Cheguei do almoço com sede de cafezinho quente e fresco. Mal passei pela minha mesa, fui direto à garrafa, enchi um copinho, levei-o à boca e... Decepção. Café fraco, frio, com jeito de requentado. Com a temperatura mais fresca de hoje, não poder tomar o café tão desejado me lembrou de outros cafés passados, como os da infância, que minha mãe fazia com coador de pano e servia num bule enorme (achava isso porque eu era pequena; nem sei se era assim tão grande).
Melhor que o café, ou tão bom quanto, eram os bolinhos de chuva. Por que bolinhos de chuva combinam tão perfeitamente com uma tarde fria? Eu chegava da escola, já escuro, e estava lá, em cima da mesa, uma tijela abarrotada de bolinhos, bem rechonchudos, passados no açúcar e na canela. E o cheiro de café quente vindo da cozinha... Ahhhh! Que saudade!
Coisas de infância de mãe dedicada. Tempo frio também me lembra mingau. Hoje sou boa de garfo, mas quando eu era criança minha mãe sofria um bocado pra me fazer comer. E até que os mingaus me agradavem bastante. Os de maisena, principalmente. Ela fazia ficar bem grosso e às vezes encaroçava. E eu adorava estourar os carocinhos dentro da boca. Ia pegando bem devagar, da borda do prato, de onde vinha menos quente, mas não gostava que fosse totalmente frio. A temperatura ideal é sempre a que exige um sopro.
Nos anos em que estudei de manhã, o lanche era sempre caprichado (dentro do possível, claro. Afinal, não tive uma infância muito confortável em termos financeiros). Nunca tive apetite para me alimentar corretamente de manhã. Mal tomava um café puro e saía correndo. Por isso minha mãe preparava a lancheira com café com leite bem quente, pão com alguma coisa dentro, às vezes biscoito, às vezes angu frito. Meus amigos riam daquilo. Eles preferiam os refrigerantes e salgadinhos engordurados da cantina, enquanto eu me deliatava com o lanchinho caseiro de mamãe.
Bons tempos aqueles. Ano passado, quando tratei o câncer, tive a oportunidade de ter minha mãe comigo em casa, cozinhando, além de me fazer companhia. Há coisas que eu gosto que só ela sabe fazer, como passar um bife de fígado (adoooro), couve-flor à milanesa, bolinhos de chuva (!), feijão, frango ou verduras refogados. Parecem coisas simples, mas não são tão simples assim. Há algo especial em comida de mãe. O cheiro do café que ala faz na casa dela chega a ser diferente do que ela prepara na minha.
E foi um copinho de café que me fez retornar à infância e me lembrar de tudo isso em apenas 20 minutos. Vou chegar em casa com a boca seca por um café de verdade, mas preferiria tomá-lo na casa da minha mãe. Muito bom.
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4 comentários:
Café não, porque eu nem bebo... mas bolinho de chuva, sim. Bife de fígado não, eca!, mas feijão preto, sopa de legumes... ai, ai. E saudade só porque hoje a gente vive outra vida. E porque naqueles tempos tudo era mais gostoso. Porque era infância.
Ah, saudade de você também!
Beijooo.
Ah, esse cheiro me lembra a casa da minha vó! Até hoje ela faz o café da tarde fresco, é sagrado, com pão, manteiga e às vezes o famoso bolinho de chuva!
bjs
doces hábitos! memória olfativa! certidão de que viveu e viveu gostoso! rsrs.
Tudo o que você falou aqui eu também gosto muito, inclusive o bife de fígado. Dizem que meu café é um dos melhores da cidade. Adoraria fazer um pra você, lá em casa, que é casa de mãe também. Memórias, memórias ... e o presente está tão difícil de desfrutar. Beijos. Me liga.
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