2 de novembro de 2011

Sexo com plateia


Alguns anos atrás, num passeio ao zoológico do Rio (quando ainda pensava que tal programa poderia ser divertido), vimos um casal de leões em pleno ato sexual. Algo raríssimo de acontecer, mas aconteceu, bem ali, diante dos olhos de umas vinte pessoas. Ao terminarem, meu cunhado comentou: “Vai uma dose de uísque e um cigarrinho?”. Risada geral, leão deitou de lado, leoa continuou ali, quietinha, e nós tocamos o passeio. Fiquei pensando nisso muito tempo depois. Se já é difícil o cruzamento de animais em cativeiro, mais complicado ainda é fazer sexo com plateia. Tá bom Giovana, complicado pra você, humana, mulher, ocidental. Bichos fazem isso como e quando querem, e f-se.

Esta história voltou à minha cabeça recentemente, quando, numa pesquisa no Google, caí num site de notícias que trazia uma matéria sobre sexo com plateia, na Inglaterra, mas não entre animais. Já com praticantes por aqui à época (2009), a nova mania nada mais era (e ainda é) do que transar dentro do carro, com um animado grupo de voyeurs do lado de fora. Quanto mais gente, melhor. Não sei se isso é moderno, se sou antiquada, se sou de outro planeta, se eles é que vieram de outro mundo. Quero dizer é que jamais conseguiria transar com alguém por perto, assistindo. Houve ocasião em que tirei cachorro do quarto por não me sentir à vontade! (Tudo bem, pode rir).

Acho que por isso não assisto a filmes pornôs. Primeiro porque conheço o que é um set de filmagem e não consigo viajar naquelas imagens sabendo o montão de gente e a parafernália montada para a gravação de uma cena. E, vamos combinar, tem coisa mais inverossímil que uma sequência de sexo pornô? Já fui às gargalhadas com um cara que não conseguia passar a língua no lugar certo, numa prova de que os atores sequer têm acesso a um treinamento básico – não sabem o que é e nem onde fica o clitóris. Pior é ver isso acontecer entre mulheres, putz, elas também não saberem, é o fim!

Casais e público que curtem sexo com plateia recebem o nome de doggers. No Brasil, concentram-se em São Paulo, mas há adeptos em número crescente por todos os cantos. A atividade parece ser bem organizada: quem vai se exibir estaciona o carro em local apropriado e combinado anteriormente com o pessoal que vai assistir. A luz interna é acesa – ou os faróis – num claro sinal de que o espetáculo terá início. Então a plateia se aproxima. Não é permitido abrir a porta ou tocar nos protagonistas, a menos que sejam convidados. Neste caso, a senha é a abertura das janelas. Tudo o que acontecer dentro do carro daí em diante deve ser combinado antes. E ainda há quem prefira se exibir no capô ou até mesmo na grama de um parque.

Para tudo!

A gente sabe o quanto ainda se busca de aventura no que diz respeito a sexo, mas, pelo menos pra mim, são práticas de um mundo meio distante. Já naturalizaram muitas coisas do tipo, tanto que nem me sinto confortável em confessar minha estranheza. Sinceramente, se isso significa ser, digamos, quadrada, pode me embalar, que vou caber num caixote.

Recentemente, na crônica “Anônimo na Balada?”, publicada aqui no blog, um leitor também anônimo deixou o seguinte comentário: Conheço um caso de uma mulher muito séria que vive falando bem do marido (essas, podem desconfiar) pois não é que fui fazer segurança (sou policial) de uma casa de swing no RJ e me deparei com ela acompanhada do seu cumpadre e mais dois casais de Volta Redonda? O sigilo profissional me impede de falar nomes mas se alguém soubesse quem são os personagens... são pessoas públicas e bem relacionadas”.

Minha conclusão é que eu, sim, sou de outro mundo.
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9 comentários:

Anônimo disse...

Sempre acompanho o que você escreve, acho você uma mulher muito inteligente e antenada. Sou o policial que deixou um comentário que você reproduziu neste novo texto.
Nas minhas rondas noturnas é muito comum abordar pessoas em carros fazendo sexo, especialmente travestis com homens casados. Acho que neste caso os homens não vão para um motel por considerar que este local é romântico demais para relações que não sejam heterosexuais.Sei lá, mas se você desejar fazer uma matéria especial para alguma revista ou jornal, deixo você me acompanhar numa noite de serviço pelos lados do aterrado você vai se espantar.
O que fazemos, quando isso acontece? Solicitamos ao "casal" que vista as suas roupas e orientamos para o perigo que é ficar a madrugada dentro do carro. Jamais prendi ninguém por isso, apenas oriento já encontrei inclusive amigos meus e gente também muito conhecida na cidade. Faz parte do meu trabalho, então, não tento entender, apenas compreendo.
Um abraço pra ti, continue me brindando com seus textos de ótima qualidade.

