4 de outubro de 2016

Sem filhote

Uma amiga me perguntou como está o ninho vazio.

(Pra quem não sabe: é quando os filhos vão embora pra assumir seus próprios encargos neste mundo e a casa fica de um jeito que toda hora é nó na garganta.)

Minha resposta ficou vaga, confesso. Não sei explicar claramente o que sinto sobre essa ausência. Não me vejo como a mãe que a sociedade considera normal, aliás, nem meu filho me vê dentro da caixinha.

A educação dele foi libertária, com base em amor, respeito e liberdade de escolha. Os amigos e as mães dos amigos estranhavam ao ouvi-lo contar: “minha mãe diz que eu tenho de ir embora, estudar longe e ficar por lá”. Ele cumpriu o mandato e a mãe ficou satisfeita. Sério. Com choro, mas sem nem um pingo de dúvida do estímulo certeiro que dei.

Já vi mulheres dizendo de tudo um tanto sobre seus ninhos vazios. Da boca pra fora, da boca pra dentro, com estardalhaço, deprimidas. Já vi filha voltando em definitivo pra casa com pena da mãe que ligava todas as noites chorando. Já vi mãe que se desfez em lágrimas durante os cinco anos em que o filho estudou fora. Já vi mãe que largou tudo pra trás e foi atrás da filha (essa história foi um desastre!).

Não há receita para viver. Não há dica milagrosa, simpatia, nem mágica. No meu caso, foi uma afirmação elementar: não educá-lo pra ficar agarrado na minha saia ad eternum. É cruel demais exigir isso. É o que penso. Pragmática que sou, foi mais fácil planejar e me programar para entregar meu rapaz à própria vida, até porque, se eu não entregasse, iria assim mesmo. É como funciona a nossa natureza e quem se recusa a ela, sofre.

Circula muito pelas redes sociais uma frase do Rubem Alves, que diz: "Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.". Vai voar, sim, pra quão longe desejar ir, sabendo que tem pra onde voltar, em terra firme, se quiser ou precisar. Jamais deixarei de ser a mãe, e com o respeito mútuo que cultivamos, viveremos bem um com o outro, ainda que à distância.

O ninho está vazio. Perfeito para escrever, estudar, vagabundear pelas redes sociais; pra me dedicar sem interrupção ao trabalho minucioso de pesquisa, aprendizado, criação e montagem de terrários; pra tomar café comigo, tomar cerveja comigo, ir ao cinema no meio da tarde comigo, ler no sofá durante um dia inteiro sem interrupção. Tudo isso com plena certeza de que o cara está feliz. Tão simples e tão complicado de absorver, né? Está feliz: cursando o que escolheu por vontade dele, independente e autônomo como sempre foi e como batalhei para que fosse.

O ninho está vazio. E nada me falta.
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