O balanço da catástrofe
Por Luciano Martins Costa, em 1/12/2008
Fotos Hermínio Nunes/Ag.RBS/AE, Patrick Rodrigues/Ag. Rbs, Marco Gamborgi/Mafalda Press, Piero Ragazzi/Mafalda Press/EFE e Artur Moser/Ag. RBS/
Os jornais e as revistas de informação mergulharam na tentativa de explicar a catástrofe que se abate sobre o estado de Santa Catarina há uma semana.Veja escolheu para a capa o retrato da primeira vítima, uma menina de três anos, soterrada em Blumenau. Época evitou personalizar a tragédia na capa, mostrando um panorama de Itajaí, em foto feita na segunda-feira (24/11), quando praticamente toda a cidade estava tomada por água e lama.
As duas principais revistas semanais tentam explicar as causas da tragédia, mas Época mergulhou mais fundo, mostrando como os desmatamentos contribuíram decisivamente para que o efeito das fortes chuvas fosse tão devastador.
A publicação da Editora Globo observa que Santa Catarina foi o estado campeão de desmatamento da Mata Atlântica entre os anos de 2000 e 2005. Além disso, informa a revista, a substituição da mata nativa por plantações de pinheiros em todo o Vale do Itajaí agravou o problema do escoamento da água.
O resto da tragédia se deve à ocupação desordenada de morros e encostas, em muitos casos com invasão de áreas de preservação permanente.
Pauta necessária
A análise feita pelas revistas derruba algumas afirmações precipitadas de colunistas de jornais, que apontaram a falta de obras federais e estaduais como causa do desastre. O que agravou o efeito das chuvas foi exatamente o excesso de intervenção humana numa região já vulnerável.
Detalhes apresentados por especialistas também esclarecem de vez que os alertas de ambientalistas não se referem simplesmente à necessidade de preservar a natureza, mas ao fato de que a ocupação inadequada de áreas cobertas com florestas pode ser fatal para o ser humano.
A catástrofe no Sul do Brasil entra agora no período da reconstrução. A rápida movimentação das redes de solidariedade tornou desnecessário o envio de mais alimentos e roupas, mas as autoridades sanitárias estão preocupadas com a possibilidade de surtos de doenças. Pelo menos 100 mil pessoas, em toda a região, podem ter sido contaminadas e já se registram 21 casos suspeitos de leptospirose.
Além disso, a paralisação da economia em algumas cidades cria exércitos de pessoas desocupadas e desesperadas pela perda de suas casas.
Agora é hora de um jornalismo mais cuidadoso e menos espetaculoso.
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3 comentários:
Sinceramente adorei a frase: "Agora é hora de um jornalismo mais cuidadoso e menos espetaculoso”.
Aplausos ao Ser Humano Luciano Martins Costa por sua lucidez!
Jornalismo não espetaculoso? Está difícil ver isso hoje em dia, principalmente nas redes de televisão.
Concordo que a matéria foi finalizada com chave de ouro e quero dizer o porquê. O medo é tão antigo quanto o próprio homem e numa representação remota do medo,chegamos à cabeça da Medusa, cujo olhar era mortal. Aquele que ousasse olhar diretamente para a Medusa acabava petrificado. Esse medo do olhar da Medusa até hoje nos acompanha, através do medo que temos do olhar do outro. E não é só isso que concluímos através da mitologia. Sabemos que só olhamos para o que nos dá prazer. Desviamos o olhar sobre o que nos dá medo e nojo. Concluimos então que o homem sente prazer ao olhar para a desgraça do outro. É assustador admitir? Mas a audiência que mídia especulativa apresenta, nos mostra que isso é verdade. Se queremos evoluir, precisamos mudar certos hábitos e selecionar os meios de comunicação que entram dentro de casa -- é um bom começo. Olhar a desgraça repetidamente o dia todo pela tv -é uma confirmação do prazer sádico do homem pelo sofrimento do outro. Por isso eu concordo com a frase de que precisamos optar sempre por um jornalismo mais cuidado e informativo.
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