Carol Bentes disse...

Huahuhaha, foi engraçado ler essa crônica toda Giovana!!

É como eu sempre digo, filmes pornôs são feitos para homens! São sempre filmados na perspectiva deles, de forma a agradá-los visualmente. Aí entra aquela história de que na tv é tudo de mentirinha. Pois então, até o sexo. Pq se fosse de vdd mesmo, para os "atores" fazerem direito e sentirem prazer, não ia ter ângulo que favorecesse os telespectadores a ver!

Pergunta: E se esses doggers estiverem com mto calor dentro do carro, não podem abrir nem um pouquinho a janela, sob o risco de mais gnt entrar na jogada?!? rs

Fernando de Barros disse...

Cara amiga
Vamos começar pelo fim!
Em primeiro lugar você não é do outro mundo, nem eu, nem a maioria das pessoas que pensam e age como você. Do outro mundo são estas pessoas que precisam se expor para se sentirem gente. Comportamento este explicado pela psiquiatria.
Em segundo lugar, indo para o inicio da matéria, não há nada pior do que “plateia” na hora do “vamos ver”. Qualquer coisa atrapalha, até mesmo cachorro.
E voltando ao final, tenho um cunhado que trabalha, em São Paulo, numa casa desta igual ao “anônimo” por você mencionado. Realmente o que há de pessoas “santas” que frequentam este lugar daria uma excelente crônica.
Uma dica, em São Paulo, há dois famosos que não saem de lá. Um deles é um tecnico famoso de futebol. O outro é um veterano humorista, lá das bandas paulistas e que... ah, deixa para lá.
Beijos

valdir carleto disse...

Bem interessante seu tema de hoje. O início me fez lembrar uma piada um tanto quanto verdadeira. A professora levou uma turma ao Zoo e quando passavam pela jaula dos leões, flagraram o macho e a fêmea em pleno cruzamento. Eram alunos muito novos e um perguntou: "Fessôra, o que é que estão fazendo?". Constrangida, a professora inventou de dizer: "É que o leão machucou a patinha e a leoa está ajudando ele a andar".
Mais espertinho, outro aluno retrucou: "Bem que minha vó diz que quem ajuda os outros sempre acaba levando no rabo"...

Joiva Egalon disse...

Ilário isso tudo, claro.
Mas saiba, Giovana, que não é só vc que é de outro mundo não, EU também sou.
Acho todo o ato sexual como uma coisa particular para o casal, tanto hetero quanto homossexual, e não público como muitos goatam.
Porém cada um com o seu gosto, né?

CS Empreendimentos Digitais disse...

Se a gente fosse falar de todas as formas e taras sexuais iríamos ficar por aqui horas e a Giovana teria material de sobra pra publicar um livro sobre o assunto! Rsrsrsr!
Confesso que gosto de algumas estripulias, mas tem coisa que não dá ne?! Já me chamaram mais de uma vez pra ir o um clube swingue! Nunca tive coragem... rsrsrs!
Mas o fato é que no sexo existem mais bizarrices que julgam a nossa vã e tímida filosofia...

Jaqueline Evelin disse...

Ai que loucura!!! Modernidade e liberdade, são duas palavras que estão sendo levadas ao pé da letra, e os limites estãos endo esquecidos ou ignorados. Estamos vivendo em tempos onde tudo é permitido e nada é proíbido...onde vamos parar? beijos saudades

Insight cultural disse...

Como sempre você tira suco natural de qualquer arvore. Que delícia ler seus textos!!!

Do outro mundo é a maneira como é levada a liberdade de expressão hoje em dia...

Somos obrigados a ver, ouvir e presenciar atos que mesmo para os mais "descolados", ou "mente aberta" assusta.

Luciano Neto disse...

Giovana
Eu assistia muito filme pornô na adolescência, hoje em dia eu assisto um ou dois no máximo, e sempre que o filme termina eu penso: "que merda, joguei dinheiro fora". ( isso é que é o pior!)

Não acho que vc seja quadrada. Pelo contrário, tb penso como vc e acho que hoje em dia elas só querem sexo, amor que é bom, nada. Sem generalizar, mas falo por experiência própria. Beijão!