Tião Santos*
Não podemos dizer que ver estampada nas páginas dos jornais mais uma manchete contra as rádios comunitárias, como foi o caso das manchetes de hoje (10/02), tenha sido uma surpresa. Afinal, quem acompanha as lutas pela democratização da comunicação já cansou de ver esse tipo de notícia.
Também não dá para achar surpreendente a maneira como os “jornalistas comprometidos com a ética e a verdade” descreveram a operação realizada na Cidade de Deus.
Será que devemos achar espantosa a montagem das fotos e o jogo de palavras tentando vincular as emissoras não autorizadas ao crime organizado?
E a ausência do contraditório, princípio básico do jornalismo, não respeitado na matéria, o que pensar?
Infelizmente, neste caso, não há nenhuma novidade.
A “novidade” nessa história toda foi a presença do BOPE. Aliás, o que fazia a tropa de elite da Polícia Militar do nosso estado numa operação da ANATEL para fechamento de rádios comunitárias? Será que não tinham coisa mais importante para fazer do que fechar rádios não autorizadas? Não autorizadas, não porque não querem ter autorização. Pois, 99% das rádios que estão operando sem autorização estão por total ineficiência do poder público, do ministério das comunicações que recebeu mais de 18 mil pedidos e, em 11 anos de regulamentação da lei 9.612, só autorizou definitivamente pouco mais de 3 mil emissoras.
Será que os policiais “mais bem preparados” do nosso estado não tinham outras demandas mais urgentes como, por exemplo, achar o bandido que fugiu pela porta da frente do presídio de alta segurança, passando despreocupadamente por agentes penitenciários e policiais?
Será que não tinham nenhum traficante ou miliciano que aterrorizam dia e noite cidadãos e cidadãs do nosso estado que merecessem mais atenção do que uma rádio comunitária?
O que será que está por trás de tudo isso, que perigo oferecem as rádios comunitárias?
Já sei, dizem, descaradamente, como na matéria, que rádio comunitária pode derrubar avião. O próprio representante dos empresários de emissoras comerciais afirma que são 15 mil rádios comunitárias no ar. Não é razoável achar que se elas derrubassem avião os países em guerra teriam um estoque delas ao invés das modernas armas antiaéreas?
Historicamente as rádios comunitárias são discriminadas. No fundo não são as rádios, são as pessoas que as fazem, onde estão operando, a quem estão servindo. É a favela, a periferia, o povo expropriado. A discriminação é bem maior!
E, apesar de toda repressão e discriminação elas estão aí, falando para toda a comunidade, ganhando audiência e credibilidade, prestando os serviços jamais prestados pelas concessionárias comerciais. São elas que ajudam o povo a se organizar, levando a informação de maior interesse da comunidade, mobilizando a sociedade para ações locais, resolvendo problemas que, muitas vezes, deveriam ser resolvidos pelo estado.
São tratadas como coisa criminosa, mas são as mais procuradas pelos órgãos públicos para que prestem serviços gratuitos, o que fazem, com prazer. São, constantemente, visitadas por governantes e, principalmente por políticos em época de campanha. Todos querem tirar uma casquinha das “clandestinas”: presidente, governador, prefeito, deputado, todo mundo que ficar bem na foto na hora da campanha, depois...
É para sentir vergonha de uma imprensa e de governos que se prestam a isso, não?
*Radialista e ex-presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária
Também não dá para achar surpreendente a maneira como os “jornalistas comprometidos com a ética e a verdade” descreveram a operação realizada na Cidade de Deus.
Será que devemos achar espantosa a montagem das fotos e o jogo de palavras tentando vincular as emissoras não autorizadas ao crime organizado?
E a ausência do contraditório, princípio básico do jornalismo, não respeitado na matéria, o que pensar?
Infelizmente, neste caso, não há nenhuma novidade.
A “novidade” nessa história toda foi a presença do BOPE. Aliás, o que fazia a tropa de elite da Polícia Militar do nosso estado numa operação da ANATEL para fechamento de rádios comunitárias? Será que não tinham coisa mais importante para fazer do que fechar rádios não autorizadas? Não autorizadas, não porque não querem ter autorização. Pois, 99% das rádios que estão operando sem autorização estão por total ineficiência do poder público, do ministério das comunicações que recebeu mais de 18 mil pedidos e, em 11 anos de regulamentação da lei 9.612, só autorizou definitivamente pouco mais de 3 mil emissoras.
Será que os policiais “mais bem preparados” do nosso estado não tinham outras demandas mais urgentes como, por exemplo, achar o bandido que fugiu pela porta da frente do presídio de alta segurança, passando despreocupadamente por agentes penitenciários e policiais?
Será que não tinham nenhum traficante ou miliciano que aterrorizam dia e noite cidadãos e cidadãs do nosso estado que merecessem mais atenção do que uma rádio comunitária?
O que será que está por trás de tudo isso, que perigo oferecem as rádios comunitárias?
Já sei, dizem, descaradamente, como na matéria, que rádio comunitária pode derrubar avião. O próprio representante dos empresários de emissoras comerciais afirma que são 15 mil rádios comunitárias no ar. Não é razoável achar que se elas derrubassem avião os países em guerra teriam um estoque delas ao invés das modernas armas antiaéreas?
