Em 2009, quando fui diagnosticada com câncer de mama, mais duas pessoas sofreram comigo o mesmo problema: minha irmã, que já estava em tratamento contra um tumor no estômago, e minha psicóloga, que me deu a notícia quando me recuperava da segunda sessão de quimioterapia. O câncer que a acometeu era também no estômago e por conta do tratamento duríssimo que sofreria pela frente, minha terapia foi interrompida e nosso contato, a partir daquele momento por telefone, foi ficando cada vez mais escasso.
Em 2010 minha irmã se foi. Um dos mais duros golpes que recebi na vida. Era como minha mãe, um norte, minha melhor e mais valiosa interlocução. Fiquei só; até hoje me sinto em completo abandono. E não creio que possa voltar a ser novamente plena sem ela. Mas, faz parte da vida. Viver sem minha irmã é meu mais novo aprendizado e a cada dia, quando penso nela e choro sua falta, alguma reflexão nova acontece e então sou empurrada a crescer.
Hoje, logo que cheguei ao trabalho, soube que minha ex-psicóloga e amiga já não está entre nós. Partira para o mundo espiritual durante a madrugada, após uma parada cardiorrespiratória. Desabei, confesso. Caminhei a esmo no jardim deste casarão onde trabalho até conseguir respirar profundamente, até o ar finalmente encher meus pulmões e eu me sentir viva. E chorei. Chorei alto. Solucei e cansei. Sentei-me num banco, baixei a cabeça e fiquei, meio que cristalizada.
Minha crença na vida espiritual me dá a tranquilidade de saber que ela estará bem de agora em diante. Mas a vida material, a cultura de que a morte é fim está arraigada na alma, e esta profunda tristeza é inevitável.
Voltei ao trabalho. A concentração virou artigo de luxo em meio a tantas tarefas a cumprir. Não consigo falar; o corpo parece em estado de torpor. E meu pedido de socorro a mim mesma vem por meio da escrita, pelo qual costumo esvaziar a mente para sobreviver aos meus próprios fantasmas mentais.
“Vamos nos encontrar mais vezes; quero muito continuar sendo sua amiga”. Essas foram as últimas palavras que ouvi dela, dias atrás, por telefone, após tê-la visto rapidamente na rua, alegre e faceira. Difícil esquecer.
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