Estamos mesmo no terceiro milênio?
Gostei muito do texto do Jorge Luiz Calife, que está na edição de hoje no Diário do Vale. Ele fala sobre mulheres que exibem o corpo e que, segundo um clérigo iraniano, seriam por isso as responsáveis pelos terremotos, pois com sua descompostura estariam provocando a ira de Deus. Por causa desse episódio, a blogueira americana Blag Hag propôs o “dia do decote”, no dia 26 de abril, em repúdio às declarações do tal líder religioso, o chato da vez. Após um passeio pelas características geológicas da Terra, pelas mulheres do antigo Egito, que andanvam com os seios nus, pelas mamas da atriz Erica Durance e pelos sonhos eróticos do astronauta Michael Collins, Calife encerra o artigo assim:
“Mas o episódio do clérigo iraniano e do proposto “dia do decote” mostram como a civilização regrediu em certas partes do nosso planeta azul. Das antigas religiões onde a mulher era associada com a mãe terra, símbolo da fertilidade e da vida, passamos a um mundo de religiões onde a mulher é vista como ameaça e como símbolo do pecado. E já estamos no terceiro milênio!”
Ontem presenciei um garotão malhadão, desses cujo tamanho do cérebro é totalmente desporporcional ao tamanho do bíceps, perguntar ao um adolescente se ele era homem mesmo, porque ele usa brinco. Fiquei pasma. Não estivesse com pressa, iniciava ali uma discussão sem fim. Mas, paciência. Quem faz esse tipo de comentário não merece sequer atenção. Só que não parei de pensar no assunto desde então, e o texto do Calife combinou perfeitamente com meu raciocínio sobre o tema, embora ele o tenha abordado pelo lado feminino da coisa.
Num país multiétnico como o Brasil é inaceitável e até mesmo ignorante esse tipo de preconceito (aliás, qualquer tipo de preconceito é uma ignorância). Somos decendentes de indígenas, africanos, espanhóis, portugueses, todos com históricos de brincos nas orelhas. E o machistazinho deve escutar na academia que isso não é coisa de homem. E acredita, coitado. O que está faltando é informação, um pouco mais de leitura.
Estamos no terceiro milênio, como bem lembrou Calife, e às vezes me parece que o homem involui. A tecnologia nos favorece aprendizado (nem sempre; só pra quem quer) em qualquer área, cada vez mais há livros disponíveis para leitura e download na internet, ou seja, o acesso à informação está a cada dia mais facilitado e ainda tem gente que só tem olhos para os próprios músculos, enquanto as massas encefálicas definham. E dessas bocas, como a do clérigo iraniano, só saem bobagens. Confesso que isso me dá desânimo.
Também me causa certa irritação pessoas que sempre tentam encontrar uma explicação para a homossexualidade. Entre as muitas que ouço, as piores: “Isso é uma coisa ideológica, um modismo que com certeza passa”, “São pessoas que sofrem de algum tipo de desvio e descarregam no desejo sexual (ai!)”. Sem falar nos machistas que creem que mulheres homossexuais não conheceram um belo membro. “O pior é que muitas de nós conhecemos, sim, e não gostamos”, diz uma amiga. Bom, mas isso é assunto para outra crônica.
Parabéns ao meu amigo Jorge Luiz Calife, de quem sou leitora quase assídua. Gosto de ler gente que escreve gostoso. E é sempre bom descobrir pessoas que pensam.
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4 comentários:
Muito interessante o texto! Concordo com suas palavras.
Já deu essa história de preconceito racial, etnico, de gênero, né? Quando ouço alguém insinuar isso já fico logo cansada e chuto o balde. Falo mesmo: "para com isso, meu irmão, onde que tu tá, meu? Se atualiza aí. Mas não tem jeito, eles teimam em aparecer, em todo canto, parecem membros de uma seita. Terceiro e încurável milênio. Ainda bem que tem gente antenada com a harmonia da diversidade. Essa é a minha turma. Beijo, Auad
Sem dúvida alguma podemos considerar que tanto o preconceito em geral, como o fanatismo religioso apontam para um só lado: o da intolerância! E o que é isso senão a ausência de amor e de sabedoria, que considero serem partes integrantes da terceira inteligência, a inteligência espiritual, tão em falta em nossa sociedade.
Confesso que isso tudo também me dá um desânimo...
O homem não evolui junto com o tempo, infelizmente. O tamanho do bíceps cresce, mas o cerébro continua igual a uma ervilha...
Mas não perco a esperança não. Um dia, Deus queira, tanto preconceito vai acabar. Oxalá!
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