4 de julho de 2010

O melhor compromisso

Disse ao meu filho que talvez não assistisse ao jogo do Brasil na última sexta-feira. Estávamos com um encontro marcado em casa de amigos, onde haveria um almoço após a partida, mas por causa de compromissos de trabalho eu não poderia ficar. A resposta dele foi imediata:

- Pô, mãe, sem você não tem graça!

- Vai com o tio, meu filho. Mamãe não vai poder.

- Ah, mãe, sem você é melhor nem ir.

Minha decisão também foi imediata. Desisti do meu compromisso e preferi ficar com meu filho. Não escondo que bateu uma enorme culpa por ter faltado a uma reunião de trabalho. Apesar de ter avisado da minha ausência, assumi uma série atividades com um grupo de pessoas e, claro, deveria cumpri-las a qualquer custo. Certo? Às vezes.

Trabalho desde sempre. Não tive nem licença maternidade; a partir do segundo mês de vida meu filho ia comigo ao emprego e foi assim até o sexto, quando ele foi para a creche e eu continuei minha luta diária. Hoje, com 12 anos, ele passa algumas horas do dia sem mim, entre uma obrigação e outra (dele e minha), e é comum nos encontrarmos tarde da noite. Não faltam no meu dia a dia comentários do tipo “puxa, você demorou hoje” ou “tô com uma saudade daquele seu frango com creme de cebola e milho” ou ainda “caramba, mãe, quanta coisa você tem pra fazer, hein?!”.

Alguns aspectos que considero: primeiro, como eu disse, meu filho tem apenas 12 anos, portanto ainda é uma criança, entrando na adolescência. Segundo, se sente minha falta em casa, logo, logo já vai querer suprir essa carência na rua e muito rápido já não vai dizer que sem mim não tem graça. Por último e mais importante, eu desejei ter um filho, eu programei a chegada dele, portanto, sou toda dedicação, até que diga pra mim “vai nessa, mãe, tô na boa; vou assistir ao jogo com a galera”.

Por tudo isso e muito mais que não cabe aqui, disse aí acima que às vezes não temos que cumprir certos compromissos externos, a qualquer custo. Creio que minha agenda mais importante é a que cumpro em casa, com meu filho. Ele quer carinho, eu dou; quer atenção, estou ali, ao lado; pede aquela comidinha especial, eu faço (só as que sei fazer, lógico). Somos eu e ele, um para ou outro. E nada, nada mesmo, ocupa maior lugar de destaque na minha vida. A seleção Brasileira deu aquele vexame, minha reunião acabou sendo esquecida por algumas horas, cheguei em casa quase oito da noite. E meu filho, sorrindo pra mim, feliz com o dia que tivemos.

Nada paga essas oportunidades de estarmos juntos em momentos de lazer. Nada pode ser melhor que aquela alegria estampada no rosto dele, os olhos brilhando, o amor profundo que trocamos mesmo quando digo os maiores e mais redondos nãos e ele fica mega aborrecido. O futuro é incerto, não sei o que pode acontecer comigo ou com ele no próximo minuto, mas se tivermos alguns longos anos de vida pela frente, será muito gratificante olhar para trás e não sentir falta de nada, pois teremos vivido juntos todos os nossos momentos, bons, ruins, péssimos, mas juntos, unidos. Não há compromisso que me faça omissa àquele par de olhos, dizendo “pô, mãe!”
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6 comentários:

Maíra Vilela disse...

Que lindo! Não são todos que pensam assim. E se fosse, teríamos menos depressivos, presidiários, bandidos e frustrados! Parabéns! :)

Carol Bentes disse...

a presença dos pais é muito importante, não vou dizer nessa idade, porque em todas as idades os filhos têm uma necessidade especial dos pais... O ideal é nunca perder o canal de comunicação.

que bom que o dia da eliminação do Br na copa foi amenizado pela companhia da mãe.. =)

Genislene Borges disse...

É complicado ser mãe e trabalhar em período integral... to sentindo na pele... Bjs e saudades sempre!

Giovana disse...

Do meu amigo Calino:

"Oi Gigi,
como sempre, por ser uma 'anta'em operar computadores, nunca consigo postar um comentário diretamente em seu blog, mas não posso deixar de tentar repetir o que lá tentei registrar:
Você não se limita a simplesmente escrever, você faz uma crônica do cotidiano. Me faz sentir saudades do Fernando Sabino, do Rubem Braga, do Carlinhos Oliveira, entre outros. O que mais dizer: confesso que não sei. Limito-me a afirmar que você é um exemplo de mãe.
Receba mnha admiração e meu respeitoso carinho.
Calino - seu retratista preferido."

Giovana disse...

Da minha amiga Letícia:

"Giovana,

Sempre especiais os seus textos, me vi naquele trecho que voce diz "O futuro é incerto, não sei o que pode acontecer comigo ou com ele no próximo minuto, mas se tivermos alguns longos anos de vida pela frente, será muito gratificante olhar para trás e não sentir falta de nada, pois teremos vivido juntos todos os nossos momentos, bons, ruins, péssimos, mas juntos, unidos. PARABENS PELA LUCIDEZ
Bjs
Leticia"

Jader Moraes disse...

Lindo, lindo, lindo!