17 de setembro de 2007

Alternativa ao Faustão

Domingo, quase cinco da tarde. Volto de um almoço na cidade vizinha. Acabo de comer uma feijoada e saio devagar, curtindo a tarde de sol e vento fresco. Passo em frente a um motel de periferia e vejo um casal debruçado na janela, totalmente aberta. Ele, sem camisa: ela, de sutiã. Comentei na hora o que vi, ainda em tempo de observar melhor a cena, já que estávamos sem pressa. Ele, moreno; ela bem clara; ambos bonitos, magros, sorridentes. Da janela do motel vê-se o pôr-do-sol em toda a sua beleza e o casal lá, silencioso, apenas observando.

Quem costuma se deliciar com as nuances do dia, como eu, é capaz de entender. Uma tarde fina, de luz mansa de inverno, uma brisa que parece triste. O pôr-do-sol é laranja, já baixo, o céu é límpido. E o dia vai morrendo assim.

Fiquei pensando naqueles dois, numa tarde de domingo, após uma hora de sexo (mais? ou menos?), curtindo o inverno morno pela janela do motel. Não conheço alguém que faça isso. “No mínimo é uma alternativa ao Faustão”, disse meu namorado, “nós fomos comer uma feijoada e eles estão ali, românticos, descansando à janela depois de uma tarde de sexo selvagem”. Quem sabe?

Tive um amigo que detestava domingos. Saía nas noites de sexta e sábado, encontrava gente, bebia todas. Mas, no domingo, mal acordava e já encarava uma sessão de filme atrás da outra, para não ver o dia passar. Janelas e cortinas fechadas, sanduíche, água, café. Chegava a noite, via o Fantástico e cama. Foi assim durante quase toda a juventude até que conheceu uma garota. Que adorava domingos. As tardes de domingo. E ela o ajudou a descobrir algo de útil para fazer nesses momentos. Sexo.

Foram tardes e tardes dominicais, cada uma delas numa suíte de motel diferente. Ele, aprendendo a gostar de domingo; ela juntando algo que gostava com algo de que gostava ainda mais. Porém, em nenhum desses dias memoráveis a janela foi aberta, entravam debaixo de sol e saíam já noite.

Lembro dos relatos dele sobre essas horas. A tara pela garota, as conversas, a cerveja, o café depois do sono. E imagino em que pensava o casal na janela, onde morariam, e o que fariam da vida. Seriam namorados? Ou amantes? Estariam felizes? Ou se conheceram no almoço? Na noite anterior, talvez, e estavam ali encerrando o fim de semana.

Depois de tanta divagação vejo que já estou à porta de casa. Quase 17h30. E lembro do que meu namorado disse. “Uma alternativa ao Faustão”. Realmente nada melhor para um domingo que uma tarde de sexo, com direito a pôr-do-sol a dois. Sem TV.
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5 comentários:

Lincoln disse...

Lindo! Lindoo! Lindo!
Emocionante!
Meus olhos merejam!
Parece um roteiro nouvelle vague dos bons!
Viva meus sentidos dos 60's!
Linda! Linda! Linda!
Teamo.
Vai escrever na puta-que-o-pariu!
PORRA!

Claudio Carvalho disse...

Cara, adorei seu texto. Acho que foi simplesmente por identificação. Parece que você estava ecrevendo sobre mim, meus domingos e minha namorada...Que saudade. Desculpe a falsa modéstia. Eheheheheh.

CS Empreendimentos Digitais disse...

Perfeito!
Eu sempre disse: nada melhor a se fazer num domingo.
Texto show, comparações e metáforas perfeitas.
Arrasou, como sempre!

bjs

CS Empreendimentos Digitais disse...

Gi! Tem q mudar o endereço do blog na comunidade Sentido, no orkut.
Será q o Rick já mudou??

bjs!

Anônimo disse...

Adorei o texto e como disse o Lincon é nouvelle vague dos bons, já até pensaria num roteiro de filme......Por um outro lado: sexo e domingo tem tudo haver e esqueça a tevê.
bjo