1 de setembro de 2010

Jornal do Brasil em versão digital

O que diremos sobre isso no futuro?

Desde a semana passada acompanhei mais de perto os últimos dias da versão impressa do Jornal do Brasil. Não exatamente lendo todas as edições, mas prestando a atenção ao que disseram e ainda dizem jornalistas, articulistas, acadêmicos e opinadores de todo tipo. Todos, sem exceção, desfiam seus rosários de lamentações não só pela mudança radical do papel para o digital, mas talvez principalmente pelas justificativas divulgadas pela direção do jornal.

Tenho minhas concordâncias, mas também penso que é preciso equilibrar a opinião e até mesmo ter um pouco de paciência para esperar o que dirá o futuro. Afinal, foi o próprio JB que na década de 50 revirou os padrões da época ao criar uma publicação totalmente fora do que ditavam as regras. Uma modernização promovida com uma ousadia que, segundo especialistas, jamais foi vista novamente em nenhuma outra publicação no país. Comandado pela Condessa Pereira Carneiro, o JB passou por mudanças radicais em todos os aspectos.

Também foi o JB o primeiro jornal brasileiro a criar uma versão on line, na segunda metade da década de 90, quando ninguém ainda sonhava com o que se vê na internet atualmente. Contam os coleguinhas que trabalhavam na redação do JB que o computador no qual eram feitas as atualizações era um PC 386 que ficava no corredor. Pouca gente soube disso, mas a bravura de se colocar um jornal na web limitava-se a um equipamento velho e surrado, sem sala e sem equipe de produção.

Hoje, 1 de setembro, o Jornal do Brasil inaugura mais uma fase, mais uma ousada modernização, digamos assim. Eliminou a versão impressa e assumiu de vez a digital, arquivando seu histórico em papel e deixando lacrimosos muitos amigos saudosistas. Não dá para não ficar triste, compreendo, até porque as justificativas da direção do jornal não são lá muito convincentes. Mas não se pode negar que mais uma vez, por vias justas ou não, o JB dá um super passo, apostando todas as suas fichas na tecnologia. Não podemos negar que há certa coragem nessa decisão.

Meus colegas de profissão hão de me recriminar por isso, mas como disse, é preciso equilibrar a opinião e pensar se não estamos irremediavelmente presos ao passado, a uma história. É quase um vício dizer sempre que “antigamente era melhor”. Muito se discute sobre a adoção de mídias digitais em lugar de papel, em substituição a livros, jornais, revistas. Ainda estamos longe de termos uma resposta definitiva para isso; só o tempo é capaz de nos dizer. Porém não podemos simplesmente fechar os olhos a essa possibilidade tão iminente. Tivemos a mesma sensação quando os LPs foram substituídos pelos CDs. E hoje ouvimos música em qualquer suporte digital! Quem poderá prever se daqui a uns poucos anos contaremos a nossos netos que aquele jornal antiogo, o JB, foi o primeiro a ousar e adotar uma versão unicamente digital? A resposta, só o tempo nos dará.
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8 comentários:

Rildo barros disse...

Quando li as primeiras notícias de que o JB ia deixar de circular, fiquei muito triste, porque era o jornal modelo da nossa época de faculdade. Lembro até da visita que fizemos junto com a turma e o professor Demétrio ao JB. Fiquei deslumbrado e sonhando em trabalhar no Caderno B, com aqueles profissionais de texto maravilhoso (hoje todos no Globo - Dapievi, Xexeo, Joaquim Ferreira dos Santos, entre outros).Lamento o fim do jornal impresso, mas não acredito que essa versão online seja um avanço, acho que foi a alternativa encontrada para ele não acabar de vez já que há algum tempo agoniza em uma crise pública e notória de má administração. É triste, mas é o fim de uma era.

Fernando de Barros disse...

O que há para discordar da forma que o tema foi colocado? Nada! Giovana foi muito feliz em suas colocações e faço delas minhas palavras.

Wellington Freitas disse...

