22 de fevereiro de 2011

Sexo após o câncer

Tabu até para os médicos

Não tenho o menor pudor de admitir. Sexo, após um câncer é, sim, complicado. Li uma reportagem hoje que trata sobre o assunto. Muitas mulheres que sobrevivem à doença, principalmente quando acomete órgãos como útero e mama, revelam que gostariam de receber ajuda médica ou psicológica para lidar melhor com os problemas sexuais que surgem durante e após o tratamento, mas poucas delas efetivamente procuram por aconselhamento.

Um estudo do Centro Médico da Universidade de Chicago mostra que são poucos os médicos que sabem como abordar questões em relação aos efeitos do câncer sobre a sexualidade das pacientes, o que não é comum entre os homens em tratamento contra câncer de próstata, por exemplo. Quem afirma é a professora associada de obstetrícia e ginecologia e autora do estudo, Stacy Tessler Lindau. “É crucial que os médicos que tratam de mulheres com câncer saibam que as questões sexuais geralmente são de ordem física”, diz. “Os problemas físicos associados ao tratamento de câncer podem abalar os relacionamentos, causando preocupações e estresse e mesmo se tornando um fator isolador – muitas mulheres que nos procuram se sentem envergonhadas, culpadas e sozinhas. Elas sentem como se o problema estivesse quase que exclusivamente na mente delas”, acrescenta Lindau.

Dores, ardência, secura vaginal, perda do desejo, dificuldades de se excitar e atingir o orgasmo, além das óbvias preocupações em relação ao próprio corpo são alguns dos problemas sexuais vividos por muitas destas pacientes. Outras também relataram que se sentem menos atraentes depois do tratamento (claro!). Os companheiros, por sua vez, ficam em pior situação que suas mulheres; sem orientação, não sabem como agir, sentem-se tolhidos e com medo. “Meu marido precisa de acompanhamento psicológico mais que eu. Ele não sabe o que fazer, me olha estranho, não dorme mais comigo, não me abraça. Fico carente, mas sei que ele também sofre tantro quanto eu”, disse-me, uma paciente da clínica oncológica que ainda frequento. “Os médicos geralmente tentam entender as preocupações do paciente, mas lutam pela falta de conhecimento sobre como oferecer ajuda”, complementa a professora.

No estudo apresentado, mulheres que já haviam terminado o tratamento há mais de um ano se mostraram muito mais propensas a querer aconselhamento do que as que ainda estavam em tratamento – 47% contra 32%. As mais jovens demonstraram maior preocupação com os problemas sexuais do que as mais velhas, embora mais de 22% das mulheres acima dos 65 anos também tenham respondido que gostariam de receber cuidados médicos para os problemas sexuais, disseram os pesquisadores. O estudo foi recentemente publicado online na revista especializada Cancer.

Segundo a professora Stacy Tessler Lindau, poucas mulheres têm coragem de conversar com o médico sobre suas preocupações sexuais, “embora estudos repetidos mostrem que elas preferem que o profissional aborde o assunto primeiramente”. Sem nenhum constrangimento, recorri aos meus próprios médicos para esclarecer todas as dúvidas (e são muitas!). Talvez por trabalhar diretamente com informação, tenha sido mais fácil questionar. Mas, para a maioria das pacientes, não. Seria necessário que as clínicas de tratamento oncológico, bem como quaisquer tipos de serviços de atendimento a pacientes com câncer oferecessem acompanhamento psicológico. Há muita coisa em jogo e tal apoio seria fundamental.

“Quando opero uma mulher, meu objetivo é salvar a vida, mas quero pra ela uma vida plena. Não desejo que ela saia do tratamento com uma depressão que vai detoná-la para o resto dos seus dias. Que vida seria esta?”, disse meu mastologista, Eduardo Millen, após minha cirurgia. Boas palavras.

Fonte: IG
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5 comentários:

Carol Cunha disse...

Tão importante quanto a cura é a vida pós-câncer. Tudo tem outro peso, outra medida. A resposta está nos próprios depoimentos e nas necessidades dos pacientes. É preciso que a medicina esteja em sintonia com as dúvidas de seus pacientes e que os ajude a viver plenamente após esta experiência tão marcante.
Grande beijo!!!

Anônimo disse...

Realmente é um problema complicado. O câncer é algo que precisa e deve ser extirpado. O sexo, quando praticado com amor e respeito, é algo que deve ser cultivado. No meio das duas coisas há preconceitos, abalos psicológicos e físicos. Eu penso que os pacientes devem se abrir com o médico, pôxa, ele é um profissional e creio que deva ter as palavras certas para o caso. Não sou médico mas acredito que o sexo é saudável para o corpo e para a mente. Quando feito com responsabilidade.

Beijos!

Luciano Neto.

GIL ROSZA disse...

Questão realmente complicada. O amor romântico geralmente sobrevive melhor enquanto há na parada beleza, saúde e dinheiro. Para um casal que lida com uma doença estigmatizada e um tratamento agressivo, pode significar perder algumas certezas sobre a atração e aceitação sexual e ganhar muitas dúvidas.

Claudio disse...

O amor consegue superar qualquer barreira. Se assim não for, por favor, não é amor.
Afinal, depois de certo tempo aprende-se que sexo não é tudo na vida.

simone cunha disse...

è uma pena ....
queria saber mais ....
não é falta de amor ....
è a vida queé muito dificil , e termos de abrir mão de alguns prazeres fica dificil!
gostaria de ter sexo na minha vida.
Simone Cunha