Onde é que vai caber tanta gente?
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Quando criança tinha muita preocupação com a morte, a minha
morte. Tinha pavor, pânico, sei lá, de morrer (ainda não me livrei disso
totalmente, apesar de me dizer espírita). E certa vez perguntei à minha mãe por
que não poderíamos todos ficar por aqui, na Terra, para sempre. Ao que minha
mãe respondeu: “Todas as pessoas que nascem, vêm de algum lugar; portanto,
precisam ir algum dia. Imaginem se todas que nascerem forem ficando, ficando...
Onde é que vai caber tanta gente?”
Como espírita, tenho medo mesmo é da transição, de ir para
algum lugar que não sei onde, ou para o nada (!) (?). Mas, prefiro viver
acreditando que vou me transferir de endereço - mesmo que não consiga formular
na mente que lugar seria esse exatamente -, do que viver na certeza de que me
transformarei em nada. Morrer crendo que logo após estarei em outra dimensão,
na companhia dos que me antecederam, é bem mais agradável. Se, caso morra e
vire nada, já serei nada mesmo e não vou sofrer por isso.
O que me fez divagar nestas primeiras linhas foi, na
verdade, a notícia de que no fim deste mês seremos sete bilhões de pessoas a
habitarem na Terra. A informação foi divulgada pelo Fundo de População das
Nações Unidas – Unfpa, no momento em que lançou a campanha “7 Bilhões de Ações”,
que prevê a valorização do papel de cada indivíduo e instituição na busca por
um mundo melhor, compartilhando histórias e ações individuais ou coletivas para
responder aos grandes desafios atuais, como a superação da pobreza e o papel
dos jovens na construção do futuro.
Quase impossível visualizar este número de pessoas –
7.000.000.000 – e imaginá-las mundo afora, ocupando casas, apartamentos,
favelas, ruas, colinas, subúrbios, fazendas, escritórios, montanhas, desertos,
indústrias, calçadas, barrancos, garagens, pontos de ônibus, comércio,
palafitas, barracos, buracos nas pedras. Por isso lembrei da conversa que tive
na infância com minha mãe e compreendi, agora com clareza, o que ela quis dizer
naquele momento. Não se trata apenas de ter lugar suficiente para alocar tanta
gente, mas de provê-las de condições mínimas de uma existência digna, ainda que
a vida seja finita.
“Não estamos aqui simplesmente para lembrar este marco, mas
sim para resolver todas as suas vastas implicações”, disse o secretário-geral
das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no lançamento da campanha, na sede da ONU em
Nova York. “A pessoa de número ‘sete bilhões’ vai nascer em um mundo de
contradições. Temos abundância de alimentos, mas ainda se morre de fome. Vemos
estilos de vida luxuosos, mas milhões vivem na pobreza. Temos grandes
oportunidades para o progresso, mas também grandes obstáculos”, completou Ban,
lembrando que a campanha é um chamado para comunidades, países, Organizações
não-Governamentais – ONGs, empresas, acadêmicos e líderes religiosos, ou seja,
todos. Todos mesmo.
E segundo a própria ONU, a população mundial deve chegar a
nove bilhões antes de 2050 e pode alcançar os dez bilhões até o fim do século.
E então, o desavisado que lê este texto pergunta: “E eu com isso? Nem vou estar
vivo”. Pareço estar chovendo no molhado e me repetindo, porém, mais uma vez,
preciso falar de egoísmo.
O cidadão não tem filhos, nem terá netos, né? Ah, tá, então está bem. Não
precisa se preocupar com a sobrevivência de ninguém mesmo, a não ser com a
dele. Para este indivíduo sequer posso falar das outras pessoas, do resto do
mundo, fora do âmbito familiar dele, já que não enxerga milímetro além do
orifício do umbigo.
Para os que se preocupam em fazer o mínimo possível por si e pelos outros e
aos que já possuem leve tendência a ver um horizonte mais largo à frente, vai o
alerta do diretor executivo da Unfpa, Babatunde Osotimehin: “A hora de agir é
agora. As ações individuais, multiplicadas muitas vezes, podem fazer um mundo
de diferença. Juntos somos 7 bilhões de pessoas; contamos uns com os outros”. É
bom lembrar que 1 bilhão de pessoas ainda passam fome num planeta que oferece alimentos
suficientes para todos, e esses contam ainda mais com o pequeno esforço de cada
um.
E falamos aqui de necessidades humanas básicas, como comer, vestir e morar.
Mas em relação a sete bilhões, considera-se pouco o número de pessoas que estão
atentas ou que fazem algo de concreto para construir uma vida mais sustentável.
Mesmo com todo o conhecimento adquirido ao longo da história de ocupação do
planeta, o homem ainda se comporta de forma primitiva, pois permanece na
condição de usurpador do que está à sua disposição no ambiente. Portamto,
espera-se muito mesmo desta campanha, não só de mobilizar as pessoas para as ações
concretas, mas um algo mais que possa provocar drástica mudança de cultura. Parece
utópico, mas é o necessário.
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4 comentários:
Nossa, quanta gente, ne? Puxa.
Muito bom o texto!!!!
É de assustar. Pra piorar, o modo de vida ocidental que há 200 anos vem esgotando recursos e desperdiçando tudo na mesma quantidade que consome não ajuda muito na divisão parcimoniosa global. Dizem que se a China em matéria de consumo virar o que os EUA já foram no auge das vacas gordas... o bicho vai pegar.
É muita gente sim. Mas não pense na morte como uma coisa triste. Já afirmei aos meus familiares e torno isso aqui bem claro: O dia que eu morrer quero muita festa. Nada de choro. Afinal estarei ao lado do meu Senhor e isso é que importa.
Beijos
É muita gente sim e as autoridades devem ficar bem atentas para isso. Mas, deixando este dado de lado, quero voltar ao início do artigo, muito bem escrito por sinal. Não tenha medo da morte, como eu não tenho. Já falei aos meus familiares e agora torno público isso: quando eu morrer não quero choro e muito menos vela. Quero muita alegria, felicidade e palmas. Afinal estarei ao lado do Meu Senhor Jesus e para isso não deve haver lágrimas.
Mas, não há pressa...
Beijos, autora favorita.
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