Historicamente as rádios comunitárias são discriminadas. No fundo não são as rádios, são as pessoas que as fazem, onde estão operando, a quem estão servindo. É a favela, a periferia, o povo expropriado. A discriminação é bem maior!
E, apesar de toda repressão e discriminação elas estão aí, falando para toda a comunidade, ganhando audiência e credibilidade, prestando os serviços jamais prestados pelas concessionárias comerciais. São elas que ajudam o povo a se organizar, levando a informação de maior interesse da comunidade, mobilizando a sociedade para ações locais, resolvendo problemas que, muitas vezes, deveriam ser resolvidos pelo estado.
São tratadas como coisa criminosa, mas são as mais procuradas pelos órgãos públicos para que prestem serviços gratuitos, o que fazem, com prazer. São, constantemente, visitadas por governantes e, principalmente por políticos em época de campanha. Todos querem tirar uma casquinha das “clandestinas”: presidente, governador, prefeito, deputado, todo mundo que ficar bem na foto na hora da campanha, depois...
É para sentir vergonha de uma imprensa e de governos que se prestam a isso, não?
*Radialista e ex-presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária
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7 comentários:
Olha, eu já vivenciei isso. E é a pura verdade!
Trabalhei como locutora na Rádio 105,5 FM e depois na Cidadania Fm e a rádio era ativa na comunidade, muitas pessoas nos procuravam para os mais diversos assuntos e empresas anunciavam conosco.
Em épocas de eleição era muito interessante (!?), pois fazíamos debates e todos queriam ajudar. Quando passava, as coisas mudavam e obviamente a rádio foi fechada pelo Anatel a pedido de polítcos de VR.
Uma pena pois muitos leitores desse blog certamente ouviam a Cidadania e devem se lembrar da programação de qualidade e dos programas que veiculávamos.
Eu participei do primeiro encontro de rádios comunitárias, aqui na região, e o nosso convidado foi Tião Santos. Na ocasião ele deu um bom exemplo de como deve ser a programação de uma emissora comunitária. O fato aconteceu em Queimados, na baixada Fluminense, em uma rádio que realmente atendia as necessidades dos moradores. Por prestar serviços de utilidade pública e ajudar no desenvolvimento local, a rádio ganhou credibilidade com a população.
Eu não estou lembrando o nome da emissora. Mas o fato é que a Polícia Federal estava com um mandato par fechar a rádio, e quando o locutor percebeu o que estava acontecendo, ele rapidamente usou sua "arma", que era o microfone, e naquela hora fez uma convocação ao vivo aos moradores, para que eles tentassem impedir aquela ação. Resultado, os ouvintes foram até a porta da rádio, e impediram a polícia de fechar a emissora.
Esse exemplo mostra a força de uma emissora que tem compromisso com a comunidade. A programação diária ajudava os moradores na solução dos problemas locais, mostrando assim a nova tendência do rádio, que é a regionalização. Enquanto as outras emissoras querem aumentar o sinal de alcance, as rádios comunitárias querem ter uma programação local que resolva os problemas dos moradores de bairros, que são os mais necessitados da atenção dos veículos de comunicação.
Seria uma injustiça acabar com um trabalho feito para o benefício da população. Lembrando que essa é uma função de todos os veículos de comunicação, pois eles são concessão pública.
Amanhã eu faço um debate na minha aula de rádio com os alunos sobre as rádios livres, comunitárias e educacionais.
Obrigado Giovana, pela indicação do texto.
...realmente, o microfone é a maior arma de uma rádio livre!
É verdade, as rádios comunitárias são as vozes do povo. O microfone a maior arma. Como não possuem apoio do governo, precisam com suas forças fazer o 'jornalismo' comunitário que está em suas mãos.
A população gosta e apoia o trabalho dessas mídias.
É a Rádio Novos Rumos de Queimados, Douglas.
A Abert tá jogando pesado para queimar as rádios comunitárias.
Coincidentemente, o governo está anunciando a Conferência Nacional de Comunicação, oportunidade histórica de construirmos uma legislação democrática para a comunicação brasileira, inclusive para as rádios comunitárias.
É disso que a Abert tem medo.
boa noite pra todos. gostei muito de suas resposta sobre as radios comunitaria. eu sou umas das pessoas que foram presas na cidade de deus . por ser proprietario de uma radio comunitaria . só que .estou totalmente perdindo o que fazer . tenho que apressentar a minha defessa na anatél . gostaria que se alquem ao ler esse recado podesse me ajudar o que fazer . por favor preciso de ajuda o que eu estava fazendo era ajudar muitas das pessoas que precisam de empregos , doaçoes briquedos para as criança . varios informativos de governos enfim . hoje estou precisando de alquem que tenha uma esperiencia ou ja passou no mesma dor que eu estou passando por favor me ajude. eu tenho 17 dias para me devender . entre em contato . meu e-mail pr.rc.mello@hotmail.com ou 32863077 obrigado . ricardo
Obrigado amiga Giovana por postar meu artigo em seu Blog. Cada vez mais devemos usar essas ferramentas para que nossas palavras possam chegar ao nosso povo. Sabemos que através dos veículos oficiais isso jamais aconteceria.
Grande abraço a todos e todas.
Tião Santos
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