16 de agosto de 2010

O festival de bobagens na internet

Por Jorge Luiz Calife*

A internet é um oceano de bobagens com algumas ilhas de sabedoria. É por isso que a geração atual, que vive conectada, é muito mais desinformada do que a geração antiga, que estudava nos livros. Os estudantes acham que basta copiar o conteúdo de uma página para tirar boa nota na prova. Ficam com uma visão superficial de tudo e acabam não guardando nada na memória.

Daí que não sabem nada sobre geografia, sobre história, sobre ciências, mas ficam com a ilusão de que sabem alguma coisa. E o que é pior, se casam, têm filhos, e passam a sua ignorância para as novas gerações.

Quem acessa as páginas da web, vê isso com clareza nos sites de notícias. Embaixo de cada notícia, os leitores podem escrever seus comentários. O resultado é um festival de asneiras que deixaria o saudoso Stanislaw Ponte Preta, com matéria farta para muitas crônicas.

E o problema não é só das páginas brasileiras. Nas estrangeiras ainda é pior. Terça-feira passada, um pequeno hidroplano colidiu com uma montanha em Dillighan, no Alasca, matando cinco pessoas. Entre os mortos estava o senador Ted Stevens, de 86 anos, um dos políticos mais famosos da região. O acidente também foi manchete nos Estados Unidos, porque a bordo do De Havilland Otter estava um ex-diretor da agência espacial americana Nasa, Sean O´Keefe.

Ele comandou o programa espacial no início da década de 1990, durante o governo de George Bush, pai e foi sucedido por Michael Griffen. O´Keefe foi um dos sobreviventes do acidente.

No site americano da yahoo, os primeiros detalhes do acidente estavam online no mesmo dia. Embaixo da notícia vem o clássico espaço para os leitores opinarem. Uma mulher disse que é o fim do mundo. O acidente, segundo ela, seria parte de uma conspiração para ocultar o fim do mundo em 2012. Como no filme do Rolland Emmerich, o governo estaria matando as pessoas que sabem da catástrofe iminente e querem revelar os detalhes ao mundo.

Outro relembrou o acidente com a nave Apollo 1, em 1967, e a teoria da conspiração, que afirma que as missões lunares do programa Apollo foram uma fraude.

Segundo os malucos que acreditam nessa bobagem, os astronautas da Apollo 1 morreram porque queriam revelar a verdade. A Nasa botou fogo na nave e os matou para esconder que o homem nunca esteve na Lua. Uma idéia que surgiu nos anos 70, por causa de um filme de ficção bem fraquinho, do diretor Peter Hyams, chamado Capricórnio 1. Assim como o filme "2012", gerou esse monte de bobagens na internet sobre o calendário maia e o final dos tempos daqui a dois anos.

Informação

As pessoas que escrevem essas tolices, acham que têm o direito de escrever qualquer tipo de bobagem nas páginas da web, simplesmente porque é de graça e elas não têm nada de importante para fazer em suas vidas vazias. E só aumentam a desinformação e a poluição cultural na rede.

Elas não param um pouquinho para se informarem sobre os assuntos e entenderem sobre o que estão falando.

Vamos aos fatos: quem não acredita que homens andaram na Lua é porque não viveu naquela época. O projeto Apollo foi um esforço nacional que durou dez anos, empregou milhares de pessoas, e envolveu dezenas de companhias sub-contratadas. Guardar algum segredo ou criar uma conspiração dentro de um empreendimento desse tipo, seria impossível.

Havia milhares de jornalistas acompanhando as missões, além dos serviços de espionagem da União Soviética e da China. Nem os russos, que viviam num estado fechado, onde tudo era controlado pelo governo e pela KGB pensaram na possibilidade de forjar uma missão espacial. Os americanos então, numa sociedade aberta, onde a imprensa está de olho em tudo, fala com todo mundo, não teriam qualquer condição.

Além disso, se a Nasa fosse uma agência orwelliana e quisesse matar três astronautas, certamente encontraria um meio mais barato de fazê-lo. Sem incendiar uma nave de 200 milhões de dólares.

O mesmo pode se dizer da suposta conspiração do fim do mundo. Seria preciso garantir o segredo de centenas de geólogos e astrônomos de dezenas de nacionalidades. O acidente no Alasca foi causado pelo mau tempo e fim de papo.

Pessoalmente, faço o que posso para evitar a poluição na internet. Às vezes a amazon.com me pede um comentário sobre um novo filme espacial, e só escrevo alguma coisa se achar que tenho alguma informação nova para acrescentar. Senão, é melhor não escrever nada. É perda de tempo e ocupa um espaço precioso.

*Colunista do Espaço Aberto - Jornal Diário do Vale
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