16 de junho de 2011

Homens que falam demais

Mulheres têm fama de falar muito. É histórico, antológico e pode ser machista, porque por trás desta acusação muitos homens escondem um defeitinho irritante: eles também falam muito. Pode ser que ninguém repare, afinal a pressão em cima da mulherada vem de longa data, porém tenho observado isso já há algum tempo e feito anotações a respeito. Em todos os lugares que vou ou que frequento, há sempre um bocado de testosterona ressoando na atmosfera, em tons normalmente acima dos decibéis aceitáveis. Mulheres falam alto; homens muito mais.

Todos os dias (ou quase todos) um grupo de professores almoça no mesmo restaurante que eu. A presença deles é tão marcante que quando não aparecem sinto falta, pois sempre divertem meu solitário horário de refeição. Eles chegam falando, pedem a refeição falando, se servem falando, se encaminham para a mesa sem parar de tagarelar e, juro, não sei como conseguem comer falando tanto. E falam alto, e discordam entre si, discutem, se desentendem. Os assuntos são variadíssimos, desde a política nacional até o milionário blog da Maria Bethânia. Esta semana um deles se exaltou além da conta e o colega disse “pô, não dá pra conversar com você, cara, você fala muito”. E são inseparáveis.

Observe um ambiente cheio. A quantidade de homens e mulheres é até equilibrada. Que vozes mais se ouvem, as masculinas ou as femininas? Outro exemplo: mesa de bar. Nem é preciso ouvido atento para escutar o vozerio dos cuecas presentes. E como falam, e como xingam, e como riem e gargalham. São felizes estes caras.

Locais comumente frequentados por mulheres, os salões de cabeleireiros atualmente recebem uma clientela masculina cada vez maior. Preocupada com a estética e com o visual moderno, a rapaziada não só tem comparecido quase religiosamente aos salões quanto tem assumido que gostam tanto de exercer seu poder de falatório quanto as donas das madeixas mais compridas e alisadas nos secadores. Vi, vejo, presencio os caras lavando, hidratando, cortando e falando, falando, falando.

Dia desses estava à mesa de um restaurante, novamente sozinha, e ao lado um grupo formado por quatro homens e duas mulheres falava do caso da professora de Volta Redonda que foi flagrada com o aluno de 15 anos num motel. O marido, segundo diziam, perdeu a razão ao fazer todo aquele escândalo, envolvendo a imprensa e a polícia. E dali surgiram comentários diversos, dos mais sórdidos às inevitáveis piadas, dando razão ou não à professora. Arrisque responder: quem mais falava, ria alto, xingava e vociferava? Homens, claro. As duas mulheres só assistiam e riam baixo.

Agora, brincando sério, pior que homem que fala muito é homem fofoqueiro. Pensa aí. Você conhece um. Conhece, sim, com certeza, porque este ser abjeto é mais comum do que se pensa. É uma presença que se faz amiga, mas na verdade é nefasta; está sempre por perto, rondando, o tempo todo coletando informação para reproduzir logo ali na frente, pelo simples prazer de dizer a alguém que sabe algo sobre sua vida e que ninguém mais sabe. E conta, salivando de prazer. Penso que este tipo deve ter uma vidinha muito borocoxô, para se interessar a este ponto pelos atos alheios. De mim, merece no máximo meu risinho de desprezo e quando muito um deboche. Ui!
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2 comentários:

Ludmila Vilarinhos disse...

Só pra ilustrar a parte que você fala sobre os salões de beleza: meu namorado é cabelereiro (barbeiro), e não só eu observei mas ele mesmo afirma que os clientes dele vão lá pra contar história. Eu mesma só de passar alguns minutos no salão já escutei vários clientes falando sem parar. E olha, falam muito mais do as que as mulheres costumam falar com cabelereiro.

Frávia, a dona do brog disse...

Gente... bom demais! Identifiquei os "tipos" em cada palavra do texto. ÓTIMO!