Gionava, acho que você ressalta muito bem essa questão, só o tempo dirá. Tudo que vem como novidade hoje, causa espanto, uns aceitam de imediato, outros tentam fechar os olhos à novidade. Vem em minha mente, uma questão desse tipo na copa do mundo quando todos julgavam a bola, a tal JABULANI, isso é novidade, e todo tipo de novidade, sempre vai ter alguém pra dizer que vai ser boa, o outro alguém pra dizer que vai ser ruim, mas como você mesma disse, só o tempo dirá! Fiz essa comparação meio que nada a ver, porque foi o que me recordei no presente momento, mas de nada eu entendo sobre assuntos jornalísticos. Abraço,

GIL ROSZA disse...

Pessoalmente tenho espanado da cuca o estranhamento dos novos formatos de espaço. Que venha o novo! Acho que o que conta mesmo é a relevância da informação, seja ela impressa em tábua de argila, papiro, pergaminho, papel ou... daqui pra frente, num Ipad.

Albucacys disse...

Mede-se o grau de ousadia pelo da crítica e a tendência da acertividade pela oposição que gera.
Quanto mais ousadia mais dizem que dará errado. Quanto mais uma ideia mexe com o “status quo” ou a zona de conforto das pessoas mais é rejeitada.
Certamente que o tempo é sempre o grande esclarecedor de todas as questões, como disse.
Os pioneiros, quando não param, tornam-se especialistas, particularmente em romper barreiras, quebrar paradigmas, vencer preconceitos, em fazer para realizar melhor, mais fácil, mais abrangente, mais moderno, diferente, inédito... Tornam-se referência e excelência.
Talvez por isso que as justificativas parecem não coadunar com os fatos, afigurando-se como incoerentes e assim por diante.
Basta um breve retrospecto da história das grandes empresas para se verificar que muitas delas são o que são, justamente , por terem vencido grandes crises ou por ter tido a coragem de ousar, contra tudo e contra todos, de investir “tudo” em uma ideia. Foram ou são idealistas.
Para ousar, primeiramente, necessitamos romper com nossos próprios paradigmas, conceitos e preconceitos, o que poucos temos coragem e força para fazer, não é mesmo?

Anônimo disse...

Oi amiga,
só para complementar suas informações:
Coincidentemente agora há pouco eu conversava por tel.com um ex diretor do JB (Nilo Dante) e lhe informo que em l995 o JB imprimia aproximadamente 500.000 (quinhentos mil) exemplares diários. Nos últimos meses sua tiragem diária não ultrapassava 15.000 exemplares. Essa situação teve como agravamento quando o JB se disvinculou do IVC, o órgão que auditava a quantidade de jornais diariamente publicados, o que veio a fazer com que os anunciantes (e também os assinantes começasem a se dispersar).
Calino.

Anônimo disse...

Toda mudança é alvo de críticas e resistência -- principalmente quando são mudanças profundas e irreversíveis. Eu sou a favor da reforma, da evolução e da modernização, do contrário, paramos no tempo. Entretanto, fico me questionando se a informatização do jornal, em nosso país, irá contribuir ou não com a democratização da leitura. Considerando que a maioria da população brasileira é analfabeta e de baixa renda, podemos esperar que o povo possa adquirir um computador para manter-se informado? Comprar um jornal impresso me parece mais barato, mesmo que seja preciso contar com a ajuda de um vizinho, filho ou colega na leitura do mesmo. Só espero que a prática da informatização dos jornais não se torne mais uma ferramenta de alienação da população brasileira. Toda mudança requer uma análise contextual e não são somos do primeiro mundo!

Jader Moraes disse...

Também acho louvável toda iniciativa rumo à modernização. Mas, no caso do JB, ir para o digital foi só um jeito de tentar escapar da falência, e não uma opção editorial.

O jornal há muito tempo vinha mal das pernas e acumula dívidas de R$ 200 milhões. A justificativa da direção da empresa (que apelou até para causas ambientais) é risível.

Encontrei com uma jornalista do JB na Flip e ela confirmou isso, com muita tristeza: o clima de insegurança na redação é grande.

Fico triste não (só) por ter ido para a plataforma digital. Mas por isso explicitar algo que já se dizia nos bastidores: O JB está perto do fim.

Mesmo com todo o meu otimismo, espero pelo pior neste caso. Infelizmente.