Hospital da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência
Foram viagens de esperança, de certeza, de alegria, de prazer, de aventura, de tristeza, de solidão, de raiva, de divertimento, de muito humor e também de depressão. Não dá pra simplesmente imaginar como é descer a Serra das Araras todos os dias e voltar pra casa. Só mesmo praticando é possível saber a que ponto de esgotamento chega o ser humano, principalmente numa situação como a minha, correndo atrás dos finalmentes do meu tratamento contra o câncer.
Ir ao Rio diariamente me obrigou a algumas observações interessantes. Coisas que estão lá, pelo caminho, mas que nunca paramos – claro que não – pra olhar mais atentamente. Como por exemplo uma casa na favela da Maré, onde pude ver duas geladeiras chiquérrimas na cozinha. O Lincoln chegou a comentar “deve ser salgadeira”. Isso foi possível por conta do engarrafamento na Linha Vermelha; e por parar ou passar devagar muitas vezes, já não erro mais a localização. Também na Linha Vermelha descobri uma criação de cabras junto com galinhas d’Angola e uma outra de gado. Não estou brincando. Engarrafada naquele lugar a gente vê de tudo.
E vi mais, olha só:
- Vários out doors aunciam o site de um sex shop.
- Um senhor bem barrigudinho, frequentador do bar Gurilândia, na Tijuca, toma todos os dias sua cerveja, no mesmo horário, preso à guia do seu cão poodle.
- A Tijuca para na praça Saenz Peña. Um saco.
- Na Baixada Fluminense, três cães moram no telhado da casa.
- A rádio JB FM foi a melhor companhia para o meu silêncio, pelo menos até passar a placa de Austin/Rosa dos Ventos.
- Os motéis são uma diversão à parte. Um deles anuncia “Você traz o jantar e ganha o café da manhã”. Outro: “Se beber não dirija. Vá pra cama”. E o melhor deles: “Assista aqui aos jogos do Brasileirão”. Dei muitas gargalhadas ao ler essa faixa.
- Quase ao lado da casa das geladeiras, pelo menos quatro marmanjos assistem religiosamente à novela das 7 na TV do boteco.
- Igreja Projeto Vida Nova – a igreja que tem cara de leão. É isso mesmo o que está lá, escrito na placa.
- Pelo menos uma dezena de ‘night clubs’ na Baixada lotam. Todos os dias.
- Há quase mais fármácias por quarteirão do que gente. Pelo menos na Tijuca.
- Já foi o tempo em que caminhoneiro encostava à noite pra dormir ou por segurança. É de dar tremedeira a quantidade de caminhões e carretas na Dutra depois das 21 horas. Pior ainda é a farra que os motoristas fazem. Carro pequeno passa apertado.
- Minha amiga Carol tem razão. Carioca adora falar da vida dele sem ser solicitado.
Ainda há muita coisa anotada dessas viagens, que ainda estou juntando pra trazer pra cá. Mais engarrafamentos, calor pra c..., os lanches na cantina do hospital, chuva na estrada à noite, os motoristas que me levaram... Por enquanto, fique com essas. O importante mesmo é que do lado de cá da sua telinha há uma mulher curada, feliz, satisfeita, uma jornalista que se divertiu muito com essas observações. O Rio de Janeiro continua lindo. Mas por hora tô meio cansada.
P.S.: Dia 31 faço aqui mais alguns agradecimentos
e depois só volto no ano que vem. Fui!
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3 comentários:
De tudo o que escreveu, um pequeno trecho me chamou atenção, tanto que li umas 4 vezes:
do lado de cá da sua telinha há uma mulher curada!
E que venha 2010!!! =)
Um grande beijo e felicidades!
Que delicia esse texto, adorei essas observações e eu sempre me pego observando esses detalhes no meu trajeto diário para o trabalho com os dois ônibus que pego todos os dias.
Esse ano foi mesmo de vitórias!
E viva 2010!
Bj
A "igreja com cara de leão" existe em VR tbm! Rolei de rir quando vi pela primeira vez, ali em Niteroi (quase Retiro). haha
Uma mulher curada, feliz, satisfeita. Precisa mais de que?
Sua cura é, sem dúvida, a melhor notícia do ano! Vamos comemoraaaar!!!
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