28 de abril de 2009

A gripe suína e o agronegócio: uma reflexão

Do blog Azul Marinho com Pequi



Bem, que o porco tava com o nariz congestionado de tanto chorar depois da desclassificação do Verdão do campeonato paulista 2009 eu já sabia, mas que uma gripe originária dos suínos viraria a mais nova pandemia, nem a Mancha Verde podia prever!

Quando eu era pequeno sempre ouvia alguém dizer: "o cara é forte como um touro, também acorda com as galinhas e come feito um porco, de tudo, não rejeita nada!"; hoje esses animais, que eram sinônimo de saúde e bem estar, se tornaram os principais vetores de doenças extremamente mortais: primeiro veio a doença da vaca louca, que liquidou rebanhos e assustou a Europa; depois tivemos a gripe aviária que varreu a Ásia e assustou o mundo todo; e agora a gripe suína, surgida no México e que está sendo apresentada como a nova pandemia terrestre.

O que está havendo?? O mundo virou de cabeça para baixo?? Serão as pragas dos Cavaleiros do Apocalipse???

Infelizmente não, essas terríveis enfermidades são resultado da substituição da agricultura camponesa e familiar pelo modo de produção do agronegócio, onde animais são submetidos a intensas doses de hormônios e outras substâncias para que cresçam e ganhem peso no menor espaço de tempo possível, para garantir o lucro das empresas.

Um frango que no terreiro de qualquer sítio leva quase um ano e meio para ficar no ponto para virar galinhada, nas granjas este tempo se reduz a 40 dias (e lembre-se: para um pinto nascer são 21 dias dentro do ovo!!), num ambiente repleto de ração vitaminada e com mais de 30 a 40 mil franguinhos reclusos, onde nem a noite a luz é apagada, já que no escuro os bichinhos não comem, e se não comem não crescem nem engordam, então deixam a luz acesa e o franguinho fica comendo dia e noite, até alcançar os quarenta dias.

O gado bovino é outro exemplo, enquanto nos pastos o tempo de engorda leva anos, o sistema de criação européia, intensiva, acumula em galpões centenas, milhares de bezerros, no máximo garrotes, já que são mortos muito cedo!! Nestes galpões eles recebem alimentação "balanceada", leia-se cheia de hormônios e vitaminas, além de conter ossos moídos que auxiliam no acúmulo de cálcio para que a ossatura do boizinho aguente o crescimento monstro a que é submetido. Mas vaca não comia capim??? É, mas agora come ração de ossos de outras vacas, ou seja, transformamos as vacas, de ruminantes e vegetarianas em carnívoras e canibais!!!!!

Por fim, veio o porco, bichinho fofinho e gordinho dos quintais de qualquer sítio, o biodigestor natural das donas de casa do interior, que no máximo transmitia uns verminhos para as crianças e a cistircicose, a doença mais temida da roça: "vai dá bichu do porco na sua cabeça minino, vai carçar os pé!!!". Hoje o porco fica gripado e quem morre é o homem!!! E porque? Porque estes animais também estão sendo criados de forma intensiva, submetidos a fortes doses de hormônios, remédios e outros agentes químicos, que reduzem o tempo entre o nascimento e o abate.

Transformamos nossas fontes de proteínas em veneno pra nossa saúde, e a natureza vai sofrendo mutações e nos ataca em vez de nos alimentar.
Bem, mas você pode pensar: vou me salvar!! Vou virar vegetariano . . . comer só verduras, legumes, carne e leite?? Sim, de soja e pronto! Não terei problemas com umas vacas doidas ou com um frango ou porco de nariz entupido!!

Opa, pera aí, você falou carne de que mesmo?? Soja?? Da Monsanto ou da Syngenta?? Ihhi, acho melhor comer um frango com febre!!! E não é só a soja, o milho, e outros grãos já estão sendo modificados geneticamentes para se tornarem resistentes ao Roundap e outras drogas, sem falar nos altos índices de contaminação por agrotóxicos presentes nas verduras e legumes.

Ou seja, caro leitor: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come!! Ou melhor, espirra!!!

A agricultura familiar, o modo de vida camponês, a reforma agrária como política pública de democratização do acesso à terra e as pequenas unidades produtivas como modelo de desenvolvimento para o campo são a solução para que as plantas e os animais voltem a ser sinônimo de saúde e bem-estar.

A tecnologia deve ser incorporada para diminuir a rigidez do trabalho, para que o camponês possa ter tempo livre pros estudos, pro lazer, deve também proteger o meio ambiente e garantir a qualidade dos alimentos e não se preocupar apenas com a lucratividade das fábricas de agrotóxicos.

Se não pensarmos nisso, se não defendermos isso no nosso dia-a-dia, acabaremos por nos matar, ou pela destruição de nossa mãe terra ou por conta de algum porco ou frango com dor de cabeça e febre alta.



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