13 de abril de 2010

Sem hipocrisia e sem precoceito

No último sábado, dia 10, fui a um encontro muito interessante: a apresentação do Mapeamento das Casas de Religiões de Matriz Africana do Estado do Rio de Janeiro, no Templo de Umbanda Luz Divina, em Volta Redonda. Estavam presentes umbandistas, candomblecistas e afins, representantes de universidades e do governo municipal local.

O mapeamento é uma pesquisa acadêmica da PUC Rio, coordenada pela Mãe Flávia, babá da Casa do Perdão, no Rio, e consiste na aferição do número de casas de umbanda, candomblé e de outras nações em todo o estado, além de conhecer quem são seus dirigentes e trabalhos sociais que desenvolvem. Com resultados em mãos, pretende-se alcançar a contrução de políticas públicas efetivas para este segmento religioso e também o seu fortalecimento.

Mãe Flávia é Flávia da Silva Pinto, líder de movimento anti-racial no Rio de Janeiro, aluna da PUC, que abraçou a causa das religiões afro-brasileiras com muita coragem. Afinal, mães e pais de santo, seus filhos e adpetos sofrem há anos com o preconceio e a intolerância, e uma iniciativa como essa, capitaneada pela Pontifícia Universidade Católica já é um grande passo. A pesquisa tem ainda o apoio do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente – Nima e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do Governo Federal.

Mãe Flávia apresenta os primeiros resultados do mapeamento

A pesquisa merece outros apoios, de instituições de ensino a governos, pois da mesma forma que exigimos e lutamos pela igualdade racial, é necessário e urgente olhar para os lados e descobrir o quanto ainda sofrem os religiosos de casas de umbanda, de candomblé e de outras nações, pura e simplesmente por serem exercidas, ao longo dos anos, pela maioria negra. Passam por achaques, deboches e violências de todo o tipo e por isso acabam se escondendo nas periferias, nos morros, em fundos de quintais, hoje considerados pela própria pesquisa como quilombos urbanos. Nos terreiros são desenvolvidas obras sociais gigantescas, que praticamente ninguém tem notícia. Também por isso o mapeamento é muito bem vindo.

Já passou da hora de vencer o cancro da hipocrisia e assumir nossas raízes culturais, afinal, o brasileiro que nega o sangue negro nas veias é no mínimo desinformado. É também uma ótima oportunidade para que adeptos das religiões de matriz africana se mostrem, se posicionem e batam no peito: “sou umbandista”, “sou candomblecista”, sou gente. E não é porque a Constituição Federal garante; é porque são seres humanos, com todos os direitos que essa condição lhes confere. Anauê!
.

8 comentários:

Anônimo disse...

QUE MANEIRO!!

e VIVAS OS ORIXÁS!!! AFINAL COMO OS DEUSES DO OLIMPO ELES TAMBÉM FORAM GUERRREIROS...

É UMA HISTORIA MUITO RICA QUE DEVE E MERECE SER PRESERVADA.

UMA VEZ UMA ENTIDADE ME DISSE DEPOIS DE VER MINHA CARA DE ASSUSTADA AO VÊ-LO INCORPORADO: "DUMBA, NÃO É O SANTO QUE É MAL E SIM O HOMEM, É ELE QUE PEDE O MAL".

POR ESSES HOMENS PEDIMOS MUITO AGÔ!

E QUE OXALÁ TAMBÉM NOS PROTEJA.

LELE

Vívian Werneck disse...

Valeu pela força, Giovanna!!! Confio que as posturas mentais, que articulam a massa culturalmente preconceituosa, começarão a se modificar...
Quem é do axé diz que é!

Bjão...e ANAUÊ!!..

Vivian Werneck

Jader Moraes disse...

Adoro!

Viva as raízes negras deste meu país, viva as religiões de matriz africana, viva aqueles guerreiros que ainda mantêm acesa essa cultura, mesmo em meio a preconceitos absurdos... Viva!!!

Ótima iniciativa da PUC. Dá proxima vez me chama... rs

Anônimo disse...

Viva a diversidade, a religiosidade e a fé acima de tudo! Que cada individualidade possa expressar o que tem no seu coração.
Assim seja... Marise Vieira

Claudio Carvalho disse...

Pierre Verger foi um francês mais baiano que já existiu. Seu trabalho ajudou desmistificar o candomblé, pena que seu trabalho se resumiu na Bahia.
Acho que esse trabalho de Mãe Flávia vem em bom momento. Tá na hora de derrubar tabus e preconceitos.

Underson disse...

Peralá!

Perdoem a minha ignorância, mas "anauê" não era a saudação dos integralistas???

Giovana disse...

Resposta a Under Son:
Anauê é um vocábulo Tupi, que servia de saudação e de grito dos nossos indígenas. É uma exclamação afetiva que quer dizer “Você é meu irmão".

Underson disse...

Eu sabia que vinha do Tupi, Giovana, mas não sabia o significado. Obrigado pela informação. O que me intrigou é que os integralistas, aqueles que seguiam os ideais fascistas do Plínio Salgado, a usavam como saudação. Era uma forma de demonstrar que eram nacionalistas. Aliás,qualquer bom integralista devia odiar as religiões de matriz africana ou qualquer manifestação da cultura negra. Gostaria de saber qual a ligação da palavra com essa cultura.
Abraços