empreendimentos Digitais disse...

Gente, não tenho palavras. Às vezes me sinto meio molenga, porque choro atoa, mas desde que fiquei sabendo desse trágico acontecimento, todas as vezes que escuto ou leio alguma coisa relacionada, o que me vem é um nó na garganta que desatei ontem e hj assistindo ao Jornal Hoje na hora do meu almoço. Chorei. De soluçar.
Sinceramente estou chocada e absolutamente consternada com essa situação. Acho que as pessoas perderam o limite das coisas. Não existe mais rspeito com o próximo e tudo é motivo para matar. Acho que esse é fim dos tempos.

Maíra Vilela disse...

Concordo com tudo e espero que após esse acontecimento as pessoas se informem mais sobre as doenças psíquicas que atingem grande parte da população. Transtorno de personalidade, transtorno bipolar, depressão, síndrome do pânico, borderline e tantas outras doenças que tendem a atingir um número cada vez maior de pessoas, onde os sintomas são apresentados logo na infância, mas os pais, por desinformação, não procuram auxílio profissional. Agora não é a hora da mídia apelar para o sofrimento vivido pelas crianças e familiares, é a hora educar a população, para que casos assim não ocorram novamente.

Ricardo Nascimento disse...

Concordo com você... Ontem mesmo escrevi, no tal do Facebook. Será que ninguém notou algo errado com esse rapaz durante esse tempo todo. Cadê a política eficaz para os portadores de deficiências mentais? Não havia segurança em nenhuma escola....
sei lá... O que eu tinha para falar já falei. Agora só torço para que não mais fechemos a porta apenas após o roubo já ter ocorrido... Ricardo Nascimento

Alexis disse...

Giovana, texto perfeito.

Guará disse...

Desde ontem estou com o coração apertado e a tal taquicardia resolveu não dar trégua. Seu texto está muito bom. O que fizemos? Qualnossa parcela? Escrevi um texto no Blog do aQui sobre isto.