13 de maio de 2011

A longa espera que é viver

Expectativas machucam. Quem dera fosse possível passar pela espera, sem esperar. Assim: ao aguardar uma notícia que poderá mudar o rumo dos próximos dias, ou meses, ou ano, ideal seria esquecer, apagar, guardar na caixinha, lá no fundo da gaveta. Aguardar, sem lembrar. E quando a notícia enfim acontecesse, que ótimo! Ou, que pena... Qualquer que fosse o resultado, seria comemoração ou sofrimento numa única vez, sem a angústia de dias, semanas, naquela gastura sem fim. Quem espera sempre alcança, mas haja chazinho para aplacar a ansiedade, haja serenidade, haja saco.

Esperei quatro anos para me formar. 48 meses praticamente iguais, com muita leitura de livros e jornais, provas cacetes, notas baixas e altas, professores bons e ruins, idas e vindas sacolejando no ônibus, amigos, colegas, não amigos, gente indiferente, e o desejo profundo de acabar com aquilo logo, não ter mais a alta despesa da mensalidade e trabalhar. Esperei nove meses para ter um filho. Embora cada momento seja emocionante e cheio de surpresas, é um tempo longo no aguardo de saber o sexo na ultrassonografia e depois, ver o rostinho, as mãos, pés, cabelos, amamentar (delícia!), ver os olhinhos. Com quem parece.

Esperei dez meses para me curar de um câncer. Essa, sim, uma espera pra lá de angustiante. Medo e derpressão se misturam a uma fé inabalável para esperar que a vida retorne, para esperar pelo direito de continuar vivendo, torcer, lutar bravamente. Depois da cura, exames a cada quatro meses. E espera-se mais quatro. Espera-se retomar o fio de uma meada que já se desfez, lá atrás. Espera-se encontrar uma nova meada. E ela vai se desenhando, aos poucos, amém.

Vida que segue. Novas esperas por novos acontecimentos. A ânsia se renova, mas nunca deixa de corroer a alma da gente. Principalmente quando uma promessa está para se cumprir, um pedido está para ser feito, um contrato para ser assinado, uma grana para sair, uma sentença, um botetim médico vindo da UTI, um resultado de exame de DNA, de um concurso, de um prêmio da loteria. Espera-se. E enquanto os fins não chegam, os meios se atropelam. E por aqui, vamos ouvindo “foi cancelado; aguarde para o ano que vem”, fazer o quê? Espera-se.
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