O casal entrou na boate abraçado, parecia feliz, apaixonado, e empolgado com a noite que estava para começar. Quando entraram só vi os rostos; conforme foram se aproximando pude observá-los de corpo inteiro e uma surpresa me tomou. Fiquei sem saber se ria ou se me enraivecia com aquela imagem. Até meu filho me cutucou “mãe, olha isso!”. Já observara situações semelhantes antes, mas numa casa noturna, madrugada de sábado para domingo, ainda não.
A jovem mulher usava vestido preto, justo, curto acima dos joelhos, meia-calça preta rendada, sapato de salto fino muito alto, bolsa pequena de balada, cabelos pretos, longos, escovados, muito bem maquiada. O rapaz, de tênis esportivo surrado, bermuda florida(!) e camiseta de time de futebol desbeiçada na bainha, ou seja, pra lá de velha. Detalhe: aquela noite estava fria, muito fria. Percebe o desacordo?
Se alguém não consegue ver um problema nesta relação, creio que devo estar louca ou no mínimo não entender nadica de elegância. Se um namorado meu chegasse à minha porta para me buscar à noite vestido deste jeito, simplesmente diria “vá sozinho”. Sem noção é pouco para definir alguém que demonstre tamanha desconsideração com a companheira. Não que a aparência, a roupa ou o que for de apetrecho externo seja fundamental para apresentar-se às relações interpessoais, mas daí a pensar que não deveria ao menos vestir uma calça e uma camisa de algodão para levar a namorada a passeio é um pouco demais. E a imagem dos dois juntos era algo estranhíssimo!
Penso na situação oposta: será que ele encararia na boa encontrá-la de sandália rasteira surrada, camiseta desbotada, short caseiro, cabelo despenteado, para acompanhá-lo na noite? Afinal, há muita exigência (exageradíssima, diga-se) quanto à aparência feminina; exigência típica da nossa cultura machista, por isso sinto-me no direito de criticar esta rapaziada. O que faz um homem pensar que pode servir de companhia a uma mulher, quase vestido de pijama? Pois é esta a visão que tenho de centenas de casais que passam por mim no dia a dia, principalmente nos fins de semana, quando disponho de um tempinho para flanar por aí.
Dias atrás, ao sair da academia, disse ao meu filho “vá direto pra casa; nada de passar na casa da namorada agora, você tem de estudar”. Ao que ele respondeu “mãe, acha que endoidei? Pensa que passaria na casa dela assim, suado, com esta camiseta horrorosa? Ela merece mais consideração”. Meu filho tem apenas 13 anos. Nunca precisei dizer nada a ele a respeito. Captou a mensagem sozinho, ao observar comportamentos alheios.
Sem fazer apologia aos excessos com o corpo e vestuário, que hoje são uma prisão para muita gente, aprendi com um pai muito elegante que respeito ao outro também se demonstra no vestir. E meu pai era um homem simples, de pouco estudo, mas saía à rua sempre com uma camisa passada e sapatos. Sem camisa, jamais.
Também nunca precisaram me ensinar, com todas as palavras; aprendi sozinha ou já nasci achando horrenda, por exemplo, a inadequação de um homem sem camisa, dependendo do lugar em que está (para mim, só aceitável se for em ambiente de banho). E a tal da camiseta regata, sem chance. Desconheço algo mais detestável no vestuário masculino.
Pura sorte os homens que passaram pela minha vida não fazerem gosto disso. Creio que por intuição nunca me interessei por alguém que tivesse tais costumes. Aff, seria cansativo ter de dizer ao mocorongo “se você pretende ir com esta roupa, não vai comigo”. Como dizia minha mãe, ao me ensinar a passar batom, “você não tem o direito de assustar as pessoas na rua com esta boca pálida”. Sem exagero. Só um pouquinho de cuidado.
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Um comentário:
Esse último trecho, ótimo. Hj as mães esqueceram de dizer, que não assustem a ninguém, por "excesso".
É muita cor, em crianças.
Primeira vez comentando. Li sua postagem em LOla e estou adorando, lendo tudo. Beijos
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