24 de setembro de 2010

A negação do outro

Por Alberto Dines
Editorial do Observatório da Imprensa na TV
Exibido em 21/9/2010


Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

A ciência favorece a razão – certo ou errado? A resposta estaria na coluna do meio. No condicional pode-se dizer que a ciência deveria favorecer à razão, mas não é o que acontece.

Neste mundo dominado pela ciência e pela tecnologia, a razão fica geralmente em segundo plano. A irracionalidade e a insensatez produzem mais manchetes do que a sabedoria. A barbárie conseguiu apossar-se daquilo que é um dos acervos mais preciosos da humanidade: a capacidade de comunicar-se.

O século 20 começou com a Primeira Guerra Mundial, testemunhou a catástrofe da Segunda Guerra e no fim da primeira década de um novo século, o 21, estamos assistindo ao vivo, em cores e em três dimensões um compacto de reprises dos dois últimos milênios dominados pela intolerância e o rancor contra o diferente e amplificado pelo formidável poder dos meios de comunicação.

O pior é que a maré montante do ressentimento tem como matéria prima a religião. A fé que deveria inspirar sentimentos superiores mesclou-se à política e à ideologia e está produzindo um fanatismo de última geração, globalizado, integral, onde não há o menor traço de amor ao próximo.

Penso, logo existo – o mote de René Descartes que nos preparou para a modernidade tem nova versão: não penso, o outro não existe.

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A mídia na semana

** A mídia não poupou Dunga quando, em maio, excluiu Neymar da seleção que representou o Brasil na África do Sul. Foi o primeiro grande atrito entre a mídia e o técnico. Agora, quando a imaturidade do atacante santista ficou comprovada, a mídia deveria ter reconhecido que, ao menos neste episódio, Dunga, o teimoso, acertou.

** Todos os dias e há muito tempo publicam-se diagnósticos definitivos sobre o futuro da internet, das redes sociais, dos jornais impressos. Cada maquineta de leitura lançada no mercado provoca uma enxurrada de vaticínios sobre o futuro do livro, cada previsão vai numa direção. O número de profetas e visionários aumenta exponencialmente. O mais recente membro do clube dos futuristas é o jornalista americano Nicholas Carr que, na Folha de S. Paulo, fez uma série de graves advertências: "A internet nos faz pensar de forma mais superficial", disse. E aparentemente está certo.

** Pode um jornal modificar o texto de um colunista e alterar a sua opinião? A questão é antiga e já provocou muitas crises nas redações em todo o mundo. O diário esportivo Lance! firmou jurisprudência nesta segunda-feira [20/9] quando pediu desculpas aos leitores e ao colunista Roberto Assaf por ter alterado a crônica onde afirmava que o Botafogo não foi ajudado pelo árbitro. Um gol anulado serviu para confirmar a doutrina que matéria assinada é inviolável, intocável. Jornalismo é coisa séria.
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